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Linguagista

Acordo Ortográfico

Quase abjecto

 

 

      Acabei de ler o texto semanal de Nuno Pacheco no P2. Está tudo bem (ou mais ou menos), mas a pergunta final, que não é provocatória, como outras, só pode ser parola (sem ofensa, claro): «É nisto que dá o “bom português” que por aí se vende em saldo nas feiras da degradada língua. Será que, em futura reedição, um título de Saramago como Objecto Quase passará a Objeto Quase? Nessa altura, estaremos mesmo num caminho abjecto. Com “c” ou sem ele» («Nem Saramago escapa», Nuno Pacheco, «P2»/Público, 24.10.2011, p. 8).

 

[Texto 606] 

4 comentários

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    Bic Laranja 27.10.2011 00:58

    Travessa do Alecrim pelo edital da câmara de 31/12/1885. 

    « O Cata-que-farás tem o que quer que é de picaresco, que se não dá bem, com effeito, com o estylo aprumado, sisudo e alinhado da epoca pombalina. Pertence evidentemente ás gerações que viram a travessa da Lindeza, o beco de Calça-frades, a rua do Chancudo, o sítio de Papel de alfinetes, os becos do Lava-Cabeças e do Espera-me Rapaz, a rua do Pinovay e o Tem-te-lá.
      
    [...]
    « Na ordem porque hão de ir os oficios da Cidade na festa do Corpo de Deus figuravam os pescadores de cata que farás, doc. anterior a 1493, os carpinteiros da Ribeira e callafates com nao e gale. E na Estatística de Lisboa de 1552 encontramos a rua de Cata-que-farás e a rua da Cruz de Cata-que-farás.
    « Catar, na acepção de procurar "... polo que a cada hu convem catar modo e maneira de vida com que se sustente [Frei Gaspar da Cruz - Tractado da China, Ed. Rolland, 1869, pág. 69].
      [...]
    « A musa de Gil Vicente refere-se à rua de Cata-que-farás na seguinte estãncia do Pranto de Maria Parda:

             
    Rua de Cata-que-farás,
              Que farei e que farás!
              Quando vos vi taes, chorei,
              E tornei-me por detrás.
              Que foi do vosso bom vinho,
              E tanto ramo de pinho,
              Laranja, papel e cana,
              Onde bebemos Joanna
              Em cento e um cinquinho.

    « [...] O Itinerário lisbonense, de 1818, diz: Travessa do Catefarás (sic) é a terceira à direita, descendo pela rua do Alecrim, e termina na rua das Flôres.»
    Gomes de Brito, Ruas de Lisboa, v. I, Sá da Costa, Lisboa, 1935, pp. 111-127.

     Augusto Fuschini propôs a reposição do nome na sessão da câmara de 9/2/1886 procurando que se não alterassem nomes de ruas de reconhecida importância histórica. Foi adiada a resolução. Até hoje.

    Cumpts.
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    Venâncio 27.10.2011 08:38

    Muito obrigado, caro Bic. Constato, sim, que, mesmo na Lisboa actual, a fala corrente mantém designações antigas, como Terreiro do Paço para a Praça do Comércio, ou as Cortes para a zona de São Bento. Há ainda, oficiais, os nomes antigos, e pitorescos, da Rua do Poço do Borratém, da Rua do Poço dos Negros (de que você, se não me engano, já falou, e para que davam as traseiras da minha escola primária) e da Rua da Betesga.
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    Bic Laranja 27.10.2011 11:15

    Foi com todo o gosto. 
    Sobram ainda inúmeros topónimos populares: olhe o velho Rossio, a par do Terreiro do Paço, cuja toponímia oficial (Praça D. Pedro IV) não pegou nem havia de pegar, apesar do imperador (do México, dizem) lá bem alto do pedestal. Idem o Areeiro, com vulto bem menor e estatuária a fazer jus. Só para mencionar dois bem conhecidos. Mas a voragem da modernice, tanta vez subreptícia, tanta vez saloia, tem tragado inúmeros outros: a Sete Rios pespegou-se oficialmente o Humberto Delgado e no subterrâneo do Metro não se cata senão alimárias - «Jardim Zoológico» de sua graça - a bem de se não perder o incauto turista da Expo 98, disseram. - Tolices! - Outro tanto com o Socorro, outrora nome de lugar, rua, largo, igreja paroquial (tudo extinto) e, finalmente, freguesia agonizante com o chafurdo administrativo em curso, diz que para poupar uns patacos. Quanto custa a memória, sabe?
    Obrigado sou eu. 
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