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Linguagista

Como se pronuncia «líderes»

Estropiam a língua

 

 

      Carlos Daniel, no Jornal da Tarde de ontem, usou a palavra «líderes», e a pronúncia foi aquela a que os nossos jornalistas nos querem habituar: /lídres/. Com o emudecimento completo, quase desaparecimento, na verdade, do e da segunda sílaba. A sílaba tónica, de facto, é a primeira, -lí-, mas a penúltima é acentuada, pois não há aqui nenhum fenómeno fonético como a metafonia. Basta lembrarmo-nos de palavras semelhantes, com a mesma vogal: cadáver(es), cárter(es), díspar(es), dólar(es), éter(es), repórter(es), revólver(es)… Como pronuncia Carlos Daniel o plural destas palavras? Ora aí está. Um jornalista tem obrigação de saber estas coisas sobre o seu instrumento de trabalho, a língua. Vá, usem o Facebook e digam-lhe.

 

[Texto 5034]

«Fluido/fluído»

Ditongo ou hiato

 

 

      «Round 1. Nos debates 
há questões técnicas
 que influenciam muito 
a performance dos candidatos – por exemplo, só o facto de Seguro ter falado no primeiro frente a frente [sic] a uma velocidade muito superior à de António Costa desequilibrou o debate a seu favor. Seguro disse mais coisas, com mais convicção
 e de forma mais fluída do que
 um sonolento Costa. É natural:
 a postura Calimero, na sua indignação empertigada, é sempre fotogénica» («Vitória por KO após ida ao tapete», João Miguel Tavares, Público, 11.09.2014, p. 48).

      A fotogenia ajuda, mas o conhecimento da língua é mais importante: é fluida e não fluída. E claro que se lêem de maneiras diferentes.

 

[Texto 5033]

«Vai para a Mitra»

Voltou a Mitra

 

 

      «O albergue acabou por ser extinto em 1960, mas ainda
 hoje, entre os lisboetas, muitos recordam a expressão “ir para
 a Mitra”, usada por vezes como ameaça, ou até insulto, dado estar associada a uma situação de decadência, que suscitava inevitável repulsa ou receio. Uma expressão que era também usada para afastar quem incomodava. O “vai para a Mitra” era usada como sinónimo de “não me chateies”. Mas só em Lisboa» («De fábrica de cortiça a asilo para mendigos», M. S., Público, 11.09.2014, p. 17).

 

[Texto 5032]

Léxico: «ptilocerco»

Alguém tem de pensar por eles

 

 

      Numa tradução do francês, apareceu-me um musaranho, o «ptilocerque de Low (Ptilocercus lowii)», que o tradutor achou que em português não podia ser diferente. Enfim, a tontice do costume. É verdade que não está, tanto quanto vi, em nenhum dicionário, mas parece-me evidente que em português só pode ser ptilocerco.

 

[Texto 5031]