Eu também insisto
A crónica de Rui Tavares na edição de hoje no Público tem como título «Uma jeremíada». No fim do texto, esclarece: «Nota: sei que a maior parte dos dicionários indica que “jeremiada” se escreve sem acento, por influência da língua francesa, mas é intencionalmente que escrevo, como digo, “jeremíada”.»
Ainda se lembra, é claro, do comentário que fiz a outra crónica no Assim Mesmo: «Tenho um peso na consciência. Na última crónica usei a certa altura a expressão “pessimistas jeremíadas” para me referir às crónicas de Pacheco Pereira, Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares. Peço desculpa. Trata-se de uma redundância: uma jeremíada é, por natureza, pessimista. Ainda tentei corrigir enviando uma emenda de última hora para “amargas jeremíadas”. Felizmente, não fui a tempo: uma jeremíada é sempre amarga; outra redundância. Quais eram as opções corretas? Repetitivas jeremíadas. Preguiçosas jeremíadas. Em última análise, redundantes jeremíadas» («Redundâncias», Rui Tavares, Público, 19.5.2010, p. 44).
Consultei, num assinalável excesso de zelo, doze dicionários apenas para concluir o que já sabia: só jeremiada existe. Lamente-se, pois, Rui Tavares na próxima crónica pelos erros da penúltima e da última, reflexo, decerto, de uma silabada. O vocábulo chegou-nos da língua francesa, jérémiade, que também tem, como nós, o respectivo verbo, jérémier/jeremiar. Foi forjada a partir do nome do profeta Jeremias.»
[Texto 544]