Como se fala na rádio
Paradigma de si mesmo
«A resposta correcta é complemento indirecto. Na frase “agrada-me essa proposta”, nós estamos perante... nós temos, aliás, um pronome pessoal... aa... dativo, “me”. “Agrada-me a proposta, agrada-te”... Vamos conjugar todo o pa... vamos, vamos flexionar todo o paradigma: “agrada-te a proposta?, agrada-lhe”... Ora, como é que nós sabemos que este pronome pessoal “me” desempenha a função de complemento indirecto? Porque, se utilizarmos um pronome pessoal na 3.ª pessoa do singular, temos a forma “lhe”. Então, agrada-me, agrada-te, agrada-lhe. “Me” desempenha aqui a função de complemento indirecto. Se... Um... um pequeno remate: se tivéssemos, por exemplo, o verbo encontrar, ver, ouvir, e... e numa frase como... aa... “encontrei-te no bar da RTP”, “vi-te no bar da RTP”, “ouve-me com atenção”, nós já teríamos a 3.ª pessoa, não com o pronome “lhe”, mas com o pronome “o” ou “a”. “Ouvi-te, ouvi-a, ouvi-o com atenção” e não “ouvi-lhe”. “Eu vi-o... vi-o no bar da RTP” e não “ouvi-lhe”... aa... e não “vi-lhe”, aliás. Portanto, neste caso com o verbo “agradar”, nós temos “me” complemento indirecto» (Jogo da Língua, Sandra Duarte Tavares. Antena 1, 6.07.2011).
(Agora imaginem a acta de uma reunião de condomínio transcrita com estas minudências psicóticas. E mais: pelo drama que muitas vezes configuram, com a respectiva didascália: «Neste ponto, o condómino do 4.º direito, habitualmente rubicundo, está em brasa e, num gesto ofensivo, leva o indicador direito à testa, onde bate três vezes seguidas.» Conseguem? Se não conseguirem, posso fornecer um exemplo real.)
Bem, sobre o Jogo da Língua, talvez eu não tenha aprendido bem o que é um paradigma.
[Texto 277]