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Linguagista

Acordo Ortográfico em Angola

Uma lição africana

 

 

      «O principal jornal diário angolano, Jornal de Angola, detido pelo Estado, publicou um editorial dedicado ao Acordo Ortográfico, ao qual tece duras críticas, defendendo que “há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam”» (Público, 10.02.2012, p. 21). Gostava de ler, mas não encontro o texto.

 

[Texto 1090]

Caracteres especiais

E muito bem

 

 

      «No campo, perto de Budapeste, a equipa de Susanne Åkesson, da Universidade de Lund, na Suécia, criou quatro modelos de cavalos, cada um pintado de castanho, preto, branco e com riscas pretas e brancas. “Pusemos uma cola especial nos modelos e depois contámos o número de moscas atraídas por cada um”, disse Åkesson à BBC» («Zebras têm riscas pretas e brancas para se protegerem de picadelas de insectos», Público, 10.02.2012, p. 21).

      Como sempre defendi, tenho mesmo textos no Assim Mesmo sobre o assunto, eis que os jornais começaram a usar de forma sistemática os caracteres especiais de certas línguas, como é o caso do å.

 

[Texto 1089]

Espécies botânicas e zoológicas

Qual planta?

 

 

      «O escaravelho da palmeira está a ameaçar as três centenas de exemplares desta planta existentes no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, que não tem dinheiro para proteger todas as plantas em risco» («Escaravelho ameaça três centenas de palmeiras no Jardim Botânico», Ana Henriques, Público, 10.02.2012, p. 23).

      Quando lhes dá jeito — se é que têm consciência de tal —, seguem a regra do novo acordo ortográfico que manda usar hífenes nos nomes de espécies botânicas e zoológicas. Claro, agora não dava mesmo jeito: «O escaravelho-da-palmeira está a ameaçar as três centenas de exemplares desta planta, etc.»

 

[Texto 1088]

«Necessidades biológicas»

Isto está a mudar

 

 

      «Uma mulher de 77 anos viveu durante quase um ano fechada numa garagem de uma habitação em S. Cosme, Gondomar. Era a própria filha que a mantinha retida no espaço, onde dispunha apenas de um sofá velho onde dormia e de uma lata que usava para as suas necessidades biológicas» («Fechou mãe na garagem durante um ano», Pedro Sales Dias, Público, 10.02.2012, p. 23).

      Não está errado, não, senhor, mas dantes só se ouvia e lia necessidades fisiológicas.

 

 

[Texto 1087]

«Comer vegetais»

Veggies, always!

 

 

      «Bobbi Brown deu apoio com as suas maquilhagens e disse: “Quand [sic] comecei [a colaborar com este desfile], há sete anos, não sabia que as doenças do coração são a primeira causa de morte das mulheres”. Brown deu conselhos: não fumar, beber muita água, comer vegetais, ter um estilo de vida saudável. “Não é só bom para o corpo, é bom para a vida, é bom para o cabelo, é bom para rosto”, defendeu» («Nova Iorque. Mulheres de vermelho contra os males do coração», «P2»/Público, 10.02.2012, p. 19).

 

[Texto 1086]

Sobre «bilíngue»

Bem lembrado, mas

 

 

      «A cedência à ortografia brasileira talvez faça vender alguns dicionários mas será altamente prejudicial para a aprendizagem da língua pelas futuras gerações de Portugueses da Europa, que já não precisam de ser desajudados. As profundas alterações introduzidas pelo presente “acordo” na ortografia portuguesa não são equivalentes à substituição do “ph” de “pharmácia” por “f”, pois esta alteração não afectou a fonética da palavra, como a supressão do “c” mudo afectará a pronúncia dos compostos do étimo “afecto” se este “acordo” for por diante. Ignora Rui Tavares o que aconteceu ao fonema “güe” na palavra “bilingüe” quando o trema foi suprimido em Portugal (o Brasil não nos acompanhou e fez bem)?» («Consoantes mudas ou colunistas surdos?», Manuel Villaverde Cabral, Público, 10.02.2012, p. 33).

      Bem lembrado. Aconteceu o que se ouve aqui no Prontuário Sonoro. Embora — diga-se — nada tenha que ver com consoantes, mudas ou palradoras. Tem que ver com uma reforma ortográfica e com a falta que faz este sinal gráfico, que em má hora foi eliminado da língua portuguesa.

 

[Texto 1085]

Como se fala na televisão

Por parte de todas as partes

 

 

      Rita Marrafa de Carvalho, em directo da Praça do Munícipio, ontem à noite: «Foram quatro longas horas aqui no Tribunal da Relação para ouvir estas alegações finais por parte de todas as partes que dizem respeito a este processo que é o Processo Casa Pia sem qualquer pausa. Ricardo Sá Fernandes foi de facto o mais intenso, aquele que com maior intensidade e veracidade se mostrava indignado perante as suas alegações finais.»

 

[Texto 1084]

De escombro em escombro

Um aviso a precisar de talas

 

 

      O aviso de D. Januário Torgal Ferreira, ordinário castrense das Forças Armadas e de Segurança, não saiu lá muito escorreito: «Começo a sentir o cheiro à queda do regime. Não me admiraria que, de escombro em escombro, este governo pudesse ter horas contadas. Que não.» Saiu tão bem ou tão mal, na verdade, como estoutra: «A questão social está a ser perfeitamente esbulhada, nos seus direitos e deveres, nesta hora, em Portugal.»

 

[Texto 1083]

Água-de-colónia/«eau de toilette»

Sistematizar

 

 

      Há-de ser por facilidade que o Dicionário Francês-Português da Porto Editora dá como tradução de «une eau de toilette au chèvrefeuille» «uma água-de-colónia de madressilva», pois o próprio Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista que a eau de toilette é a «solução preparada com álcool, água e diversas essências aromáticas, de concentração superior à da água-de-colónia e inferior à do perfume». E José Pedro Machado também escreveu que a eau de toilette é a «loção perfumada, mais do que a água-de-colónia e menos do que o perfume propriamente dito». Segundo os manuais de perfumaria, a eau de toilette tem entre 4 % e 8 % de óleo essencial; a água-de-colónia, entre 2 % e 5 %. Nem vale a pena complicar com a eau de parfume ou o splash ou splash cologne.

      E, segundo o Acordo Ortográfico de 1990, não se esqueçam: «Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).»

 

[Texto 1082]