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Linguagista

Sobre «delfim»

Então, vendo bem...

 

      «Lula admite erros mas defende a sua delfim» (João Almeida Moreira, Diário de Notícias, 13.08.2015, p. 34). Mas, João Almeida Moreira, delfim é do género masculino! Solução? Qual havia de ser? Se é masculino, será: «Lula admite erros, mas defende o seu delfim.» Existe o feminino, delfina, mas os dicionários dizem que é a esposa do delfim, e este é no sentido próprio, o herdeiro do trono de França, e não no sentido figurado, presumível herdeiro político. A alternativa é redigir a frase de outra forma: «Lula admite erros, mas defende a sua herdeira política.» E, no entanto, faz lembrar o uso de «benjamim» (substantivo e adjectivo), que, como já aqui vimos, tanto se pode dizer «o benjamim» como «a benjamim».

 

[Texto 6164]

Ortografia: «Cartão de visita/cartão-de-visita»

Esperem: um discorda

 

      «O mais titulado atleta da canoagem portuguesa, medalha de prata nos últimos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 (onde fez dupla com Emanuel Silva), é o cartão-de-visita mais mediático da “vila mais antiga de Portugal”, a “capital do arroz de sarrabulho e do vinho verde”, slogans tradicionais que agora partilham fama com o canoísta» («Onde a pagaia pode ser mais popular do que uma bola», Rui Frias, Diário de Notícias, 13.08.2015, p. 22).

      E eu que pensava que era consensual a grafia deste vocábulo; mas não: há um jornalista do Diário de Notícias que não concorda e usa outra. Ora, as combinações constituídas por nome+preposição+nome não são, com o novo acordo ortográfico, hifenizadas. Infernizada está agora a nossa vida, com esta ortografia esquizofrénica.

 

[Texto 6163]

Léxico: «aquapaisagismo»

Quase nova

 

      «A exposição Florestas Submersas, no Oceanário de Lisboa, foi a última obra do designer japonês [Takashi Amano], considerado pioneiro no aquapaisagismo. Morreu no dia 4 aos 61 anos. O mestre internacional de aquariofilia de água doce deixa uma marca muito própria. Nascido em Niigata, em 1954, Takashi Amano começou por se dedicar à fotografia, em particular de paisagem e natureza, tornando-se depois um especialista na criação de paisagens dentro de aquários, recriando ecossistemas da natureza» («Morreu autor das Florestas Submersas do Oceanário», Marina Almeida, Diário de Notícias, 13.08.2015, p. 42).

  

[Texto 6162]

Sobre o verbo «importar»

Também cozinheiros?

 

      «Muitos outros ditadores foram ainda mais extravagantes, como Mao, que só comia arroz de uma quinta que produzia para seu consumo exclusivo, ou Kim Jong-il, da Coreia do Norte, que mandava ir caviar do Irão e mangas da Tailândia e até importou um cozinheiro do Japão para lhe fazer sushi» («Os ditadores e as suas obsessões com a comida», Filomena Naves, Diário de Notícias, 13.08.2015, p. 24).

   Importar é trazer do estrangeiro, e certamente, na ausência de distinção nos dicionários, se pode referir a bens e a pessoas; aliás, nem é raro usar o verbo com a palavra «mão-de-obra». E, no entanto, há-de ser raro encontrá-lo referido a pessoas.

 

[Texto 6161]

Sobre «dia-a-dia»

Como é, pode saber-se?

 

    «As próximas eleições presidenciais voltam a marcar o dia-a-dia do PS» («António Costa protege candidatura de Sampaio da Nóvoa», João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 13.08.2015, p. 11).

    Com o novo acordo ortográfico, a grafia do substantivo dia-a-dia passou a não ter hífenes: dia a dia. Ou já estaria consagrada a grafia com hífenes? É que o n.º 6 da Base XV do Acordo Ortográfico de 1990 estabelece que nas locuções de qualquer tipo não se aplica o hífen, a não ser em palavras cujo uso já esteja consagrado. O jornalista entende (?) que a forma hifenizada tinha uso consagrado, e por isso continua a usá-la; os dicionaristas entendem o contrário, e por isso escrevem-na sem hífenes. Em suma, cada um escreve como quer (é o desacordo) e todos têm razão (é o acordo)... Nunca houve tantas dúvidas sobre a ortografia, isso sim.

 

[Texto 6160]