Cinco vezes
«Manuel Ribeiro Gonçalves avança pelas pedras com a segurança de quem já as pisa sem ver. “Aqui não se apanha nada, se fosse lá mais abaixo...”, avisa, como que para arrefecer os ânimos. Mas não vale a pena ir mais para baixo, onde as margens do rio se tornam escarpadas e complicam o acesso à água. Serve mesmo aqui, mostre lá então como se faz. E ele mostra. Cava o areão, lava-o vigorosa mas meticulosamente na sua velha bateira. No meio do resíduo final, há alguns pontinhos que soltam lampejos amarelos à luz do sol. Ouro!» («O último garimpeiro da Foz do Cobrão», Luís Francisco, Público, 6.11.2011, p. 13).
Talvez o jornalista ouvisse mal: para a gamela em que se lavam os minérios, nunca vi que lhe dessem outro nome que não bateia. Parecido, sim. Em castelhano é batea, de onde provém o nosso vocábulo. O jornalista descreve bem o objecto: «Agita suavemente a bateira, bacia côncava escavada numa peça única de um tronco de árvore, fazendo rodar o conteúdo em círculos que de vez em quando ganham balanço para se juntarem à corrente.» «Bateira», tanto quanto sei, é a designação dada a uma embarcação sem quilha.
[Texto 638]