Acordo Ortográfico
Tão completo quanto possível
O provedor do leitor do Público quis saber até que ponto este jornal vai manter a recusa em aplicar o Acordo Ortográfico, pelo que perguntou à direcção. «Solicitado a explicitar melhor o sentido da posição anteriormente divulgada (“no espaço noticioso, o jornal mantém como regra não acatar tal acordo enquanto tal for legalmente possível”), escreve o director adjunto do PÚBLICO: “O ‘legalmente possível’ refere-se à ameaça, velada, de que o AO 90 terá forma de lei dentro de três anos, coisa que não lembrou a ninguém, nunca, em matéria de ortografia, mas que os defensores do AO brandem, à falta de argumentos consistentes. (...) É o argumento de autoridade contra o argumento da razão. Haverá multas? Processos judiciais? Não se sabe. Daí o ‘legalmente possível’, embora a nossa determinação seja mantê-lo para sempre, porque achamos que só isso faz sentido”» («Esta ainda não é a aldeia de Astérix», José Queirós, Público, 26.06.2011, p. 55).
Há-de ser insustentável, é o que me parece, e não é com alegria que o reconheço, muito antes de essa obrigação legal — um mito urbano de que nunca antes ouvi falar — existir. Pelo menos, assim, ficamos a saber exactamente o que se pretende dizer com «legalmente possível». Ficamos também ao abrigo das interpretações libérrimas — ou descabeladas, melhor se diria — como a que o leitor Jorge julga ser possível fazer do artigo 2.º do Acordo Ortográfico a propósito do vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa.
[Texto 218]