«Atericiado»
Os que não morriam salvavam-se
«Na quarta-feira passada ouvi Nuno Crato na TVI 24. Afirmou que não há razões pedagógicas para dizer que 30 alunos por turma seja mau. Perante o esboço de contraditório do entrevistador, perguntou-lhe quantos alunos tinham as turmas no tempo dele. Esta conversa não é de ministro. É de farsola, que não distingue pedagogia de demagogia. No meu Alentejo e no meu tempo, não raro se encontravam à porta de uma ou outra casa, em dias de sol, dejectos humanos a secar. Eram de um doente com icterícia, que os tomaria posteriormente, secos, diluídos e devidamente coados. Pela ministerial lógica justificativa, bem pode Sua Excelência anotar a receita para os futuros netos. Garanto-lhe, glosando Américo Tomás, pensador do mesmo jeito, que os que não morriam salvavam-se!» («Os farsolas do regime», Santana Castilho, Público, 25.04.2012, p. 45).
Não conhecia esta peculiar forma de tratamento dos ictéricos. Ou atericiados, como se dizia antigamente, leio aqui na Estilística da Língua Portuguesa, de Rodrigues Lapa. Confirmem aí na página 74 da 11.ª edição, de 1984.
[Texto 1426]