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Linguagista

Léxico: «nodo»

Coisas da Lua

 

 

      «O eclipse total da Lua é um fenómeno astronómico em que o astro mergulha completamente na sombra da Terra, o que sucede quando a Lua cheia passa nos nodos da sua órbita ou na proximidade» («Amanhã há um eclipse total da Lua visível em Portugal», Diário de Notícias, 14.06.2011, p. 30).

      Em astronomia, nodo é o nome que se dá a cada um dos pontos em que a trajectória da Lua intercepta a eclíptica. Do latim nōdus,i «nó, apertamento, enlaçamento, enlace».

 

 

[Texto 156]

Trindade e Tobago

Nem tudo é mau

 

 

      Não são apenas erros, também há muitos acertos. Assim, por exemplo, em relação aos topónimos: «A zanga do escritor de Trindade e Tobago [V. S. Naipul] devia-se ao facto de ter desconfiado de que Theroux tinha tentado seduzir a sua primeira mulher, Patrícia» («Zangas de escritores: quando a literatura se torna numa arena», Albano Matos e Joana Emídio Marques, Diário de Notícias, 14.06.2011, p. 46). Feito pequeno, há-de parecer, mas quando se reflecte que diariamente se vê na imprensa e nos livros Trinidad e Tobago (e quem fala deste, naturalmente, não deixará de falar no Caribe...), é louvável.

 

[Texto 155]

Galicismos

Os mentores

 

 

      «Sartre e Camus eram dois dos mais celebrados heróis da Paris do pós-II Guerra Mundial: os romances deste, O Estrangeiro e A Peste, e as peças de teatro daquele, a intervenção constante na vida política e intelectual de uma França em efervescência tornaram-nos maîtres-à-penser de um mundo em que tudo era novo e os jovens eufóricos se precipitavam para os caveaux de St. Germain-des-Prés» («Camus e Sartre: o corte na família existencialista», Albano Matos e Joana Emídio Marques, Diário de Notícias, 14.06.2011, p. 46).

      Muito bem, é na secção «Artes», o artigo é sobre zangas de escritores — toleram-se os maîtres-à-penser. Mas leva mesmo traits d’union? Hífenes, digo. O pior mesmo são, sem indicação do significado, da tradução, os caveaux. São os cabarés, habitualmente em caves, frequentados por homens de letras e cançonetistas.

 

 

[Texto 154]

Símbolo TEU

Está mal

 

 

      «Quase tudo, se pensarmos que Sines pertence a um clube restrito com capacidade para receber os novíssimos megaporta-contentores de 14 mil TEU e também os de 20 mil TEU, que os maiores operadores mundiais já têm encomendados» («O Alentejo e o desenvolvimento regional», Francisco Manuel Sabino, Diário de Notícias, 14.06.2011, p. 55).

      Cá temos de novo esta má prática jornalística: qual é o leitor médio que sabe que TEU significa unidade equivalente a vinte pés? A esta hora, nem os jornalistas. Vem do inglês twenty-foot equivalent unit.

 

 

[Texto 153]

Gíria

Preconceito, diz ele

 

 

      «Concluíram [as técnicas de Reinserção Social] que o arguido “evidencia reduzida consciência da sua situação jurídica e das consequências que daí possam advir” e revela “fraca capacidade de descentração”» («Defesa critica preconceito da justiça com ‘rei Ghob’», Rute Coelho, Diário de Notícias, 13.06.2011, p. 18).

      Vai-se ao manual por onde se estudou e vá de usar a terminologia. Os juízes compreenderão? Isso interessará? Por outro lado, é revoltante como, a avaliar pela notícia, as técnicas, em relação a um caso que nenhuma relação tem com aquele pelo qual está em prisão preventiva, se reportem sempre ao processo por triplo homicídio em que Francisco Leitão ainda nem sequer foi julgado. Esta atitude não é punível?

 

 

[Texto 152]

Outros erros


 

 

Até os nomes próprios 

 

 

      Ainda na mesma edição do Diário de Notícias: «Entendimento diferente sobre o papel destinado a este ministro, mesmo na hipótese que tem sido avançada de acumular as funções da Presidência com as dos Assuntos Parlamentares, é a de José Adelino Maltês. […] Idêntica leitura é feita por José Adelino Maltês, que rejeita qualquer imagem de fraqueza do líder, lembrando que até nas votações parlamentares Passos obteve sempre uma unidade nas votações que nem sequer existia nos tempos de Sá Carneiro» («Pasta de coordenação política é por tradição para maior partido», Fernando Madaíl, Diário de Notícias, 13.06.2011, pp. 8–9).

     Acho que é da mais estrita obrigação dos jornalistas escreverem correctamente o nome de quem entrevistam e consultam. Mesmo que todos os Maltezes tivessem começado por ser Malteses.

 

 

[Texto 151]

Elementos «anti»

Demasiado só para uma edição

 

 

      «Os manifestantes que integraram esta iniciativa exigiram mudanças na política anti-tráfico do país e percorreram em vinte autocarros um trajecto de três mil quilómetros entre a cidade mexicana de Cuernavaca e a fronteira com os Estados Unidos» («Movimento pela paz culpa EUA por violência no México», Catarina Reis da Fonseca, Diário de Notícias, 13.06.2011, p. 23).

      Fico estupefacto com estes erros frequentes. Não serão os jornalistas capazes de saber de cor, ou, enfim, alojar noutra víscera qualquer, a regra de que os compostos formados com o prefixo anti apenas têm hífen quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s? Reparem que os casos que tenho vindo a referir são todos da mesma edição, a de ontem, do Diário de Notícias. Não é demasiado?

 

[Texto 150]

Elementos «extra» e «ultra»

Até nas escolas

 

 

      «A outra incógnita era a de saber qual o efeito de um escândalo sexual sobre a votação do terceiro maior partido, o MHP. Na campanha foram divulgados vídeos que mostravam dirigentes a usarem uma casa paga pela formação para encontros extra-conjugais. Mas o partido ultra-nacionalista de Devlet Bahceli resistiu e ficou acima da barreira de 10%» («AKP tem maioria absoluta mas falhou poder total», Luís Naves, Diário de Notícias, 13.06.2011, p. 23).

      Não é assim nem passará a ser assim. Nos compostos formados com os prefixos extra e ultra, só se emprega o hífen quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s. Logo, extraconjugais e ultranacionalista. É muito comum ver em folhetos publicitários de escolas, e nas próprias escolas, em cartazes, a forma errónea «extra-curricular».

 

[Texto 149]

«Cadeia alimentar»

Ou teia alimentar

 

 

      O chefe Vítor Sobral tem uma cervejaria, a Cervejaria da Esquina, e uma tasca, a Tasca da Esquina, em Campo de Ourique. Davide Pinheiro, no Diário de Notícias, encontrou um nome para isto: cadeia alimentar. «Na cadeia alimentar do chefe, a Cervejaria da Esquina sucede à Tasca da Esquina com a decisão de não reabrir o Terreiro do Paço pelo meio» («A nova cervejaria tradicional», Davide Pinheiro, Diário de Notícias, 13.06.2011, p. 48). «Cadeia alimentar»! E não se deixa rir nem nada. Eu já andei pelos jornais e garanto que a pressa não explica suficientemente estes casos.

 

[Texto 148]

«Livres-pensadores»

Isso é grave

 

 

      «Apesar disso e alguns erros pontuais, o livro [A Criação de Fátima, Luís Filipe Torgal. Lisboa: Tinta da China, 2011] fornece um relato rigoroso e informativo. O que mais ressalta é a fragilidade dos argumentos dos críticos de Fátima. Os anticlericais, sem o menor interesse pelos factos, limitam-se a opor-se por razões ideológicas: o que quer que aconteça, aparições e milagres são impossíveis. O mais divertido é chamarem a si mesmos “livre-pensadores”» («Uma questão de dragões», João César das Neves, Diário de Notícias, 13.06.2011, p. 54).

      Não é nada divertido, sobretudo se escreverem dessa forma. Mas podemos supor razoavelmente que o erro ortográfico é de João César das Neves. Livres-pensadores. Nome composto de adjectivo + substantivo: pluralizam ambos. Livres-pensadores. 

 

[Texto 147]