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Linguagista

Léxico: «portinho»

Vamos ver quem constrói

 

      Há um ano, a ministra do Mar anunciou, durante uma visita a Matosinhos, que a obra de construção do portinho de Angeiras arrancava em 2016. Vamos ver o que acontece primeiro, a construção da infra-estrutura ou a dicionarização do vocábulo. Diminutivo, sim, mas um diminutivo especial.

 

[Texto 7784]

Léxico: «sobretratamento»

Imparável

 

      «Para o Infarmed, “estes valores, só por si, não permitem concluir que há um sobretratamento do défice de Vitamina D”, mas “a discrepância de valores nos resultados publicados em dois estudos diferentes justifica uma avaliação profunda e esclarecedora nesta área”» («Bastam 15 minutos para produzir vitamina D. Aumentar a exposição é “erro grosseiro”», Rádio Renascença, 3.05.2017, 8h13).

    Sobrediagnóstico e sobrediagnosticar já os dicionários registam. Aqui está este — e a lista não fica completa.

 

[Texto 7783]

Léxico: «hidroplanagem»

Mais um bigode

 

      O risco na condução de um motociclo aumenta, leio aqui, sempre que se circula em piso molhado, uma vez que existe o risco da hidroplanagem, associado a um aumento da distância de travagem. Os instruendos vão consultar o verbete de hidroplanagem no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e... nada! Está apenas no Dicionário de Português-Alemão. Isto já não estará relacionado com o bigode de Heidegger, suponho.

 

[Texto 7782]

Léxico: «retrotrem»

Para as aulas de código

 

      Está na lei, meus amigos: «O motocultivador ligado a reboque ou retrotrem é equiparado, para efeitos de circulação, a tractor agrícola.» Não o encontram no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Há sempre vocábulos por dicionarizar. E corrigir: aquele dicionário define assim ciclomotor: «veículo de duas ou mais rodas com motor de cilindrada não superior a 50 cm3, ou que, por construção, não exceda em patamar a velocidade de 45 km/h». Mas não pode ser de duas ou mais rodas, porque assim abrangeria os quadriciclos. É antes assim: «veículo de duas ou três rodas». E não será melhor referir também a potência, porque agora com os veículos eléctricos é isso que conta? E pronto, posto isto, vou tirar a carta de condução de motociclos (categoria A). Só quatro aulas teóricas e exame...

 

[Texto 7781]

Não precisamos de «favela»

Vendam-nos outra

 

      «Uma das suas principais preocupações era a população mais pobre. Na cidade de Buenos Aires existiam alguns bairros pobres, chamados favelas, onde viviam muitas pessoas em condições terríveis» (Vem Conhecer o Papa Francisco, Luís Seabra Duque. Prior Velho: Paulinas, 2013).

      Lá tive de explicar à minha filha que isto não é assim. Este desamor ao que é nosso surpreende-me e desgosta-me sempre. Sou o primeiro a adoptar uma palavra brasileira, ou angolana, ou de qualquer país de língua oficial portuguesa de que precisemos. Não é, manifestamente, o caso de «favela», caro Luís Seabra Duque. Tinha duas alternativas: «Na cidade de Buenos Aires há alguns bairros pobres, chamados villas miserias, onde vivem muitas pessoas em condições terríveis.» Ou: «Na cidade de Buenos Aires há alguns bairros pobres, bairros-de-lata, onde vivem muitas pessoas em condições terríveis.» (Aqui, a alteração dos tempos verbais é para respeitar a verdade, não questão estilística.) Quando, há alguns anos, já não sei a que propósito, tratei aqui da palavra «bairro-de-lata», várias pessoas me chamaram a atenção para isto: na esmagadora maioria das vezes, diz-se e escreve-se «bairro-da-lata». E é verdade.

 

[Texto 7779]

Tradução: «[die] Hütte»

Um espaço para pensar

 

      «Wenn der Sturm um die Hütte heult, etc.» Qual chalé! Então não se sabe que Heidegger tinha uma cabana na Floresta Negra? Até há obras com esse título, como a do arquitecto Adam Sharr, Heidegger’s Hut. É, de facto, uma cabana (como a de Henry David Thoreau), não mais do que isso, um refúgio que mandou construir e para onde se mudou no Verão de 1922.

 

[Texto 7778]