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Linguagista

Anglicismos na linguagem científica

Seleccionados pelo acaso

 

 

   «Num artigo de opinião aparecido no último número do Expresso [23 de Agosto, p. 34], insurge-se o Prof. Gentil Martins com a utilização generalizada de anglicismos na linguagem científica biomédica, dando como exemplo a designação de Medicina Baseada na Evidência. Porque este é um assunto relevante, gostaria de defender a ideia que a utilização de anglicismos na comunicação científica pode ser perfeitamente justificável em certos contextos cuidadosamente selecionados, não significando isso menos respeito pela língua portuguesa (como afirma o Prof. Gentil Martins). […] Defendo sempre a língua portuguesa nas nossas publicações, em que procuro escrevê-la com o máximo de rigor e elegância. Mas mantenho-me convicto de que, em circunstâncias especiais e cuidadosamente selecionadas, a utilização de anglicismos na linguagem científica é necessária, já que aumenta quer a sua clareza quer a sua compreensão» («O uso de anglicismos na linguagem científica», António Vaz Carneiro, Expresso, 30.08.2014).

      Tudo leva a crer que a ideia repetida é a mais relevante. A pergunta que se impõe então, a meu ver, é esta: quem selecciona esses anglicismos indispensáveis? Todos sabemos a resposta: ninguém selecciona nada, as coisas acontecem mais ou menos aleatoriamente. Além disso, que tem que ver o uso de um anglicismo na designação de um ramo da medicina com o uso de anglicismos em artigos científicos? Muito pouco.

 

[Texto 5003]

«Tratar-se de»

Pobres espectadores

 

 

      Jornalista Cristiana Freitas: «Mais de 1300 desempregados realizaram actividades de apoio às florestas, em Julho deste ano. O Instituto de Emprego e Formação Profissional revela que se tratam de pessoas inseridas na actividade socialmente útil, uma medida prevista para os beneficiários de subsídios do Estado» (Bom Dia Portugal, 30.08.2014).

    Não aprendem, está visto. E haver um erro logo no nome do programa (que a arrogância não permite corrigir) não ajuda nada, acho eu. É mau augúrio. (Mas não é etimologicamente obsceno, o que está fora de cena, porque está bastante presente.)

 

[Texto 5002]

«Termo/término»

A academia desavinda

 

 

      «Mas ao contrário do tema anterior, em matéria de política de alianças e de reforma do sistema político é possível comparar AC e AJS, e tal pode ter consequências fundamentais em termos do posicionamento ideológico do PS. Primeiro, temos a capacidade de AC para promover entendimentos à esquerda na CML. Primeiro, fez uma coligação minoritária com BE, 2007-2009, e com os Cidadãos por Lisboa/CPL (o PCP recusou sempre, daí a solução minoritária), a qual foi denunciada antes do término do mandato pelo Bloco» («As primárias no PS, a reforma institucional e a ideologia», André Freire, Público, 27.08.2014, p. 38).

      Vital Moreira, no blogue Causa Nossa, não gostou: «Nos últimos tempos generalizou-se na linguagem coloquial o uso do vocábulo “término” (que significa rigorosamente limite territorial ou espacial, em alternativa a “termo”) para designar também o fim de um prazo ou de um processo (para o que o vocábulo correto é “termo” ou “conclusão”).
      Todavia, ao ler o texto de um professor universitário hoje num jornal diário (“término de um mandato”)[,] verifico que a praga já contaminou a academia. Pergunto: qual a necessidade de criar mais uma confusão terminológica?!»

 

[Texto 5001]

Não é raro haver pior

E vão 5000

 

 

      «São negros ou afro-americanos, como referem os census, a maioria dos que substituíram os europeus na imigração pós-industrial em Newark onde só 12% da população com mais de 25 anos é licenciada» («Roth nunca saiu daqui», Isabel Lucas, «Ípsilon»/Público, 20.06.2014, p. 26).

      Já vimos mais de uma vez essa coisa abstrusa que é escrever e dizer «o Censos». Eis agora uma variante ainda pior.

 

[Texto 5000]

Numeração romana

Errado, como sabemos

 

 

      «A nossa IIª República tem círculos distritais proporcionais e nada
tem impedido os diretórios de os encher de pára-quedistas. A razão por que é necessário ser cuidadoso com este argumento é porque os poderosos também o usam para não reformar nada» («Más boas ideias», Rui Tavares, Público, 25.08.2014, p. 40).

 

[Texto 4999]

Tecto do Mundo

Com maiúsculas, pois claro

 

 

      «No Tecto do Mundo, como é conhecido o planalto mais alto da Terra, que ocupa a maior parte do Tibete, a escassez de oxigénio não é problema para os seus habitantes tibetanos» («A genética explica como os tibetanos de adaptaram a grandes altitudes», Teresa Firmino, Público, 25.08.2014, p. 24).

 

[Texto 4998]

Léxico: «denisovano»

Sempre a crescer

 

 

  «Já em Julho, outro estudo, na revista Nature, trouxe revelações surpreendentes sobre a adaptação genética dos tibetanos às altitudes: tinham herdado uma mutação genética, também ligada aos glóbulos vermelhos e ainda à hemoglobina, de uma espécie de humanos desaparecida há 30 mil anos — os denisovanos» («A genética explica como os tibetanos de adaptaram a grandes altitudes», Teresa Firmino, Público, 25.08.2014, p. 24).

    Não estava antes, mas por sugestão minha já o podemos encontrar no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 4997]

«Meet», de novo

Todos os dias, agora

 

 

      Pronto, já passou a fazer parte da paisagem jornalística: «Dois dos quatro detidos nos incidentes do encontro de jovens (meet) que se realizou na passada quarta-feira e terminou com desacatos no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, têm hoje julgamento sumário marcado por resistência e coacção sobre agentes da autoridade. A organização SOS Racismo condenou, entretanto, a actuação da PSP e exigiu ao Ministério da Administração Interna que “apure todas as responsabilidades”» («SOS Racismo pede ao MAI que investigue acção da polícia no encontro de jovens em Lisboa», Alexandra Campos, Público, 25.08.2014, p. 8).

 

[Texto 4996]

«Questor», uma acepção nova

Agora é que está

 

 

     Questor do Parlamento Europeu. É cada um dos cinco deputados eleitos pelo plenário para tratarem de questões administrativas e financeiras relacionadas com os próprios deputados. Não estava antes, mas por sugestão minha já o podemos encontrar no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Mesmo de férias trabalho.

 

 

[Texto 4995]

Vão mazé...

Seria inesgotável

 

 

    Só agora é que vi que alguns dicionários registam «né», contracção de «não» com «é». Para não ir mais longe, então também deviam registar «mazé», junção de «mas» com «é». (Que, estranhamente, já vi grafada com apóstrofo, «mas’é»... Está a marcar a elisão de quê, neste caso? Talvez do bom senso.) Tem de se ser mais criterioso, ou deixarão de ser dicionários para passarem a ser repositórios de tudo o que se diz, seja lá como se diga. Porque não registar, pois, palavras com prolongamento de letras com efeitos prosódicos? Olaaaaaaaaaá! Agueeeeeeeeeeenta! Uma mina inesgotável, esta.

 

[Texto 4994]