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Linguagista

Como se fala por aí

O pior é o resto

 

      «No próximo programa de esportes a que assistir, tente acompanhar quantas vezes ouvirá o verbo entregar. “Fulano não entregou o que o treinador esperava.” “Beltrano entrega mais como meia do que como volante.” “Jogar com o nome não basta, tem que entregar.” “Nunca vi esse time entregar tão pouco.” “Sicrano não entrega no Lá Vai Bola o que entregava no Arranca-Toco.” Entregar, no caso, é uma apropriação do verbo “to deliver”, que, entre muitos outros sentidos em inglês, significa desempenhar, render, ser eficiente. [...] No Brasil, onde cada vez mais tentamos falar português em inglês, “entregar”, no sentido de “to deliver”, é só um exemplo. O cômico é que, agora, já não usamos o verbo para pedir que nos entreguem em casa algo que compramos na rua ou pela internet» («Você já entregou hoje?», Ruy Castro, Folha de S. Paulo, 10.04.2023, p. A2).

      Também já cá chegou este modismo. Precisamente ontem à noite, um comentadeiro de futebolices num canal de televisão usou o verbo neste sentido. Enfim, isto aprendem logo.

 

[Texto 18 050]

A maldição do «mesmo»

O que nos aconteceu?

 

      «Por insegurança linguística, medo de errar, é comum a gente enfeitar a prosa, trocando por exemplo ter por possuir, estar por encontrar-se, qualquer coisa ou pessoa mencionada anteriormente por (aaargh!) “a mesma”» («A hipercorreção se trata de erro», Sérgio Rodrigues, Folha de S. Paulo, 9.03.2023, p. B3). Maldição que já aportou, para meu grande espanto, nas traduções. Como é isto possível? Que conhecimento é este da língua que leva um tradutor, que tem de possuir conhecimentos mínimos do instrumento de trabalho, a expressar-se como a maioria dos polícias? Até o ChatGPT, mero papagaio, faz melhor.

 

[Texto 17 884]