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Linguagista

Como se escreve nos jornais

Como um raio

 

 

      Foi descoberto um fóssil de um dinossauro trodonte terápode, o Talos sampsoni, nos Estados Unidos. «O líder da equipa de paleontólogos que o encontrou e estudou, Lindsay Zanno, da Universidade de Wisconsin-Parkside, não tem dúvidas de que esta descoberta “é como uma espécie de relâmpago, um acaso de proporções fantásticas”, como afirmou» («Primo mais novo do Velociraptor descoberto», Filomena Naves, Diário de Notícias, 20.09.2011, p. 30).

      Tudo muito bem (pese embora o «líder»), mas o «relâmpago» não me soa nem me ilumina. Parece que Lindsay Zanno (afinal uma bela líder) disse «is like a lighting strike». Ou terá sido «lightning strike»? As fontes divergem...

 

[Texto 497] 

«Cortar relações»

Se lessem mais — ou melhor...

 

 

      «O jornal Sunday Telegraph encontrou entretanto em Trípoli documentos mencionando duas visitas do antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair à Líbia, em Junho de 2008 e Abril de 2009, quando Trípoli ameaçava cortar as relações comerciais com o Reino Unido, se o bombista de Lockerbie, Abdelaset al-Megrahi, não fosse libertado de uma prisão escocesa onde cumpria pena pela morte de 270 pessoas» («Líbia falha governo para um país que tenta regressar à normalidade», Maria João Guimarães, Público, 19.09.2011, p. 14).

      Cá está o Sr. Gerúndio numa festa para a qual não foi convidado e — motivo deste post — Trípoli a cortar as relações como quem corta, a comparação é de Camilo, as unhas.

 

[Texto 496] 

«Apanhar/levar um bigode»

O diabo está nos pormenores

 

 

      «Mas todas as tapeçarias da série são um desafio à concentração do visitante do século XXI. O diabo está nos pormenores: cada tapeçaria [de Pastrana] é um amontoado de figuras humanas, lanças, armas, armaduras, embarcações, sem um centro aparente. Um bigode a quem pensa que vive numa era de excesso de informação» («O esplendor de Portugal para tempos de crise», Kathleen  Gomes, «P2»/Público, 19.09.2011, p. 5).

      «O diabo está nos pormenores», admito, é um achado. Já quanto ao «bigode», muita coisa ficou no tinteiro: então não é apanhar ou levar um bigode, isto é, ficar derrotado, humilhado, que se diz?

 

[Texto 495] 

«Iludir/eludir as responsabilidades»

Ilusões ou talvez não

 

 

      «Mas os organismos competentes também não podem iludir as suas responsabilidades» (do editorial da edição de ontem do Público, p. 30). Podemos iludir as responsabilidades como se ilude a polícia? Talvez se elidam, iludam, eludam, aludam e, no caso da Madeira, se faça trinta por uma linha e ninguém o impeça jamais. Iludir é também, em sentido figurado, recorrer a métodos habilidosos para não cumprir ou realizar qualquer coisa. Fugir a qualquer coisa — e diz-se correntemente fugir à responsabilidade. Eludir, por sua vez, verbo quase desconhecido dos falantes, é sinónimo de evitar com destreza.

 

[Texto 494]