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Linguagista

Léxico: «ajeitadela»

Mais uma falha

 

 

      Um leitor quis saber se a palavra «ajeitadela» está registada em algum dicionário, vocabulário ou prontuário. Nunca a vi escrita, foi o que respondi e confirmo. E, contudo, usa-se de norte a sul do País, não é regionalismo. Ora, devia figurar nos dicionários ao lado de outras da mesma natureza, como amassadela, cagadela, comedela, cuspidela, engraxadela, gabadela, mijadela, mordidela, penteadela, telefonadela, torcedela... Refiram outras. (Mas também não vejo dicionarizadas «enrabadela», «esporradela» ou «fodidela».)

      «Será que os autores dos dicionários não têm ouvidos?», pergunta, desiludido, o leitor.

 

 [Texto 1837]

Mais português

Acertam quando erram

 

 

      «Gordon Ramsay, chef de cozinha britânico e apresentador de reality shows como Hell’’s [sic] Kitchen, Kitchen Nightmares e MasterChef, terá voltado a “ferver em pouca água”. O cozinheiro, conhecido no meio televisivo pelo feitio difícil, é agora acusado de ter ofendido um colega de profissão ao dirigir-lhe palavras racistas. [...] O mediático apresentador de televisão, segundo revela Marcus Samuelsson em declarações ao jornal britânico Daily Mail, terá explodido de raiva porque Samuelsson não o elegeu como um dos chefes de cozinha de referência de Inglaterra» («Famoso ‘chef’ da TV acusado de racismo por um colega», Irina Fernandes, Diário de Notícias, 16.07.2012, p. 47).

      O plural de chef é então «chefes»? Se metessem na cabeça que têm obrigação de escrever em português, isto já não acontecia.


 [Texto 1836] 

O diagnóstico do AOLP90

Mais uma voz no deserto

 

 

      Mais uma carta aberta, desta vez do ex-cineasta, escritor e professor universitário António de Macedo, e está dirigida aos governantes de Angola e Moçambique. Eis os parágrafos finais: «Quando José Eduardo Agualusa (angolano) e Mia Couto (moçambicano) declaram a sua adesão ao AO90, será que sabem ao que é que estão a aderir? Ao modelo do AO90 para Portugal, ou ao modelo do AO90 para o Brasil?

      Perante estes dois modelos vigentes do AO90, escusado será dizer que a atitude correcta seria a suspensão imediata do Acordo, atendendo aos “estrangulamentos” e “constrangimentos” denunciados na Declaração Final da VII Reunião dos Ministros da Educação da CPLP (30 de Março de 2012), na qual se reconhece a necessidade de se proceder a um “diagnóstico” relativo a esses mesmos constrangimentos e estrangulamentos inevitáveis na aplicação do AO90.

      Em consequência, dirijo-me publicamente aos governantes de Angola e de Moçambique, e especialmente a estes dois pelas razões já invocadas, porque, caso venham a ratificar o AO90, vão ter de optar necessariamente por um dos dois modelos atrás referidos, com especial atenção às soluções que terão de encontrar na delicada área do ensino, a menos que se decidam por alguma forma de modelo misto, adequado a cada um dos países lusófonos, o que sem dúvida acarretaria mais confusos males do que bens.

      Pergunto por que se não aproveita, mui sensata e simplesmente, a porta deixada aberta pelos próprios ministros da Educação de todos os países da CPLP, e se suspende o Acordo até que os estudos do diagnóstico proposto estejam concluídos, deliberando-se então em conformidade?» («Carta Aberta aos Governos de Angola e de Moçambique», Público, 16.07.2012, p. 47).

 

 [Texto 1835] 

De vez em quando

Como homenagem

 

 

      Ora oiçam bem: «Mas apesar de esta ser “mais uma solução” em caso de desaparecimento, a PSP alerta para o facto da pulseira não substituir a responsabilidade de pais e de educadores. A iniciativa acaba a 15 de Setembro, mas a PSP coloca a hipótese de a alargar “a outros períodos fora do verão”, confirmou o comissário» («Mil crianças já têm pulseira de localização», A. F. R., Diário de Notícias, 16.07.2012, p. 17).

      É só para confirmar que o pobre verbo «pôr» morreu mesmo. Se de vez em quando o quiserem homenagear...

 

 [Texto 1834]

Léxico: «subadjacente»

Isso é que era precisão

 

      Na ilha Terceira, Açores, uma mulher morreu ao cair de uma arriba. A vítima estava com a filha a ver o mar, na freguesia de Serreta, quando caiu. Repórter Francisco Fayal, no Bom Dia Portugal de ontem: «Como vemos, um acidente do qual há a lamentar uma vítima mortal, de 53 anos, do sexo feminino, residente numa freguesia aqui subadjacente à freguesia da Serreta, na freguesia dos Altares.»

     Palavra muito bonita, pelo que não admira que o repórter se tenha enamorado dela — mas infelizmente mal usada no contexto. Subadjacente significa que está situado junto e por baixo de.

 

 [Texto 1833]