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Linguagista

Acordo Ortográfico

Demagogia e desinformação, diz ele

 

 

      José Mário Costa, nas «Cartas à Directora» do Público, respondeu ao editorial de sábado, que aqui transcrevi e comentei. Cito um excerto, que me parece o mais relevante: «Primeiro: se as novas regras ortográficas vão ser aplicadas só em Setembro, nos ensinos básico e secundário, em Janeiro de 2012, no restante aparelho de Estado (resolução do Conselho de Ministros de 2011), qual a surpresa por os memorandos da troika, ou mesmo os programas eleitorais, virem escritos ainda conforme a ortografia de 1945?» A posição do Público contra o Acordo Ortográfico, afirma José Mário Costa, «apenas desabona a credibilidade do PÚBLICO».

 

[Texto 120]

Tradução: «Indian Summer»

Para quê?

 

 

      «Levaram-me», pode ler-se na tradução, «a X durante a noite amena e chuvosa como a de um Verão índio.» No original: «Indian Summer». A esmagadora maioria das vezes, a tradução que se vê é outra: Verão indiano. Ora, ao período de finais de Outubro a começos de Novembro damos nós o nome de Verão de S. Martinho. Passe-se a acção no Alentejo, em Nova Iorque ou no Brasil (onde é conhecido por veranico), não é igualmente preciso? Não exprime o mesmo conceito?

 

[Texto 119]

Tradução: «orgone»

Quase aristotélico

 

 

      «Segundo Reich, os orgons são átomos vibradores atmosféricos derivados do princípio da vida», lê-se na tradução. Mas no original é «orgones», que é também o que se lê em todas as obras em português sobre a energia vital cósmica, ou orgone, «descoberta» pelo médico e psicanalista austríaco Wilhelm Reich. Assemelha-se a órgano ou órganon, o nome atribuído pelos comentadores gregos ao corpus aristotélico sobre lógica e retórica. A ideia é que a lógica constituiria um instrumento (é o que significa «órganon») para extrair do conhecimento certo novas proposições demonstráveis, ao passo que a retórica serviria para tratar de questões sobre as quais o conhecimento é tão-somente provável e as conclusões contingentes.

      A ser como o tradutor verteu, seria órgon(s). Não está registado em nenhum dicionário que eu conheça.

 

[Texto 118]

Tradução: «pshaw»

Ah! Pfe!

 

 

      «“Pshaw!” I said. “No such thing!”» Como verteu o tradutor esta interjeição? Assim: «“Pfft, era o que mais faltava!”, disse eu.»

      Está por escrever uma obra exclusivamente sobre estas palavras invariáveis ou sintagmas que formam, por si sós, frases que exprimem uma emoção, uma sensação, uma ordem, um apelo ou descrevem um ruído. Infelizmente, os dicionários não são fonte muito certa e segura no que respeita a estas partículas da língua. Os tradutores não estão muito atentos, e limitam-se, quando não deixam como no original, a adaptar mais ou menos à nossa grafia.

 

[Texto 117]