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Linguagista

Aspas

Sempre de meias-medidas

 

 

      «O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) apresentou anteontem um requerimento na Assembleia da República, dirigido ao ministro da Administração Interna, no qual solicita os estudos acerca do impacto da instalação de câmaras de videovigilância nos índices de criminalidade» («“Os Verdes” pedem dados sobre eficácia da videovigilância», Marisa Soares, Público, 16.11.2011, p. 30).

      Muitas coisas me fazem impressão — e esta, o nome de um partido entre aspas, é uma delas. Os partidos ecologistas noutros países não têm aspas: Los Verdes espanhóis, Les Verts franceses e suíços, a Federazione dei Verdi italiana, o Green Party britânico... Até os nossos irmãos Brasileiros têm o Partido Verde. É para realçar ou para atenuar o significado? Carago das aspas. Ah, carago não, carago.

 

 

[Texto 685] 

Acrónimo ROV

Sem espaço nem tempo

 

 

      «“Uma questão sensível era arranjarmos um novo Noruega. Era um ponto muito, muito crítico. Fizemos um levantamento dos barcos à venda e identificámos uns três ou quatro”, diz Assunção Cristas. “E nas negociações sensibilizámos a Noruega para o desenvolvimento das nossas acções, quer no estudo dos stocks de pesca, quer no que respeita ao uso do nosso ROV [o Luso, veículo operado à distância, que mergulha a seis mil metros] para pesquisar o fundo do mar.”» («Portugal vai ter novo navio de investigação do mar, que substituirá o velho Noruega», Teresa Firmino, Público, 16.11.2011, p. 16).

      Tudo inglês, o que não fica claro no artigo. ROV é o acrónimo de remotely operated vehicle.

 

[Texto 684] 

Como se escreve nos jornais

É o jornalismo!

 

 

      «Acontece que o mercado é igualmente lesto a propor outros produtos ilícitos em resposta às novas proibições. Os fabricantes de drogas sintéticas, assinala o relatório, cujos dados são relativos a 2009, estão a empregar técnicas sofisticadas para contornar as proibições legais: as substâncias químicas precursoras utilizadas na produção de drogas como o ecstasy são, por exemplo, disfarçadas em “substâncias químicas não-controladas”. Há, também, vários casos de produção de comprimidos de ecstasy através dos denominados “pré-precursores”. Confuso? É química» («Consumo das velhas drogas desce, ameaça das novas drogas aumenta», Amílcar Correia, Público, 16.11.2011, p. 14).

      Nada confuso, caro Amílcar Correia — sobretudo porque nem sequer tentou explicar. Mas está bem.

 

[Texto 683] 

«Mandato/mandado»

Caem sempre nos mesmos erros

 

 

      «A defesa, a cargo do advogado José Galamba, replicou que a esta lhe importava apenas a descoberta da verdade material e, num discurso que durou uma hora e meia, explorou as várias contradições entre as testemunhas e chegou mesmo a chamar “grandes mentirosos” a elementos da GNR, PSP e Polícia Judiciária que disseram que tinham esperado pelo mandato judicial antes de entrar na vivenda suspeita de Óbidos» («MP pede “pena elevada” para etarra de Óbidos», Carlos Cipriano, Público, 16.11.2011, p. 13).

      Mandato judicial. Também existe, é inegável, mas significa outra coisa: mandato que confere poderes de representação em juízo a um profissional do foro.

 

[Texto 682] 

Léxico: «irracionável»

Ai Weiwei

 

 

      «Mas numa entrevista por telefone à Reuters, o artista diz-se pessimista quanto ao êxito do recurso. “Todo o procedimento, até agora, todos os passos, foram ilegais e irracionáveis”, afirmou já depois do pagamento. “Não recebemos nenhuma explica- ção, por isso é muito difícil para nós esperar que o nosso pedido para uma revisão administrativa obtenha uma resposta razoável.”» («Ai Weiwei paga 930 mil euros para contestar crime fiscal», Público, 16.11.2011, p. 22).

      «The whole procedure, up till today, every step has been illegal and unreasonable», lê-se no texto da Reuters. Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «irracionável» significa que não tem fundamento, irracional. Para a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, e o velho Morais não atesta nada de muito diferente, contudo, irracionável é apenas o que é contrário à boa razão; desarrazoado; insensato, louco.

 

 

[Texto 681] 

Como se fala na rádio

A lenda do Pátio da Morte

 

 

      «Mas D. Lopo não tinha morrido ainda, e reunindo todas as forças que ainda possuía, ergueu-se a custo do chão e, com a espada, deferiu um golpe mortal a D. Alvim» (Mafalda Lopes da Costa, Histórias Assim Mesmo, 15.11.2011).

      Foi muita generosidade ter deferido, concedido um golpe mortal ao adversário, embora D. Alvim até preferisse, aposto, que o golpe fosse diferido. Está aqui o embrião de um exército invencível: Pedro Lomba a bramir o estandarte e Mafalda Lopes da Costa a deferir golpes.

 

 

[Texto 680]