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Linguagista

«Por arrasto»

Oratória franca

 

 

      «Este falar com franqueza, ou este falar livre (não é por acaso que os franceses dizem “franc parler” e os ingleses “free speech”, discurso franco ou discurso livre) era uma prática a que os antigos gregos chamavam “parrhesia”. Na Grécia antiga o conceito de parrhesia significava literalmente “falar tudo” e, por arrastamento, “falar livremente”, “falar ousadamente”, o que em certos contextos era não só necessário como inescapável» («O processo da verdade», Pedro Lomba, Público, 5.04.2012, p. 48).

      A locução é por arrasto, ou seja, como consequência. Curiosamente, é mais frequente ver-se na oralidade do que na escrita.

      «Quero que me tenhas em atenção, que me observes. Mas babado e indulgente para contigo e, por arrasto, para comigo, não desejo ver-te» (O Pequeno Mundo, Luísa Costa Gomes. Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 159).

 

[Texto 1322] 

Gralha que esconde erro

Enunciar um a um

 

 

      «Depois de Tina Fey na televisão e Julianne Moore (no filme Game Change) terem imitado Sarah Palin, eis que a ex-governadora do Alasca volta a ser alvo de novo, agora pela verdadeira... Sarah Palin. Aconteceu no programa Today, onde brincou com algumas das suas gaffes na campanha eleitoral de 2008. Exemplos: numa entrevista na altura justificou a sua experiência em política externa com a proximidade do Alasca à Rússia e não conseguiu numerar nenhum jornal que lesse com regularidade» («Sarah Palin imita... Sarah Palin», Público, 5.04.2012, p. 39).

      Seria «enumerar» que queriam escrever — mas mal, pois no contexto o termo adequado seria «referir», por exemplo, ou «citar», ou «mencionar».

 

[Texto 1321]

Léxico: «ioctograma»

Demasiado pequeno

 

 

      «A balança é feita com um minúsculo nanotubo de carbono e mede, no vácuo, a massa através da mudança de frequência da vibração, quando uma molécula de naftaleno ou um átomo de xénon assenta no tubo. A sua sensibilidade é de 1,7 ioctogramas (0,0000000000000000000000017 gramas)» («Fabricada a balança mais sensível de sempre», Público, 5.04.2012, p. 22).

      Os dicionários é que não chegam lá. Ainda supus, inicialmente, que pudessem registar o vocábulo com i grego, mas nem isso.

 

[Texto 1320]

«Bamako/Bamaco»

E não será por acaso?

 

 

      «A AFP dá conta de que “os islamistas estão em vantagem”, em particular na cidade de Tombuctu, enquanto os conspiradores em Bamaco, a capital, “procuram uma saída honrosa” para o vazio político e uma crise humanitária, com mais de 200 mil deslocados internos» («No Mali pode criar-se uma pátria tuaregue ou um narco-Estado?», Margarida Santos Lopes, Público, 5.04.2012, p. 21).

      «Na capital do Mali, Bamako, há um clima de grande preocupação, com a junta militar no poder a tentar negociar um cessar-fogo e a ser pressionada para restabelecer a Constituição no país» («Tuaregues dividem Mali e conquistam Tombuctu», Luís Naves, Diário de Notícias, 2.04.2012, p. 25).

      É habitualmente ao contrário: no Diário de Notícias os topónimos estrangeiros são aportuguesados, ao passo que para o Público estas são questões claramente despiciendas.

 

[Texto 1319]