O ciclista não vai nu
«Mesmo com as partes pudendas tapadas, por causa das exigências de decoro das autoridades, dezenas de ciclistas participaram ontem na primeira edição do World Naked Bike Ride, um passeio de bicicleta destinado a promover o uso deste meio de transporte. “O trânsito em Lisboa é obsceno, mas o nosso corpo não”, proclamava um dos cartazes da iniciativa. Cartola na cabeça e lenço amarrado em cima dos trusses puídos, um inglês a residir em Portugal indignava-se com a “estupidez da proibição” do nudismo: “No resto da Europa esta iniciativa não é feita com os ciclistas nus? Portugal não pertence à Europa?”» («“Obsceno é o trânsito”, disseram ciclistas que não pedalaram nus», Público, 27.06.2011, p. 22).
Não é todos os dias que lemos ou ouvimos a expressão, horrível, «partes pudendas». Mas vejam, o jornalista foi buscar ao baú outra peça de roupa, trusses. Há 2115 dias que não ouvia ou lia a palavra. Que, a propósito, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora se envergonha de registar. O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, por sua vez, regista-a, atribuindo-lhe o género feminino. O texto, não assinado, há-de ser da jornalista do tupperware, porque estão na mesma página e usa também a palavra «canícula».
Quanto ao World Naked Bike Ride, só podia correr mal, assim com um nome estrangeiro. E, santinhos, para o próximo ano já não lhe podem dar o mesmo nome, pois não? Ou têm tomates e os expõem sem avisar a bófia do que vão fazer, ou desadjectivam a iniciativa.
[Texto 222]