Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

«De modo que»

Híbridos

 

 

      «O enredo do romance conta como Józio, um homem de 30 anos, é submetido a um rigoroso (e paródico) processo de infantilização, de modo a que volte a ser um adolescente inocente e ingénuo. É encaminhado para a inenarrável escola do professor Piórkowski, especializada em educar uma juventude inquieta e disparatada, que resiste ao ensino proferindo palavrões muito selvagens» («Infantilização em curso», Jorge Marmelo, «P2»/Público, 29.11.2011, p. 3).

      Não se deve empregar tal locução. Já tínhamos «de modo que», mas depois veio o galicismo «de modo a», «de maneira a», «de forma a». «Alguns escritores modernos», notou José Leite de Vasconcelos, «até somam as duas sintaxes uma com a outra, e dizem de maneira a que, não ficando pois nem português nem francês.»

 

[Texto 740] 

Como se escreve nos jornais

Palavras a mais

 

 

      «Actor de papéis principais, Cary Grant ficou como uma das caras mais populares dos clássicos de Hollywood. Nasceu em 18 de Janeiro de 1904 e morreu às 23h22 do dia 29 de Novembro de 1986, aos 82 anos, em Davenport, Iowa, no hospital de St. Luke, com uma hemorragia cerebral. Cary Grant era o nome artístico de Archibald Alexander Leach, um actor britânico que mais tarde se naturalizou como cidadão americano. Ao longo da carreira foi destacado inúmeras vezes» («O actor Cary Grant morre aos 82 anos», «P2»/Público, 29.11.2011, p. 2).

      Senhor jornalista, bastaria ter escrito «se naturalizou [cidadão] americano». E a última frase traz-nos logo à memória os militares que são destacados — enviados — para fazer serviço fora do corpo a que pertencem.

 

 

[Texto 739]

Acordo Ortográfico

Essa máquina diabólica

 

 

      Já chegou às livrarias o Dicionário de Luís de Camões (Caminho), com coordenação de Vítor Aguiar e Silva. Afinal, não se esqueceram (ou acrescentaram-lhe?) a preposição (de que falámos aqui). «Reconhecido contestatário do Acordo Ortográfico», lê-se na edição de hoje do Público, «Aguiar e Silva não se opôs a que a Caminho publicasse o dicionário seguindo a nova ortografia. A verdade é que, diz o coordenador, a passagem do texto pelo crivo do corrector ortográfico – “essa máquina diabólica que tem efeitos devastadores”, como o classificou – deixou algumas marcas. Dá como exemplo as palavras “recepção” e “acta”, que perderam o “p” e o “c”, contrariando a ortografia tradicional de ambos os países. “Mas isso não afecta o essencial, que é este dicionário ter uma informação rica, variada e de excelente qualidade”, acredita Aguiar e Silva» («Dicionário sobre o “estado da arte” dos estudos camonianos já está nas livrarias», Sérgio C. Andrade, Público, 29.11.2011, p. 12).

 

[Texto 738]