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Linguagista

Tradução: «bacon»

Ham, bacon...

 

 

      Bacon é sempre traduzido por... bacon ou, indulgência máxima, por toucinho fumado. É o que se lê no Dicionário Inglês-Português da Porto Editora, por exemplo. O Michaelis regista algo semelhante: «toicinho defumado». Então como traduziriam uma frase como a que se segue? «Fry up some bacon, and have it for breakfast.» Não quero lançar um número qualquer para o ar, mas na esmagadora maioria das vezes, bacon não é traduzido. Justificar-se-á esta opção dos tradutores?

 

[Texto 1061]

«Is your belly growling?»

Tudo o mesmo

 

 

      «Is your belly growling?», pergunta a autora. «Tem a barriga a dar horas?», verteu a tradutora. To growl é rosnar ou roncar, e nós também podemos dizer: «Tem a barriga a roncar?» A minha filha, contudo, que não tem ainda 5 anos, diz sempre «a barriga a resmungar». Deve ter aprendido com Agustina Bessa-Luís em A Ronda da Noite: «Uma cama vazia é como a barriga vazia, resmunga sempre.»

 

[Texto 1060]

«Ouvisto»!

Enquanto é tempo

 

 

      Um repórter da RTP foi ontem perguntar a crianças que estavam a ser transportadas num autocarro escolar, em Baião, o que quer dizer «tiritar». «Eu nunca tinha ouvisto essa palavra», respondeu uma menina. Erro que só os analfabetos dão? No dia 30 de Janeiro, a propósito da obra Harry Potter and the Deathly Hallows, ouvi uma professora (se me torturarem, digo o nome) dizer: «Não tinha ouvisto este título.» Pois é, de pequenino, etc.

 

[Texto 1059]

Língua quase morta

Mais importante do que o acordo

 

 

      André Abrantes Amaral não prevê nem supõe — afirma: «Porque o problema do acordo é precisamente esse: mudar a nossa forma de escrever e, se lermos convenientemente, de falar»  («Sopa de letras», André Abrantes Amaral, i, 4.02.2012, p. 12). Por outro lado (que há sempre, parece), o autor não pontua de forma recomendável e mostra ignorar a metalinguagem: «Veja-se a título de exemplo, as palavras como projecto, exacto, acção e directo, que lemos acentuando as vogais que antecedem a consoante muda.» Mal pontuada e francamente desengonçada: «Ora, que mais não é uma língua que muda por decreto, que uma língua morta?»

 

[Texto 1058]

Objectivos do AOLP90

A língua sem segredos

 

 

      «Qual a razão de ser do acordo ortográfico? Dizem os seus defensores que é para facilitar o comércio com o Brasil, ou aproveitar a influência que este vai ter no mundo. Eficiência. A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas as destruir, eliminando letras. Apagando as suas especificidades. Os seus vários significados que estão na posse de quem gosta da língua e a aprende e a usa em todo o seu potencial. O objectivo do acordo é esse: não tendo a língua segredos, não haja quem os descubra. Todos a falar e a escrever o mesmo» («Sopa de letras», André Abrantes Amaral, i, 4.02.2012, p. 12).

      A língua sem segredos, André Abrantes Amaral? Isso existe? Tudo o que é mais importante da língua está sob a epiderme que é a ortografia.

      Analisemos agora uma frase do texto, esta: «A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas as destruir, eliminando letras.» Há algum elemento que exija, recomende ou justifique a próclise nesta frase? A próclise também se tem de usar com elementos omitidos? «A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas [ao ponto de] as destruir, eliminando letras.»

 

[Texto 1057]

«Absolutamente»

Também vem de trás

 

 

      «A legalidade da decisão noticiada ontem pelo “Público” suscita dúvidas, mas a ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, defende que as novas regras se aplicam já ao CCB. “Absolutamente. É uma instituição pública. O ordenamento jurídico estabeleceu o dia 1 de Janeiro como a data de aplicação interna. Tudo o resto que não suceda nesse sentido é uma atitude que está acima da lei”, diz ao i Canavilhas» («Governo dá razão a Graça Moura. CCB pode aplicar acordo só a partir de 2014», Luís Claro, i, 4.02.2012, p. 29).

      Nestas coisas, não há acordo que nos valha: «além de advérbio de modo, esta palavra é empregada no Brasil como advérbio de negação e em Portugal como advérbio de confirmação».

 

[Texto 1056]

«Trás/traz»

Vem de trás

 

 

      «Depois de quatro meses de ausência por motivos financeiros, “The Printed Blog Portugal”, a versão portuguesa da revista norte-americana que trás para o papel textos publicados na blogosfera, está a preparar o seu regresso ainda para este mês» («“The Printed Blog”. Regresso às bancas», i, 4.02.2012, p. 42).

      Gralha? Lapso? Não: confundem verbos com preposições. E é erro — elementar mas crasso — mais comum do que se possa pensar.

 

 

[Texto 1055]

Ortografia: «rubrica»

Ainda?

 

 

      «O ex-director de informação das rádios do grupo RTP assumiu ontem toda a responsabilidade pela suspensão da rúbrica de opinião “Este Tempo” na Antena 1» («Ex-director de informação da RDP nega “pressões internas e externas”», Márcia Oliveira, i, 4.02.2012, p. 42).

      Cara Márcia Oliveira, escreve mal porque também há-de pronunciar incorrectamente: rubrica, em todas as acepções, é vocábulo paroxítono, e por isso deve pronunciar-se /brí/ e não /rú/.

 

 

[Texto 1054]