Vendam-nos outra
«Uma das suas principais preocupações era a população mais pobre. Na cidade de Buenos Aires existiam alguns bairros pobres, chamados favelas, onde viviam muitas pessoas em condições terríveis» (Vem Conhecer o Papa Francisco, Luís Seabra Duque. Prior Velho: Paulinas, 2013).
Lá tive de explicar à minha filha que isto não é assim. Este desamor ao que é nosso surpreende-me e desgosta-me sempre. Sou o primeiro a adoptar uma palavra brasileira, ou angolana, ou de qualquer país de língua oficial portuguesa de que precisemos. Não é, manifestamente, o caso de «favela», caro Luís Seabra Duque. Tinha duas alternativas: «Na cidade de Buenos Aires há alguns bairros pobres, chamados villas miserias, onde vivem muitas pessoas em condições terríveis.» Ou: «Na cidade de Buenos Aires há alguns bairros pobres, bairros-de-lata, onde vivem muitas pessoas em condições terríveis.» (Aqui, a alteração dos tempos verbais é para respeitar a verdade, não questão estilística.) Quando, há alguns anos, já não sei a que propósito, tratei aqui da palavra «bairro-de-lata», várias pessoas me chamaram a atenção para isto: na esmagadora maioria das vezes, diz-se e escreve-se «bairro-da-lata». E é verdade.
[Texto 7779]