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Linguagista

«Castela Velha»

Talvez seja

 

 

      Gonçalo Ribeiro Telles: «Havia o trabalho de estirador e as viagens. O Caldeira Cabral todos os anos levava um pequeno grupo de alunos a visitar a universidade na Alemanha para aprender o que os paisagistas andavam a fazer. A minha primeira viagem foi de Volkwagen até Hanôver. Atravessámos a Espanha, pelas estradas de Castela Velha, a França e depois subimos o Reno. Imagine o que se vê! A Alemanha era uma paisagem destruída pela guerra. Estavam a reconstruir tudo e tivemos oportunidade de assistir. A referência e o estudo comparativo são fundamentais. Estas coisas deram-me uma leitura do meu território» («“Nunca saí deste lugar. Tive essa sorte”», Ana Soromenho, «Revista»/Expresso, 20.04.2013, p. 51).

      Já aqui tinha andado à volta deste topónimo. Ei-lo aqui sem a: não Castela a Velha, mas Castela Velha. Verdadeira variante ou economia de quem fala?

 

[Texto 2833]

Léxico: «taradice»

Infindável

 

 

      «Ao reaparecimento das motos vintage inglesas aparecerem [sic] as café racers — que são motos ‘customizadas’ ao estilo ‘bife’ dos anos 60/70. Não é um mero epifenómeno. É a taradice do momento» («O triunfo das café racers», Luís Pedro Nunes, «Revista»/Expresso, 20.04.2013, p. 66).

      De novo, quase não acreditamos: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo «taradice».

 

[Texto 2832]

Etimologia de «dinheiro»

Está tudo explicado

 

 

      «[Jacques] Ellul recorda justamente que a raiz hebraica do termo ‘dinheiro’ deriva do verbo ‘desejar’, ‘ansiar por alguma coisa’. Quem quer que se ponha a amar o dinheiro nunca se dará por satisfeito: pequena ou grande, nenhuma quantidade lhe parecerá suficiente. Desejará sempre mais e mais, transformando esse desejo na procura alucinada de uma eternidade tangível» («O dinheiro», José Tolentino Mendonça, «Revista»/Expresso, 20.04.2013, p. 6).

 

[Texto 2831]

Plural de «rês»

Olho nisso

     

      Chegou esta semana às bancas, vi anteontem numa reportagem do Telejornal, o Jornal Sénior, que vai sair de quinze em quinze dias e procura informar os mais idosos, uma parte cada vez maior da população portuguesa. Às tantas, ouve-se alguém da redacção dizer: «Eu, quando vi que tinha palavras cruzadas, fiquei feliz.» Então, cuidado com a página 46, com a 3 horizontal, que diz: «Diz-se das rezes que têm chifres pequenos ou quebrados.» Isto, pela televisão, depois hei-de ler. Erro muito comum, esse. Está bem, os substantivos terminados em as e es tónico, os, us, r e z pluralizam com o acrescento de es, mas as consoantes do singular não se transmutam, nem o plural de noz passa a noses, nem o de rês a rezes. Não é assim?

 

[Texto 2830]

«Em ordem a»

Depende, depende

 

 

      D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima: «[...] ver que é todo o povo que sofre e que diante deste sofrimento, deste crescimento da própria pobreza é necessário um novo impulso em ordem a encontrar um consenso básico fundamental para todos sairmos da crise, por conseguinte é também um apelo à liderança da Europa [...]» (Telejornal, 12.05.2013).

      A construção «em ordem a» é um anglicismo sintáctico? Uns afirmam que sim, outros, como Mário de Carvalho, que nem pensar: «Recusei-me, durante anos, a usar a expressão “em ordem a” porque um mestre de Português, fortemente repugnado, a rejeitou como anglicismo espúrio. Depois encontrei-a, repetidamente, em Francisco Manuel de Melo...» Creio que este escritor leu mal. No sentido de «a fim de», «para», como na frase do bispo de Leiria-Fátima, é inequivocamente anglicismo; no sentido de «relativamente a», é construção clássica.

 

[Texto 2829]