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Linguagista

Evacuar prédio/retirar pessoas

Não está tudo perdido

 

 

      «Um incêndio que deflagrou ontem à tarde num apartamento da Avenida do Uruguai, em Benfica, Lisboa, obrigou a evacuar o edifício. “Tivemos de retirar três pessoas do primeiro andar, onde ocorreu o fogo, e outras sete dos andares superiores, mas ninguém ficou ferido”, informaram os bombeiros» («Fogo obrigou a evacuar prédio em Benfica», Público, 3.10.2011, p. 19).

      Aqui está muito bem: os bombeiros evacuaram o prédio, as pessoas foram retiradas. Acontece que, ainda na semana passada, me disseram para «esquecer esse preciosismo».

 

[Texto 545] 

«Jeremíada/jeremiada»

Eu também insisto

 

 

      A crónica de Rui Tavares na edição de hoje no Público tem como título «Uma jeremíada». No fim do texto, esclarece: «Nota: sei que a maior parte dos dicionários indica que “jeremiada” se escreve sem acento, por influência da língua francesa, mas é intencionalmente que escrevo, como digo, “jeremíada”.»

      Ainda se lembra, é claro, do comentário que fiz a outra crónica no Assim Mesmo: «Tenho um peso na consciência. Na última crónica usei a certa altura a expressão “pessimistas jeremíadas” para me referir às crónicas de Pacheco Pereira, Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares. Peço desculpa. Trata-se de uma redundância: uma jeremíada é, por natureza, pessimista. Ainda tentei corrigir enviando uma emenda de última hora para “amargas jeremíadas”. Felizmente, não fui a tempo: uma jeremíada é sempre amarga; outra redundância. Quais eram as opções corretas? Repetitivas jeremíadas. Preguiçosas jeremíadas. Em última análise, redundantes jeremíadas» («Redundâncias», Rui Tavares, Público, 19.5.2010, p. 44).

      Consultei, num assinalável excesso de zelo, doze dicionários apenas para concluir o que já sabia: só jeremiada existe. Lamente-se, pois, Rui Tavares na próxima crónica pelos erros da penúltima e da última, reflexo, decerto, de uma silabada. O vocábulo chegou-nos da língua francesa, jérémiade, que também tem, como nós, o respectivo verbo, jérémier/jeremiar. Foi forjada a partir do nome do profeta Jeremias.»

 

[Texto 544] 

O Público errou

Colonia e colónia

 

 

      «Um erro na revisão final do texto “O poder de Alberto João Jardim à lupa”, publicado ontem, levou à colocação de um acento na palavra “colonia”, transformando esta em “colónia” e deturpando as duas referências feitas nesse texto ao “regime de colonia” que, segundo um dicionário, foi “um contrato entre o colono e o proprietário, na Madeira, pelo qual o colono perdia o direito às benfeitorias prediais”. As nossas desculpas aos leitores e ao advogado Cabral Fernandes» («O Público errou», Público, 3.10.2011, p. 30).

      Não corrigem as «exonerações da culpa», mas atrevem-se a pôr acento onde não devem. A ignorância dá nisto. Claro que o vocábulo não estar registado em alguns dos dicionários mais usados também contribui, e de que maneira, para estes disparates. E aquele «segundo um dicionário» também tem muito que se lhe diga. A citação é do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa — e deviam tê-lo referido.

 

[Texto 543] 

Tradução: «exoneration»

E ainda falam

 

 

      «Há quatro desfechos possíveis para o caso de Amanda Knox, uma estudante norte-americana condenada pelo assassínio da sua colega de quarto na cidade italiana de Perugia, em Novembro de 2007. Mas só um é aquele [sic] que Amanda espera ouvir hoje, quando o tribunal de recurso anunciar a sua decisão: a exoneração das queixas, que lhe permitirá sair em liberdade» («Amanda Knox sabe hoje se sai em liberdade ou fica presa», Rita Siza, Público, 3.10.2011, p. 11).

      A falta de ponderação quando se está perante um falso cognato leva a estes disparates. Rita Siza e os copidesques do Público acham que em português é assim que se diz? Então, traduzam também esta frase: «The accused was exonerated by the Grand Jury.»

 

[Texto 542]