Linguagem
A proscrita & etc.
Um leitor, Rui Almeida, ouviu na edição de hoje do Primeiro Jornal da SIC a seguinte frase, proferida pelo jornalista Bento Rodrigues: «As autoridades de saúde querem racionar o uso de antibióticos» (minuto 15.17). Argumenta o leitor: «Ora, pelo que percebo da definição que leio no Houaiss, não faz sentido que “o uso” seja racionado, mas sim os medicamentos.» Uns segundos depois, numa reportagem incluída na mesma notícia, ouviu a voz off de outra jornalista dizer: «As orientações da Direcção-Geral de Saúde [DGS] para hospitais, centros de saúde e centros de cuidados continuados são bem claras: muito em breve, vão ser criadas comissões para definir e regular a proscrição de antibióticos, bem como para decidir sobre medicamentos a incluir, excluir ou restringir no formulário de cada instituição» (15.48). Como a jornalista voltou a dizer «proscrição», só podemos conceber que seja ignorância.
Quanto à primeira questão: uma das acepções do Dicionário Houaiss é precisamente essa: «usar ou consumir com moderação; poupar». E o exemplo: «A família passou a racionar o uso da luz eléctrica porque a conta foi alta.» Também me parece mais lógico dizer que se «raciona um bem» e se «racionaliza o uso de um bem», mas, não apenas a língua, como já temos visto, nem sempre é essa construção lógica que alguns queriam, como, através de certos tropos, o que se afirma comummente de algo pode afirmar-se de outra realidade relacionada.
[Texto 317]