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Linguagista

«Jogo da Língua»

Muito me conta...

 

 

      Para que o concorrente do Jogo da Língua dissesse qual o plural de «líder», Sandra Duarte Tavares achou que nada melhor do que perguntar «o plural da frase» «Essa empresa é líder de mercado em Helsínquia». «Nós hoje temos uma questão de morfologia flexional no nosso Jogo da Língua», pontificou a «nossa especialista em língua portuguesa». A sério?

 

[Texto 1503]

«Incidências» fora do futebol

De surpresa

 

 

      Do futebolês todos já o conhecíamos, mas agora vejo-o aqui estampado referido a um programa de televisão. No dia seguinte, toda a gente queria discutir com o autor as «incidências» do programa da véspera. Não será o termo correcto «peripécias», «pormenores»?

 

[Texto 1502]

E «zé-ninguém» tem plural?

Na prática, porém

 

 

      Qual é o plural do substantivo zé-ninguém? Talvez não requeira muita reflexão nem pesquisa, mas qualquer leitor já leu, pelo menos uma vez na vida, o próprio singular mal grafado: Zé-ninguém. E, com sorte (ou azar, depende), sem hífen. O plural correcto, dirá qualquer prontuário ou gramática, é zés-ninguém, uma vez que o pronome indefinido não admite plural. Fora da teoria — encontra-se nos livros. De certeza, porque tenho aqui uma anotação, numa obra de Agustina Bessa-Luís, e provavelmente, do que me diz a memória, também em António Lobo Antunes. Memória de elefante. O título? A minha. Não numa edição ne varietur do autor, que eu ainda estou para ler.

      «César Wiesel era cidadão francês, expunha em galerias conceituadas e até vendia os quadros a coleccionadores que tanto investiam na pintura como em diamantes e que, entre os artistas em que farejavam a celebridade, tinham um enorme número de zés-ninguéns» (Os Meninos de Ouro, Agustina Bessa-Luís. Porto: Guimarães Editores, 1985, 6.ª ed., p. 214).

 

[Texto 1501]

Pontos cardeais no AOLP90

Absolutamente

 

 

      «Os investigadores sugerem que a espécie se tenha expandido para a Europa a partir do Norte de África devido ao aumento da temperatura da superfície do mar, nos últimos anos, no contexto das alterações climáticas» («Mexilhão africano chega ao Algarve», Diário de Notícias, 11.05.2012, p. 30).

      Li agora com mais atenção a consulta em que D’Silvas Filho teoriza acerca do duplo significado do advérbio «absolutamente» na norma do AOLP90 sobre os pontos cardeais: «Em resumo, aceitando o duplo significado de Norte para orientação e região, nada me impede de escrever: “O Minho localiza-se no norte de Portugal” e O Minho faz parte do Norte (região), de Portugal.”» Ah, estou a ver, com uma vírgula... Não há aqui ambiguidade nem reserva mental. Está tudo à vista.

 

[Texto 1500] 

Tradução: «additionally»

Parece português

 

 

      Nas traduções de originais ingleses, há sempre muitos gatos escondidos com o rabo de fora. Está bem, muitas vezes com o corpo todo. Uma coisa que me irrita, por exemplo, é ver, sobretudo em textos não literários, a abundância de adicionalmentes, que por ali ficam como coisa lidimamente portuguesa. Additionally... Os burocratas de vistas curtas acham tudo bem, claro.

 

[Texto 1499]

Estas gralhas que vos deixo

E alguém se rala?

 

 

      «A Universal Studios no Japão, em parceria com a Warner Bros. e a Universal Parks & Resorts, anunciou ontem a construção de um novo parque temático dedicado ao universo do feitiçeiro Harry Potter. A nova atração japonesa é a terceira a ser anunciada, depois de o primeiro parque ter aberto em Orlando, na Florida em 2010» («Novo parque temático», Diário de Notícias, 11.05.2012, p. 49).

      Simples lapso ortográfico, mas grave — como se diz em certa obra. O Diário de Notícias está inçado de gralhas deste e de todos os tipos. Empeço, por vezes, à leitura fluida e péssimo exemplo, para mais num «jornal de referência».

 

[Texto 1498]

«Soalheiro/solarengo»

Escolhem os piores

 

 

      «Num dia quente e solarengo, a atriz Ino Menegaki, que desempenhou o papel de Grande Sacerdotisa, acendeu a chama e depois entregou a tocha olímpica a Spyros Gianniotis, nadador grego nascido em Liverpool (Inglaterra) que no ano passado se sagrou campeão mundial dos 10 quilómetros em águas livres» («Tocha olímpica em viagem de 78 dias para Londres», Madalena Esteves, Diário de Notícias, 11.05.2012, p. 39).

      Madalena Esteves, percebe-se logo, não tem estado por cá nos últimos anos. «Num dia quente e soalheiro», deveria ter escrito. Por azar, quando consultam dicionários, o que há-de ser tão raro como parece, escolhem logo os piores.

 

[Texto 1497]