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Linguagista

«Rendimentos percepcionados»?

Entre aspas

 

 

      «Em  2000, numa nota manuscrita remetida ao auditor da Assembleia
 da República e que acompanhava as declarações de rendimentos requeridas, Pedro Passos Coelho escreveu: “Entre 96 e 99 constam rendimentos de trabalho independente por mim percepcionados e respeitantes a colaborações ‘jornalísticas’ na Antena 1, jornal Público e semanário O Independente”» («Passos Coelho no Público», Público, 27.09.2014, p. 3).

      Tudo verdade, ao que parece, para relativo alívio do País, mas já então se queria salientar pela linguagem. Para futuro.

 

[Texto 5094]

Sobre «pré-canceroso»

Tem de ser revisto

 

 

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista, e muito bem, que pré-canceroso é o «que pode tornar-se canceroso». Mas, para o Dicionário de Termos Médicos da mesma editora, já é o «que evolui para um cancro». De probabilidade transformou-se em certeza. Também há o termo, e o conceito, «pró-canceroso», que não vejo em nenhum dicionário.

 

[Texto 5093]

Sobre «mole»

Todos, ou está incompleto

 

 

      Então o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não devia registar os múltiplos e os submúltiplos de mole (mol)? Milimole (mmol), micromole (µmol), nanomole (nmol), picomole (pmol) e quilomole (kmol)... Se o faz para o grama, é claro que sim, devia.

 

[Texto 5092]

«Semana sim, semana não»

Dúvidas miudinhas

 

 

    «Normalmente, ele [crítico literário] não deseja escrevê-la, e a produção de textos fragmentários, semana-sim semana-não, transforma-o, ao fim de pouco tempo, na figura oprimida de roupão no corpo que descrevi no início deste artigo» (Livros & Cigarros, George Orwell. Tradução de Paulo Faria. Lisboa: Antígona, 2010, p. 37).

      O único «sim» que conheço com hífen é «sim-senhor». Escreve-se, como me parecia óbvio até há cinco minutos, «semana sim, semana não». Como «porta sim, porta não», «dia sim, dia não», etc.

 

[Texto 5091]

Provedor x leitor

E pronto, está tudo dito

 

 

      Ataca o leitor: «Não é meu costume escrever a provedores dos leitores, até porque, de maneira geral, não concordo muito como a função é exercida. Desta vez, porém, não posso deixar de escrever para pedir a sua atenção para o inacreditável título desse jornal. Na terça-feira 16 de Setembro, lia-se no título de um editorial: ‘Um respaldo político ao Banco de Portugal.’Até o meu pobre computador põe um traço vermelho por debaixo da palavra, pois ela não existe em português. É um castelhanismo inútil. Não vou aproveitar para referir os incontáveis pontapés que na Língua vão dando os vossos — e os outros — jornalistas. Já agora, permita-me (...) que chame a atenção dos srs. redactores para que a palavra ‘maturidade’, no sentido de vencimento de pagamento de uma qualquer obrigação financeira, não existe na Língua Portuguesa. É um anglicismo que, creio, foi introduzido por um ministro de má memória. Bem sei que são os economistas, como esse ministro — geralmente pouco dados a conhecimentos gramaticais, ortográficos, etc. —, que começaram a usar esse disparate, mas é verdade que os jornalistas poderiam, e deveriam, evitar o seu uso.”» Defende-se o provedor: «Se destaco este reparo é por mais uma vez registar o cuidado que os leitores manifestam a propósito do tema Língua Portuguesa. Todavia, permito-me dizer o seguinte: Estas palavras, actualmente, estão consagradas no corrente léxico português. Constatei a sua presença no Dicionário da Língua Portuguesa (2009) e no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa (2001). Consultei ainda uma especialista que confirmou a correcção da utilização das palavras» (Público, 28.09.2014, p. 55).

 

[Texto 5090]

E se relessem?

Mais um encolher de ombros

 

 

      «Centenas de pessoas percorreram, sob o céu estrelado, os caminhos da Batalha do Buçaco. A Fundação Mata do Buçaco (a grafia antiga era Bussaco) promoveu um passeio pela serra, pelos trilhos batidos pelas tropas luso-britânicas, a 27 de Setembro de 1810, para enfrentar os soldados franceses. O fotojornalista Nelson Garrido acompanhou o périplo» («O Buçaco à moda do século XIX», Público, 28.09.2014, p. 56).

    Quem escreveu não releu. Não corresponde à verdade. É antes desta maneira: «A Fundação Mata do Bussaco (que era a grafia antiga)».

 

 

[Texto 5089]