Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Tradução: «river police»

Façam-lhe a barba

 

 

      Agora é que toda a gente fala inglês como se nunca tivesse falado outra língua. A primeira viagem de Jorge V como rei foi à Holanda, onde, ao desembarcar, um enorme coro de centenas de lindas crianças entoaram, entusiasmadas, o hino da Grã-Bretanha: «God shave de King». Jorge V fartou-se de rir. Bem, mas não era disto que eu queria falar, mas da tradução desta frase: «There may be river police around.» Literalmente, não há qualquer dúvida. A questão é que, entre nós, apenas se fala de «polícia fluvial» como função, como serviço, não como nome de corpo policial. Já tivemos os guarda-rios (não as avezinhas, mas os funcionários encarregados de vigiar os rios para fazerem acatar todas as disposições legais respeitantes aos cursos de água), mas agora que temos? Qual é a entidade que desempenha esta função? Talvez Montexto, que é caçador, e um caçador conhece sempre bem os cursos de água da zona por onde anda e tudo quanto se relaciona com estes, nos saiba dizer alguma coisa.

      A nossa literatura está cheia de guarda-rios: «Mas, ia-se escondendo, e metia a arma em buracos, porque temia a patrulha e até os guarda-rios, embora se risse deles ou do seu aparato» (Rio Morto, João de Araújo Correia. Régua: Imprensa do Douro Editora, 1973, p. 83).

 

[Texto 207]

Abreviatura de «versus»

Cuidado vs. negligência

 

 

      «O blairismo nunca perdeu o escrúpulo, aliás abusivo, com a linguagem política. Escreveu Blair: “aberto v fechado é hoje tão importante na política como esquerda v direita”» («A sociedade aberta e os seus amigos», Pedro Lomba, Público, 23.06.2011, p. 40).

      Sempre tão pouco cuidadoso, o cronista Pedro Lomba. A abreviatura da preposição latina versus, «contra», é vs., não como escreveu. Como se escreve na língua inglesa não nos diz respeito.

 

[Texto 206]

Sobre «milionário»

Cerca de 700 mil euros

 

 

      Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e para outros dicionários, certamente, «milionário» é «aquele que possui milhões», «que é muito rico». Em rigor, porém, não é necessário possuir milhões para se ser milionário — mas apenas um milhão. Na edição de hoje do Público, uma notícia dá-nos a saber que Portugal perdeu 300 milionários em 2010, e lá vem o conceito: «O mundo ganhou mais milionários em 2010, mas em Portugal o número de pessoas com uma fortuna líquida igual ou superior a um milhão de dólares (cerca de 700 mil euros) desceu de 11 mil para 10.700 num ano» («Portugal perdeu 300 milionários mas a fortuna dos mais ricos do mundo cresceu 9,4 por cento», Ana Rute Silva, Público, 23.06.2011, p. 24).

 

[Texto 205]

Léxico: «chinomarquês»

Do outro mundo

 

 

      Só hoje soube, raisparta!, que há quem diga (e quantos serão?) «isso para mim é chinomarquês». «Chinomarquês»! Se o Vítor Lucas Lindegaard, da Travessa do Fala-Só, me lê, surpreender-se-á e dirá que já quando era menino e moço, lá para os lados da Rinchoa, não ouvia outra coisa.

 

[Texto 204]

Plural: «guardas-costeiros»

O erro de Lampedusa

 

 

      «E manifestou [o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres] apreço pelo “trabalho de socorro no mar feito pelos guarda-costeiros e pelos [serviços] de alfândega”» («Lampedusa ouviu agradecimento especial de Guterres e Angelina Jolie», João Manuel Rocha, Público, 21.06.2011, p. 21).

      Guterres, o Eloquente, falou mesmo assim? Disse «guarda-costeiros»? Ou foi antes João Manuel Rocha, o jornalista? Um ou outro ou ambos estão a confundir. A palavra é composta por um substantivo e por um adjectivo, logo, pluralizam ambos: guardas-costeiros. Quando o elemento «guarda», nestes compostos, é verbo é que fica invariável: guarda-roupas. A propósito: guarda-costeiro, que terá sido tirado a papel químico do inglês coast guard, não está registado em nenhum dicionário. (E como hoje é Corpus Christi, não entrará em nenhum...)

 

 

[Texto 203]

Sobre «percalço»

Imagine-se

 

 

      Não sei qual era a pergunta, mas entreadivinha-se: «A resposta correcta é “percalço”. E eu passo a soletrar, porque é mais fácil: p, e, r, c, a, l, ç, o. Ora, o que é que nos dizem os nossos dicionários? Primeira acepção que eles registam é “vantagem”, “benefício que se obtém por meio de alguma actividade”, “ganho”, “lucro”. E só depois é que vem a acepção que nós conhecemos tão bem, que é “obstáculo”, “dificuldade”, “uma contrariedade inesperada”, e provém, imagine-se, do verbo “percalçar”, que significa “ter lucro”. Portanto, “percalço” escreve-se p, e, r na primeira sílaba» (Jogo da Língua, Sandra Duarte Tavares, Antena 1, 20.05.2011). 

      Se aqui estivesse Montexto, que Deus tenha, logo diria: «Aguenta apenas os tais cinco minutos de Cândido de Figueiredo.» Agora é assim, mas no honesto Morais percalço e precalço ainda são a mesma coisa.

 

 

[Texto 202]

Como se fala na rádio

JOGO DA LÍNGUA

 

Sem comentários

 

 

      «Os filhos ... são inteligentes.» «A resposta correcta é predicativo do sujeito. Pode parecer assim uma expressão um bocadinho bizarra, mas é verdade. Esta é uma função sintáctica, é uma das funções sintácticas, que nós temos disponíveis na nossa língua» (Jogo da Língua, Sandra Duarte Tavares, Antena 1, 21.05.2011). 

 

 

[Texto 201]