Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

«Alentejanices»?

Mal passado

 

 

   «O livro será traduzido para inglês?», pergunta João Céu e Silva a João Magueijo. «Só não o farão se der uma resposta negativa, porque já tive duas ofertas que me obrigaram a pensar. Como sei que este não é um livro fácil no que respeita à linguagem, às referências da minha avó e das alentejanices – que ficarão perdidas –, creio que se tornará uma imitação barata da literatura colonial inglesa do século XIX, só que escrita em português» (Diário de Notícias, 23.09.2014, p. 40).

   Como o outro que queria dizer «sanha», não quereria este dizer «alentejanismos»? Talvez Montexto, que leu os Bifes mal Passados e muito se divertiu com a bifalhada, nos possa dizer.

 

[Texto 5073]

Léxico: «aerogel»

Deste lembraram-se

 

 

      «A proposta chegou da ESA, em setembro do ano passado, e a Active Aerogels, uma jovem empresa de tecnologias espaciais de Coimbra, ligada à universidade, aceitou o desafio: o de desenvolver um aerogel para isolamento térmico de foguetões aplicável por spray» («O spray isolante para foguetões que foi criado em Coimbra», Filomena Naves, Diário de Notícias, 23.09.2014, p. 23).

      Até ontem, desconhecia este termo, que está nos dicionários. Está, pelo menos, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 5072]

Ditado mal pontuado

Ontem, levou as fontes

 

 

      «Só nos últimos 22 dias choveu aproximadamente duas vezes mais do que é normal para o mês inteiro. O meteorologista Costa Alves explica que o episódio que se verificou ontem “faz parte do nosso clima”. “Há um ditado popular que diz: setembro, [sic] ou seca as fontes ou leva as fontes. Ou é muito chuvoso ou muito seco.”» («19 litros de água por metro quadrado», Joana Capucho, Diário de Notícias, 23.09.2014, p. 5).

    Não conhecia este ditado. (Mas não fico tão grato, Joana Capucho, que não diga que a vírgula ali é erro crassíssimo.)

 

[Texto 5071]

Regência do verbo «preferir»

Chumbadas, aos pares

 

 

      «Na sessão de abertura do novo ano escolar no Conselho Nacional de Educação (CNE), Passos Coelho defendeu que o sistema educativo “não pode andar aos solavancos dos impulsos reformistas que cada Governo faça” e que é preferível ir introduzindo gradualmente pequenos aspectos de uma grande reforma do que querer fazer tudo de uma vez» («“Aumentar a salsicha educativa” não significa “bom resultado educativo”», Maria Lopes e Maria João Lopes, Público, 23.09.2014, p. 12).

    Isso de duas cabeças pensarem melhor do que uma não é axiomático, como sabem. É preciso ver caso a caso, e neste caso pensaram mal: o verbo «preferir» rege a preposição a e não a construção «do que». Perdoável numa auxiliar educativa, imperdável em duas jornalistas.

 

[Texto 5070]

«Senha» por «sanha», lenho» por «lanho»

Lisboetices e incoerências

 

 

      «Há 15 dias, no Expresso,
 M.S.T. afirmou ter sido o
 Banco de Portugal quem [sic], com
 a cumplicidade do Governo, “afundou o navio”. No último sábado, voltou à carga com terríveis profecias: “Um dia alguém há-de escrever a história desta inimaginável destruição de valor, que num mês e meio conseguiu reduzir a quase nada tudo o que um banco com um século e meio de existência tinha de bom.” Mas como aquele “um dia” pode estar ainda muito longe, M.S.T. tratou já de avançar com a sua versão da “história”: “A senha
 [sic — é possível que ele quisesse escrever “sanha”] de castigar os Espíritos sobrepôs-se a qualquer preocupação com o futuro do banco e dos seus clientes”» («Qual é a lógica, Miguel?», João Miguel Tavares, Público, 23.09.2014, p. 48).

      Confundem «senha» com «sanha», «lenho» com «lanho», e outras que tais. Pode ter que ver com a forma como falam. Há uns meses, a custo contive o espanto quando a minha filha me veio dizer que a professora tinha corrigido os colegas — quase todos — que diziam «treuze». (Ah, sim, o primeiro sic é meu, caro João Miguel Tavares.) O pior é que, na maioria dos casos, são os professores que castigam os espíritos quando pronunciam «treuze».

 

[Texto 5069] 

Léxico: «pluridocência»

Se está um, tem de estar o outro

 

 

   «“Se, em média, cada docente tiver 100 alunos (calculando-se esse valor tendo em conta as situações de monodocência e pluridocência), cerca de meio milhão ainda não terá todos os seus professores”, justifica [a Fenprof]» («Meio milhão de alunos não têm todos os professores, diz Fenprof», G. B. R., Público, 23.09.2014, p. 12).

   Mais um caso: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista «monodocência» (por vezes, também se diz, e quase apenas no Brasil, «unidocência»), mas esqueceu-se de «pluridocência».

 

[Texto 5068]