Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

«Criar cardeais»

Habetis fratres

 

 

      «Nos consistórios anteriores, o Papa “criou” (verbo utilizado na Igreja para esta designação) 62 cardeais, dos quais 57 ainda estão vivos. Desses, 40 são ainda eleitores do seu sucessor. Com os 22 nomes agora anunciados, mais de metade do futuro conclave terá sido nomeado por Bento XVI» («Nomeação de 22 novos cardeais acentua componente europeia em futuro conclave», António Marujo, Público, 7.01.2012, p. 20).

      Estaria perfeito sem as aspas, caro António Marujo. Em quase todas as línguas: crear cardenales; creare cardenali; create cardinals; creér cardinaux...

 

[Texto 925]

Plurais de nomes próprios

Estes são estranhos

 

 

      «Outros sonham vir a nelas realizar a sua redenção, como se de novos Robinsons Crusoés se tratasse, ou como se inventassem eles o próprio naufrágio, na ilha do deserto e do sonho final» (Dicionário de Paixões, João de Melo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1994, p. 99).

      Só transcrevo o excerto por causa do plural Robinsons Crusoés. (A primeira oração até me parece bem infeliz para um romance — mas aproveitável para o município de Nelas, no distrito de Viseu: Outros sonham vir a Nelas.) Esta semana, alguém escreveu (e que não se toque sem autorização!) «os novos Robinson Crusoe». E na semana passada tinha lido «Sãos Josés e Jesuses». Jesus!

 

[Texto 924]

Léxico: «mico»

Lá no Brasil

 

 

      «Como todas as aldeias, o Rio de Janeiro tem uma moral. O altar da moral carioca é o biquíni carioca. Nenhum biquíni no mundo deixa tão de fora a bunda, também conhecida como bumbum ou instituição nacional. Mas tentem achar uma carioca sem a parte de cima do biquíni: só noutra parte do mundo. Nas praias do Rio, a carioca já sai da onda compondo a parte de cima. Peito de fora é um “mico”. “Mico” é vexame» («Fio dental sim, Nan Goldin não», Alexandra Lucas Coelho, «P2»/Público, 7.01.2012, p. 8).

      Ou, como se lê no Minidicionário da Língua Portuguesa da Ediouro, «coisa desagradável que se procura evitar».

 

[Texto 923]

A linguagem maçónica

JPP e os filhos da viúva

 

 

      José Pacheco Pereira fala hoje dos novos mações, e, a respeito da sua linguagem, escreve: «A linguagem maçónica que usam não pode ser mais elaborada do que a linguagem que usam na política, uma mistura de SMS, twitter e “politiquês”» («Encontros imediatos do terceiro grau com as maçonarias», Público, p. 32).

 

[Texto 922] 

Reler e rever

À beira do abismo

 

 

      O texto do jornalista e crítico literário Carlos Câmara Leme («A cultura da leitura à beira do abismo», p. 35) na edição de hoje do Público reflecte o que o senso comum repete sobre o ensino e a cultura actuais. O pior é que o autor se esqueceu de reler o texto (e claro que não houve revisão). A título de amostra, eis alguns excertos: «Mas os hábitos de leitura dos portugueses continuam muito a desejar. Porém, o mais grave de todos eles é que, de repente, deixámos de ler autores que, aqui há 30 anos, eram lidos e relidos. Sublinhe-se. Nem por todos, é verdade. Sempre houve e haverá elites culturais, sobretudo devido ao seu estatuto socioeconómico, que determina aquilo que é um designado como um obra clássica ou contemporânea.» «Quando ouvimos o professor catedrático Vítor Aguiar e Silva (V.G.S.), o coordenador do Dicionário Luís de Camões (Caminho), vindo agora a lume, dizer que “existem nalgumas faculdades de Letras uma ausência total de Camões nos currila” [...]» «Aonde é que param os textos/autores canónicos da história da literatura portuguesa? As Cantigas de Amigo

 

 

[Texto 921] 

Sobre «formatar»

Não era preciso

 

 

      «O Papa Bento XVI nomeou ontem 22 novos cardeais, que receberão o barrete e o anel cardinalício a 18 de Fevereiro, num consistório convocado para o efeito. A lista dos novos purpurados acentua uma composição europeia e italiana do grupo de eleitores de um futuro Papa – mais formatado também à imagem do Papa Bento XVI» («Nomeação de 22 novos cardeais acentua componente europeia em futuro conclave», António Marujo, Público, 7.01.2012, p. 20).

      Não temos acaso uma forma mais portuguesa de dizer o mesmo? Mas vejo que este neologismo da área da informática goza de mais simpatia — não minha — do que outros. Acessar, deletar, inicializar, resetar...

 

[Texto 920]