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Linguagista

«Disse eu cá com a minha roupeta»

Disse para comigo

 

 

      Esta só já em selectas: «Aqui temos o gancho (disse eu cá com a minha roupeta), e fui-me atrás do enterro, por detrás da igreja de S. João; esperei que acabassem o responso; dei fé d’onde puzerão o corpo, e marquei as entradas e sahidas» («Os três cegos», Padre Manuel Bernardes, in Livraria Clássica – Excerptos dos Principais Autores de Boa Nota. António e José Feliciano de Castilho (orgs.). Rio de Janeiro: Livraria de B. L. Garnier, Editor, 1865, p. 254).

 

 [Texto 1769]

«Indiano/índio»

Antes ameríndia

 

 

      Um secretário do consulado argentino em Barcelona explicou então que o banqueiro Rodolfi, italiano estabelecido desde rapaz na Argentina, era casado com uma «nativa indiana», escreve Teixeira-Gomes. Digamos que é um erro paralelo ao de Cristóvão Colombo. Que deve fazer o editor dos nossos dias? Deixar estar? Apor uma nota de rodapé? Corrigir?

 

 [Texto 1768]

«Incontinente/incontinenti»

Moderação

 

 

      «O pai notou a impressão, voltando-se incontinente a ver quem a provocara, e calculando que fosse eu teve um movimento de viva contrariedade» (Novelas Eróticas, M. Teixeira-Gomes. Lisboa: Portugália Editora, s/d [mas de 1961], 2.ª ed., p. 129).

      São poucos os dicionários, vocabulários e prontuários que registam o advérbio incontinenti: imediatamente, sem demora, sem perda de tempo, no mesmo instante. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exemplo, só regista «incontinente»: que não tem continência; descomedido; imoderado.

 

 [Texto 1767]

Ortografia: «acareação»

Enfrentar o dicionário

 

 

      «Os deputados quiseram saber porque a ERC não fez uma acariação entre o ministro e a editora de política, a quem Miguel Relvas terá transmitido as ameaças, mas os membros da ERC consideram não ter competências para fazer tal confrontação» («Membro da ERC diz-se vítima de chantagem», Maria Lopes, Público, 5.07.2012, p. 8).

      Acarear ou carear, senhora jornalista. Não há dicionário moderno que registe coisa diversa. Uma curiosidade: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ainda acolhe, como regionalismo (o que nunca foi), a acepção atrair com afagos; tornar caro ou querido.

 

 [Texto 1766]

Sobre «sound bite»

Mais uma mordidela na língua

 

 

      «Pertenceu a Narana Coissoró, antigo deputado e dirigente do CDS, o melhor sound bite, ontem, sobre o caso de Relvas. Admitindo à TSF que nunca viu ninguém tirar num ano um curso de três, Coissoró, professor de várias cadeiras de Ciência Política na Lusófona, acrescentou: “É absolutamente excecional. Há muitas personalidades a quem se dá o doutoramento honoris causa, mas não conheço nenhum caso de licenciatura honoris causa.”» («Professores contestam turbocurso», P. S. T/J. P. H., Diário de Notícias, 5.07.2012, p. 32).

      Não passava, garanto, o famigerado exame Vieira (de Joaquim Vieira, ex-provedor do jornal Público): «Será que os meus pais vão perceber o que escrevi?»

 

 [Texto 1765]

«Micro-Becquereis»!

Ora, ora, que temos aqui?

 

 

      «Ou em proporção ainda maior: a sua roupa interior apresentava níveis de polónio-210 de 180 micro-Becquereis (unidade de medida da radioatividade) enquanto um valor de controlo registou 6 microBequereis» («Palestinianos querem provar assassínio de Arafat», Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias, 5.07.2012, p. 22).

      Isto é deveras impressionante! Como é que numa curta linha o jornalista escreveu o nome da unidade de duas formas? E, para mais, as duas erradas. Apesar de derivar de um nome próprio, escreve-se com minúscula: becquerel. O símbolo é que é com maiúscula: Bq. Logo, sendo com minúscula, não precisa de hífen: microbecquerel. E, por fim, o plural é becquerels, não becquereis.

 

 [Texto 1764]

«Gigaelectrãovolt»!

Não pode ser

 

 

      E hoje o mesmo. Dois dias seguidos. Como é possível que a jornalista julgue possível escrever dessa forma a palavra? Gostava de conhecer a explicação. «Tem razão, Helder Guégués. Foi o velhaco do paginador que me fez isto. Veja lá!»

      «A existência desta nova partícula, encontrada numa zona de massa entre os 125 e os 126 GeV (gigaelectrãovolt), condiz com o que se esperava do bosão previsto por Higgs» («Confirmar que é o bosão de Higgs pode levar anos», Filomena Naves, Diário de Notícias, 5.07.2012, p. 26).

 

 [Texto 1763]