Sobre «edredão»
Tape-se com ele
«Agora os ingleses chamam apenas duvet ao eiderdown, se calhar porque a penugem nem sempre vem dos patinhos eider. Mesmo assim é pena chamarem apenas penugem ao cobertor. Já os portugueses dizerem edredão é um perfeito disparate. É como as camisolas de lambisvólia dos anos 60, aportuguesamento psicadélico de lambswool, lã de borreguinho» («Penugens de patinhos», Miguel Esteves Cardoso, Público, 18.08.2011, p. 31).
Será um disparate assim tão grande? Sem os termos todos, carreados de outras línguas ao longo dos séculos, que teríamos nós? Claro que, em vez de «edredão», podíamos usar «frouxel». Down feather, as penas mais pequenas das aves, quase penugem, pode traduzir-se por «frouxel» (ou «froixel»). Mas «frouxel» não virá do catalão? Ajudaria se víssemos no El Corte Inglés cartazes com os dizeres «Rebaixa final: pague 2 froixéis e leve 3»...
«Ainda tremo de cada vez que ouço alguém dizer edredom, um galicismo hediondo, em vez de frouxel, que a mim me parece, e estou certo que você concordará, palavra muito bela e muito nobre. Mas já me conformei com sutiã. Estrofião tem uma outra dignidade histórica. Soa, todavia, um pouco estranho – não concorda?» (O Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 9.ª ed., 2008, p. 41).
[Texto 409]