Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Língua portuguesa

A língua da diáspora

 

 

      O português é a terceira língua mais falada em Andorra, diz o jornalista. Mas que português? A avaliar pelo discurso de Manuel Riscado, um dos manifestantes à porta da missão diplomática no principado, é uma mescla, um híbrido sem pés nem cabeça.

 

[Texto 701] 

Verbo «colocar»

Mais três colocações

 

 

      «Para este italiano, cabe aos políticos colocar em prática as decisões já acordadas, como o efectivo reforço do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e maior governação a nível económico» («A figura. Mario Monti», João Villalobos, Público, 20.11.2011, p. 32).

      «A aldeia foi colocada à venda por um dos dois proprietários, irmãos, no sítio da Internet da imobiliária inglesa Sotheby’s» («Aldeia à venda em Marvão já tem um investidor interessado», Maria Antónia Zacarias, Público, 20.11.2011, p. 41).

      «Terá sido a indústria que produz animais para a utilização das suas peles a responsável pela introdução “acidental”, em Portugal, de uma espécie exótica que está a colocar em risco recursos marinhos e a sobrevivência de animais que já tinham o estatuto de espécie ameaçada» («O vison americano não serve só para fazer casacos, também ameaça a lontra e o toirão», Susana Ramos Martins, Público, 20.11.2011, p. 43).

 

 

[Texto 700]

Jornais

Fiquem a saber

 

 

      Um leitor queixou-se por ter encontrado no jornal o aportuguesamento «tuitava». O provedor do Público parece ter empregado toda a semana para ouvir a redacção. «Discutido o caso, a direcção explica que decidiu banir a palavra criticada por Diogo Coelho, “uma vez que a falta de uma correspondência gráfica evidente entre ‘Twitter’ e ‘tuitar’ compromete a sua compreensão por parte do leitor”. “Seria melhor”, considera Bárbara Reis, “ter escrito ‘twittar’, pois aí a ligação com Twitter, o nome do programa, ficaria melhor estabelecida”. Argumentando ser “cada vez mais difícil fugir a neologismos (“blogar”, “postar”, etc.)”, acrescenta que “certas formas de aportuguesamento não contribuem para a fluidez na comunicação”. Admitindo que “utilizar o Twitter”, “escrever no Twitter” ou “via Twitter” seriam as “fórmulas ideais”, conclui: “Não consideramos errado escrever twittar”» («Eu tuíto, tu twittas, ele escreve no Twitter...», José Queirós, Público, 20.11.2011, p. 55).

      Vão lá procurar a «correspondência gráfica evidente» entre, por exemplo, football e «futebol». Bem, mas quase logo no início do texto fica a conclusão: «Ficam os leitores a saber que, se voltarem a encontrá-lo numa notícia do PÚBLICO, estarão perante uma falha na edição ou na revisão do texto.»

 

[Texto 699] 

O artigo inútil

Mais inutilidades

 

 

      «Diz agora o LAPD [Los Angeles Police Department], com uma convicção que pode ser manha, que RW, hoje com 81 anos, não é um suspeito» («Natalie Wood, morta», Miguel Esteves Cardoso, Público, 20.11.2011, p. 53).

      Para que serve o artigo indefinido nesta frase? Para nada, precisamente. Miguel Esteves Cardoso já devia ter reparado que os bons autores portugueses (e mesmo os maus) não abusam do artigo indefinido.

 

[Texto 698] 

O inglês inútil

Para quê?

 

 

      «A polícia de Los Angeles, a famosa LAPD, reabriu o caso da morte de Natalie Wood (NW). Morreu afogada em 1981 depois de ter estado a bordo de um iate ao largo da ilha de Catalina, na Califórnia. Tinha 43 anos.

      Estavam com ela mais três pessoas: o marido, Robert Wagner (RW), com quem casara pela segunda vez, depois de uma discussão de meia-noite, bem bebida e ciumenta, por causa do actor com que NW na altura contracenava; Christopher Walken (CW), a segunda pessoa presente, que os outros dois homens dizem ter estado a dormir enquanto tudo aconteceu e, finalmente, o skipper do barco, Dennis Davern, que agora desmente o que disse na altura e alega que não foi um acidente» («Natalie Wood, morta», Miguel Esteves Cardoso, Público, 20.11.2011, p. 53).

      Susana Almeida Ribeiro, que contou ontem a história no «P2», não precisou da palavra inglesa: escreveu sempre «comandante» e «comandante do iate».

 

 [Texto 697]

Regência: «ansiar»

Já não sabemos ansiar

 

 

      «Victor Frutuoso diz que, há cerca de quatro ou cinco anos, houve um empresário holandês interessado em fazer um empreendimento turístico relacionado com a gastronomia, produtos biológicos, hotelaria de grande qualidade, “mas não teve sucesso no financiamento”. Agora, todos anseiam para que a história não se repita» («Aldeia à venda em Marvão já tem um investidor interessado», Maria Antónia Zacarias, Público, 20.11.2011, p. 41).

      Desconheço essa regência do verbo «ansiar» — como a jornalista ignora a regência correcta: ansiar + por. Bem, só erra na preposição.

      «Às vezes, só às vezes, abreviava essas leituras saltando períodos..., e, coitado! o avô estava já velho e não dava pelas inevitáveis lacunas dos artigos assim lidos. Eu ansiava por que ele me abandonasse o jornal para ler o folhetim» (Confissão Dum Homem Religioso, José Régio. Lisboa: INCM, 2001, p. 55).

 

[Texto 696]