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Linguagista

Prefixo «anti-»

Há sete anos a dizer o mesmo

 

 

      «O ‘Cerco ao Congresso’ – que concentrou os participantes de manifestações anti-austeridade partidos de vários pontos da cidade – estava marcado para as 18.00 (17.00 em Lisboa), mas a essa hora ainda eram poucas as pessoas que se concentravam na praça de Neptuno, levando a crer que a manifestação poderia decorrer pacificamente» («‘Cerco ao Congresso’ provoca caos em Madrid», Catarina Reis da Fonseca, Diário de Notícias, 26.09.2012, p. 23).

      Este erro não é cíclico: é continuado, permanente. Estatui o Acordo Ortográfico de 1990 que não se emprega o hífen «nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos». Logo, antiausteridade.

 

[Texto 2147]

«Pontos percentuais/percentagem»

Porque é cíclico

 

 

      «A queda de François Hollande é histórica. Em quase 50 anos, poucos presidentes conseguiram desagradar tanto aos franceses nos primeiros quatro meses de mandato como o atual chefe do Eliseu. Entre agosto e setembro, o Presidente socialista caiu onze pontos percentuais nas sondagens: em agosto, 54% dos franceses diziam-se satisfeitos com o trabalho de Hollande, mas durante este mês a percentagem caiu para 43%» («Popularidade de Hollande cai a pique em 4 meses», Catarina Reis da Fonseca, Diário de Notícias, 24.09.2012, p. 23).

      Se houve melhorias nos meios de comunicação, e em especial nos jornais, esta foi uma delas: a compreensão de que ponto percentual e percentagem são conceitos relacionados, sim, mas diferentes. A diferença entre percentagens, que é um valor absoluto, expressa-se por meio desta unidade, ponto percentual. Se se dissesse que o apoio a François Hollande tinha baixado 11 %, tal significava que tinha descido, se o valor fosse o mesmo, de 54 % para 48,06 % (54 – 11 % = 5,94; 54 – 5,94 = 48,06). Se melhorou, porque estou a perder tempo a dizê-lo? Porque quase todos os erros são cíclicos. Daqui a uns anos, se não formos alertando, vê-lo-emos de novo campeando por aí.

 

[Texto 2146] 

«A possibilidade de se a ensinar»

E ouvi-la, nunca

 

 

      «Para Eduardo Lourenço, o questionamento do filósofo [Manuel Maria Carrilho] cuja obra vai apresentar representa “um questionamento hipercrítico da nossa época, mesmo que continue a fazer as eternas perguntas da filosofia”. Entre as questões, diz, está a identidade da própria filosofia nos tempos que correm, bem como a possibilidade de se a ensinar: “Estes são alguns dos problemas que o preocupam e que estão sempre presentes na obra.”» («Obra integral de Carrilho é apresentada amanhã», João Céu e Silva, Diário de Notícias, 26.09.2012, p. 48).

      É muito raro, raríssimo mesmo, ver-se esta construção, que já aqui, e por diversas vezes, foi tratada. Se não houvesse nada mais contra, pelo menos a relativa dificuldade em pronunciá-la, por não ser propriamente fluida, já pesaria a desfavor.

 

[Texto 2145]

Falta de critério

Ou de revisão?

 

 

      «O primeiro porta-aviões da marinha chinesa, um navio da antiga frota soviética, batizado com o nome de Liaoning, após anos de testes e reparações, entrou ontem ao serviço, concretizando “uma importante decisão estratégica” do país. A China era o único dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que não tinha um porta-aviões, realçou a agência noticiosa oficial chinesa. O Liaoning tem cerca de 300 metros de comprimento» («Porta-aviões chinês entra ao serviço», Diário de Notícias, 26.09.2012, p. 27)

      Mas não escreviam «Marinha»? Escreviam pois, que eu lembro-me, até porque foi ontem: «Enquanto o seu pai, que combatia nas forças aéreas polacas, foi retirado de La Rochelle por uma frota da Marinha britânica, Tereska também conseguiu escapar, graças a um visto passado pelo cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes» («Escritora da resistência que Aristides ajudou a fugir aos nazis», Diário de Notícias, 25.09.2012, p. 43).

 

[Texto 2144]

 

«Híperes» e «súperes»

Desistiu a meio

 

 

      «Porto, Vila Real e Lisboa são os distritos onde se gasta menos comprando mais, situando-se no lado oposto Guarda, Bragança e Viseu, que já o ano passado eram os mais careiros. O estudo não tem em conta campanhas promocionais nem os cartões de fidelidade, mas os técnicos aconselham o seu uso. As lojas online perderam competitividade em relação ao ano passado, sendo 3% mais caras do que os híperes e os super» («Jumbo é o mais barato e permite poupar 435€/ano», Céu Neves, Diário de Notícias, 26.09.2012, p. 11).

      Ninguém em Portugal terá tratado mais vezes desta questão do que eu. Como palavras plenas, não apenas precisam de acento, como o plural é regular: híper/híperes e súper/súperes.

 

[Texto 2143]