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Linguagista

Tradução

Fífias

 

 

      «Instrumentos do barroco europeu — como o cravo (e não “clavecino”, na tradução errada da folha de sala), o órgão positivo, a viola da gamba, o arquialaúde e a flauta — e instrumentos tradicionais chineses — pipa, flauta dizi, órgão de boca, xiao, yunluo e percussões várias — reuniram-se numa convivência inesperada e frutuosa» («Barroco oriental», Cristina Fernandes, «P2»/Público, 6.06.2011, p. 8).

      O busílis da questão é que alguns dicionários imprudentes registam o vocábulo «clavecino» como sinónimo de «cravo». A musicóloga e crítica de música Cristina Fernandes tem razão no reparo. Devia a Fundação Oriente mandar corrigir a folha de sala.

 

[Texto 116]

 

Uso do artigo definido

Oficial mas errado

 

 

      «A Direcção-Geral de Saúde confirmou que os resultados das análises ao terceiro caso de suspeita de infecção pela bactéria E. coli foram negativos» («Terceiro caso suspeito deu negativo», Público, 6.06.2011, p. 27).

      É, reparem, quase sempre como os jornalistas dizem e escrevem, mas incorrectamente. Pelo menos, o nome oficial tem a preposição com artigo. Quando a Sociedade de Língua Portuguesa foi fundada, alguns cidadãos bem-intencionados protestaram e propuseram o uso do artigo: Sociedade da Língua Portuguesa. Nessa altura, Vasco Botelho de Amaral invocou a lição de Epifânio Dias na Sintaxe Histórica: «... Diz-se (sem art.), entre outras combinações: ... Faculdade de Letras (em fr.: des Lettres), Academia de Música (Na denominação oficial Academia Real das Sciências há galicismo)...»

 

[Texto 115]

Itálico

 

 

Igual para vocês

 

 

      «Os activistas do movimento Democracia Verdadeira Já concentraram-se junto ao Tribunal do campus de Justiça, em Lisboa, onde serão ouvidos os cidadãos detidos sábado no Rossio durante uma carga policial» («Manifestação hoje diante do tribunal», Público, 6.06.2011, p. 27).

      Pois é: mas qual tribunal? Se é um campus... Mas não é um qualquer campus: é o Campus de Justiça de Lisboa, com maiúscula e sem itálico. E o tribunal é com minúscula, pois não é um nome próprio.

 

[Texto 114]

 

Léxico: «iogue»

No mau caminho

 

 

      «Um conhecido mestre yogi indiano, Swami Ramdev, que defende a pena de morte para punir a corrupção, foi ontem detido em Nova Deli e a policia dispersou uma concentração de milhares dos seus apoiantes» («Polícia indiana impediu greve de fome de guru que defende pena de morte para acusados de corrupção», Público, 6.06.2011, p. 29).

      Temos a palavra há séculos na língua portuguesa, mas os jornalistas e os revisores não sabem nem querem saber.

 

 

[Texto 113]

«Doença holandesa»

No bom caminho

 

 

      «[Afirma, em entrevista ao Público, Donald Kaberuka, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD):] O desafio consiste em utilizar esses benefícios para proteger as suas economias da famosa “doença holandesa” [demasiada dependência de um recurso natural, dedicando-se à sua exportação em detrimento de outros sectores]» («“A revolução tunisina ensinou-nos que só o crescimento não chega”», Luís Villalobos e Sofia Lorena, Público, 6.06.2011, p. 30).

      Esta é, sem dúvida, uma mudança apreciável na atitude nos jornalistas, explicar o que para muitos será conhecido mas que é sempre desconhecido da maioria dos leitores.

 

[Texto 112]

«Mumbai/Bombaim»

Por uma vez

 

 

      «Quando há semanas regressava de Goa a Mumbai [Bombaim] no voo mais económico (os tempos não dão para mais) da Air India, para daí vir até Lisboa, esperava-me uma surpresa no aeroporto de Dabolim: no check-in às 14h30, para o voo das 16h30, perguntam-me se não quero ir no voo que sairia daí por 20 minutos» («A Europa tem muito a aprender com a Índia...», Eugénio Viassa Monteiro, Público, 6.06.2011, p. 47).

      Vá lá, tiveram o discernimento de lembrar o leitor que se trata de Bombaim. Mas já estiveram mais perto de propugnar a novíssima forma: «Os portugueses baptizaram-na no século XVI de Bombaim, a partir de “Bom Bahia”; tornou-se Bombay quando passou a colónia britânica, e Mumbai em 1996, como era identificada por falantes de gujarati e marathi» («Índia em estado de alerta máximo», Francisca Gorjão Henriques, Público, 12.07.2006, p. 2).

 

 

[Texto 111]

Acordo Ortográfico

Digam-lhe, por caridade

 

 

      Nuno Pacheco escreve hoje no Público, com alguma graça mas muita superficialidade, sobre o Acordo Ortográfico de 1990. Dois excertos: «Portugal, lavador-mor de grafias antigas, dá agora primazia à fonética, pois, disse-o um dia outra das inteligências pró-Acordo, “a oralidade precede a escrita”. Se é assim, tirem o H a homem ou a humanidade que não faz falta nenhuma. E escrevam Oliúde quando falarem de cinema. A etimologia foi uma invenção de loucos, tornemo-nos compulsivamente fonéticos.» Como não leu o texto do acordo, saiu isto: «Mas há mais: sabem que acabou o café-da-manhã? Agora é café da manhã. Pois é, as palavras compostas por justaposição (com hífens) são outro estorvo. Por isso os “acordistas” advogam cor de rosa (sem hífens) em vez de cor-de-rosa. Mas não pensaram, ó míseros, que há rosas de várias cores?» («Omens sem H», Nuno Pacheco, «P2»/Público, 6.06.2011, p. 3).

 

[Texto 110]