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Linguagista

Sobre «meu»

Só uma perguntinha

 

 

      Quando se começou a usar «meu» como forma de interpelação coloquial? «Anda cá, meu.» Aqui um autor põe uma personagem a usá-la no final dos anos 60. Não estará aqui um anacronismo com o rabo de fora?

 

[Texto 708]

Uso e abuso do inglês

Anti-séptico vermelho

 

 

      «Chegou a escrever», diz Pedro Lomba a Vasco Pulido Valente, «no tempo do cavaquismo, que o país estava a passar por um processo de transformação que relembrava o século XIX. Será que o país se transformou?» «Estava a passar. O país transformou-se. Foi o Cavaco que, como lhe disse, pôs o carro a descer a encosta. Ele criou aos portugueses o sentido de entitlement, quando o Estado lhes dava qualquer coisa isso passava a ser um direito. Transformou Portugal. Eu tenho um artigo qualquer que se chama “Homus Cavaquensis”. Isso não foi um erro, foi uma profecia que acabou por se verificar. Se foi esse o grande erro que eu fiz... Eu costumava fazer campanhas eleitorais com um amigo meu que era médico. Entrávamos no distrito de Leiria e ele dizia-me sempre, isto em 1980, “agora vai devagarinho que aqui o Hospital de Leiria só tem algodão e mercúrio cromo”. Anos depois, há hospitais moderníssimos. O Cavaco subiu as expectativas dos portugueses absurdamente» («“Não vejo porque é que um colunista deva ser capado politicamente”», entrevista de Pedro Lomba a Vasco Pulido Valente, «P2»/Público, 21.11.2011, p. 6).

      Alguém virá jurar que entitlement é intraduzível. Há ali não sei que matiz, dirão, que não é dado por nenhum vocábulo português. Ah, e é mercurocromo que se escreve, caro Pedro Lomba. Por outro lado, vejam como Vasco Pulido Valente fala: «Se foi esse o grande erro que eu fiz...»

 

 

[Texto 707]

Verbo «colocar»

Cartas de Varsóvia e ovos

 

 

      “Não colocar os ovos todo no mesmo cesto” costumava ser uma expressão preferida do dr. Mário Soares, para designar o bom senso e sentido de equilíbrio do povo português. É uma boa expressão, que designa uma atitude falibilista, de abertura intelectual, e de cepticismo quanto aos grandes desígnios uniformizadores. Seria importante que os europeístas compreendessem que esse princípio é hoje de novo fundamental para salvar a unidade da família europeia» («Europa: todos os ovos no mesmo cesto?», João Carlos Espada, Público, 21.11.2011, p. 29).

      O Dr. Mário Soares dizia mesmo assim? Bem, prefiro o Boletim Geral das Colónias: «Pouco a pouco teve-se a realidade de que o caminho da opulência não é fácil e que não é ajuizado pôr todos os ovos no mesmo cesto» (Agência Geral das Colónias, 1938, p. 188).

      Devem recear, coitados, ser confundidos com galinhas... Rui Sá, ex-vereador comunista da Câmara Municipal do Porto, também não faz perguntas: «Fundamentalmente porque tenho todo o à-vontade para colocar questões.»

 

[Texto 706] 

Para começar a escrever

O básico. Um bom conselho

 

 

      «Que conselhos é que daria a quem escreve?», pergunta Pedro Lomba a Vasco Pulido Valente na entrevista que lhe fez para o «P2»/Público. «Primeiro, aprender a escrever. Convém. Com tudo o que isso implica. Segundo, saber algum assunto muito bem, uma disciplina muito bem, ou economia, ou história ou outra coisa qualquer. Ter uma formação básica boa. E depois, em princípio nunca falhar, porque uma coluna é um hábito. As pessoas lêem o jornal, estão habituadas, é mais uma questão de hábito. “Deixa-me ver o que é que este diz hoje?” Se as pessoas falham ou são irregulares ou salta-pocinham muito... Por exemplo, eu começo sempre a ler a Spectator pelo Taki [Theodoracopulos, comentador político]. Ele nunca falha. Só falhou há 30 anos quando foi preso, mas depois continuou a escrever.»

 

 

[Texto 705] 

Ortografia: «contranarrativa»

Mesmo excepcional

 

 

      «E, numa altura em que 71% dos americanos dizem que a estatura dos Estados Unidos no mundo está em queda, a insistência no tema do excepcionalismo oferece a alguns eleitores uma “contra-narrativa reconfortante”, como nota o New York Times» («Menos americanos acreditam que a sua cultura é superior», Kathleen Gomes, Público, 20.11.2011, p. 16).

      No New York Times por acaso não tem hífen — counternarrative —, como em português também não deve ter. E aí estão dois vocábulos que talvez nenhum dicionário da língua portuguesa registe: contranarrativa e excepcionalismo.

 

 

[Texto 704]

Como se fala na rádio

Porque era de madrugada

 

 

      Carlos Guerreiro, no noticiário das 7 da manhã de ontem na Antena 1: «O treinador da Académica, Pedro Emanuel, realçou o comportamento dos seus jogadores neste dia que considerou de histórico.» Já vimos que considerar como é menos correcto. Considerar de é invencionice do jornalista.

 

[Texto 703]