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Linguagista

Léxico: «formiato/formamida/metanamida»

A ciência esquecida

 

      O caso conta-se em poucas palavras: um professor da Universidade da Florida, Fernando Uribe-Romo, conseguiu duplicar, num material sintético chamado estrutura metalorgânica, o processo de fotossíntese, feito na Natureza por plantas com clorofila, o que poderá, não apenas reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, como também produzir energia. Usando uma lâmpada LED, lê-se no Motor 24, «o material sintético transformou o dióxido de carbono em formiato (versão iónica do ácido fórmico) e formamida (amido também derivado do ácido fórmico), ambos usados em aplicações agrícolas e industriais». Formiato, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora sabe o que é; formamida (CH3NO), só o Dicionário de Termos Médicos o regista, mas a definição não me convence nem elucida: «Líquido que dá origem à cloramida ao reagir com o cloral.» Ora, a formamida, que também é conhecida por metanamida (outro vocábulo ignorado por aquele dicionário), é uma amida derivada do ácido fórmico. E não seria bom que os dicionários também indicassem a fórmula molecular?

 

[Texto 7773]

Valor condicional

Toma e embrulha

 

      Tenho a certeza de que esta lição será útil a alguém: «Têm um valor condicional (respeitante à dependência de uma situação da realização de uma outra) o presente [condicional simples] e o pretérito perfeito do condicional [condicional composto] em frases como se eu tivesse possibilidades, iria viver para o campo; se eu tivesse tido possibilidades, teria ido viver para o campo. Em Portugal, o pretérito imperfeito e o pretérito mais-que-perfeito podem ocupar o lugar das duas formas verbais acima, respetivamente, sem alteração de valor: ia (= iria) / tinha ido (= teria ido) viver para o campo» (Manual de Linguística Portuguesa, Ana Maria Martins e Ernestina Carrilho (eds.). Berlim: De Gruyter, 2016, p. 323). Mas isto é alguma coisa nova? Basta ver nas obras de Gil Vicente, por exemplo, o pretérito mais-que-perfeito simples empregado em vez do condicional simples ou do imperfeito do conjuntivo.

 

[Texto 7772]

Léxico: «termoplástico»

Falta o adjectivo

 

      Ora aqui temos um capacete termoplástico. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define termoplástico assim: «nome masculino substância que se torna plástica por aquecimento». Não é muito diferente da definição do dicionário da Real Academia Espanhola: «adj. Dicho de un material: Maleable por el calor.» A diferença, e é grande, está toda nisto: num, é substantivo, no outro, adjectivo. Quanto a mim, a definição do dicionário da Porto Editora é, com uma pequena alteração, a do adjectivo: «Diz-se da substância, especialmente plásticos sintéticos e resinas, que se torna plástica por aquecimento». Isto porque «termoplástico», como substantivo, é, não uma qualquer substância, mas antes um plástico, um polímero artificial. Leia-se o que se diz no Collins: «countable noun Thermoplastic materials are types of plastic which become soft when they are heated and hard when they cool down.» «adjective (of a material, esp a synthetic plastic or resin) becoming soft when heated and rehardening on cooling without appreciable change of properties.»

 

[Texto 7771]

Como se escreve nos jornais

Poluição linguística

 

      Talvez fosse boa ideia comprar uma máscara antipoluição com carvão activado (que os dicionários desconhecem...) para andar de moto na cidade, não? E a propósito de antipoluição: «É um facto que o programa da extrema-direita, no seu anti-capitalismo, anti-europeísmo e anti-liberalismo, é o sonho húmido do Bloco» («Bicos calados», João Pereira Coutinho, Correia da Manhã, 28.04.2017, p. 48). Corrigirem isto nos jornais é que ‘tás quieto. Parte como chega; os leitores, esses grandes asnos, não merecem mais. E, contudo, qualquer mísero dicionário ou prontuário lhes diria que se escreve anticapitalismo, antieuropeísmo, antiliberalismo.

 

[Texto 7770]

Três frasezinhas singelas

Ora vamos lá ver

 

      «Imaginemos uma romã. Vamos supor agora que a cortávamos ao meio e que uma das metades não tivesse cor. Assim era Berlim poucos meses depois da festa» (Passageiros em Trânsito, José Eduardo Agualusa. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2012).

      Três frasezinhas singelas, estas — mas estará tudo certo? Digam-me o que corrigiam, se alguma coisa há para corrigir, ou o que melhoravam, se alguma coisa há para melhorar.

 

[Texto 7769]

Ortografia: «retrorreflector»

Está nos dicionários

 

      «Usar sempre, quer de dia quer de noite, coletes retro-reflectores, não andar sozinho(a) durante a noite e tomar especiais cuidados ao atravessar as vias são outros conselhos da GNR» («Fátima. GNR pede a peregrinos que preencham questionário», Rádio Renascença, 30.04.2017, 21h25).

      Pois, mas não: é retrorreflector que se escreve. O prefixo retro-, que indica movimento para trás, segundo o Acordo Ortográfico de 1945, nunca se escreve com hífen, havendo duplicação do r e do s quando o elemento que se lhe segue começa por estas letras.

 

[Texto 7768]

«Negacionismo/revisionismo»

É tirar conclusões

 

      «Mélenchon disse que Marine Le Pen é tão radical como o seu pai, Jean-Marie Le Pen – condenado por racismo e “negacionismo” histórico – e desmentiu os que o acusam de indefinição numa altura em que é preciso travar a extrema-direita» («França: Esquerda insta Macron a gesto político para deter extrema-direita», Lusa/TSF, 30.04.2017, 22h02).

      Porquê as aspas em «negacionismo»? Comecemos por ver como definem a palavra os dicionários. Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «rejeição de conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico em favor de ideias não fundamentadas ou controversas». Hum... Para o dicionário da Real Academia Espanhola: «Actitud que consiste en la negación de hechos históricos recientes y muy graves que están generalmente aceptados. El negacionismo del Holocausto.» Passemos agora à definição de um conceito aparentado — revisionismo. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «HISTÓRIA posição de quem nega a existência de um facto documentado ou de quem propõe interpretações não fundamentadas de fenómenos históricos já estudados; negacionismo». No dicionário da Real Academia Espanhola: «Tendencia a someter a revisión metódica doctrinas, interpretaciones o prácticas establecidas con el propósito de actualizarlas y a veces de negarlas. Sometieron a revisionismo la teoría de la evolución. En Alemania es ilegal el revisionismo del Holocausto

 

[Texto 7767]