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Linguagista

Pronomes: a desgraça continua

Uma das cem cagadas

 

 

  «“Hoje o Afeganistão dá um passo em direção à estabilidade, ao desenvolvimento e à paz. Venham e escolham o vosso destino!”, disse Karzai depois de ter votado. O resultado destas eleições irá significar a primeira transferência de poder democrática e pacífica num país cuja história tem sido marcada por um sem-número de conflitos» («Afegãos votaram apesar da ameaça dos talibãs», L. R., Diário de Notícias, 15.06.2014, p. 17).

   Uma espécie de vade-mécum. Se o editor aceitar, vai chamar-se As Cem Grandes Cagadas do Português, e uma delas é esta trapalhada completa no uso de pronomes pessoais e pessoas verbais.

 

[Texto 4724]

Colocação do pronome

Saberão os taxistas

 

 

      «Entre as coisas que desaparecem e fazem falta, muitas não têm importância nenhuma. Mas o efeito cumulativo de todas elas – que é sísmico – faz com que valha a pena mencionar cada uma. Desde os meus 25 anos que ando à caça de copos de vidro fininhos. Na Rua de São Bento, em Lisboa, no encalço dos restos das fábricas condenadas da Marinha Grande – imaginando-me o anjo vingador dos irmãos Stephens –, dei por duas vezes com a Amália Rodrigues, incandescente e espirituosa, que morava e continua a morar naquela rua, como todos os taxistas de Lisboa sabem e orgulham-se de saber. Disse-me coisas que nunca mais esqueci. Era incapaz de dizer uma coisa que se pudesse esquecer» («Escrito no vidro», Miguel Esteves Cardoso, Público, 15.08.2011, p. 31).

      Pode ter que ver com o ouvido, mas eu anteporia o pronome ao verbo, pela atracção exercida ainda, pese embora o afastamento, pelo pronome indefinido: «como todos os taxistas de Lisboa sabem e se orgulham de saber».

 

[Texto 397]