A língua sem segredos
«Qual a razão de ser do acordo ortográfico? Dizem os seus defensores que é para facilitar o comércio com o Brasil, ou aproveitar a influência que este vai ter no mundo. Eficiência. A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas as destruir, eliminando letras. Apagando as suas especificidades. Os seus vários significados que estão na posse de quem gosta da língua e a aprende e a usa em todo o seu potencial. O objectivo do acordo é esse: não tendo a língua segredos, não haja quem os descubra. Todos a falar e a escrever o mesmo» («Sopa de letras», André Abrantes Amaral, i, 4.02.2012, p. 12).
A língua sem segredos, André Abrantes Amaral? Isso existe? Tudo o que é mais importante da língua está sob a epiderme que é a ortografia.
Analisemos agora uma frase do texto, esta: «A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas as destruir, eliminando letras.» Há algum elemento que exija, recomende ou justifique a próclise nesta frase? A próclise também se tem de usar com elementos omitidos? «A sempre velha eficiência, não ao ponto de eliminar palavras, mas [ao ponto de] as destruir, eliminando letras.»
[Texto 1057]