«Santuário de vida selvagem»
De caras
«África do Sul: Shamwari – Santuário de vida selvagem», li na revista Caras há dias. Está certo ou errado, este título?
«Vem esta pergunta a propósito de uma notícia publicada num diário da Capital, cujo título era o seguinte: “Os templos de Anckor transformados em ‘Santuários’ pelas forças comunistas.”
Pareceu-me estranho os comunistas preocuparem-se com santuários. Ao ler, porém, a notícia, verifiquei que os comunistas se tinham servido dos templos da região para neles instalarem o hospital de campanha, depósito de munições e grupos de refugiados.
Os templos da região estavam, portanto, transformados em redutos, em locais de refúgio e protecção, a que os Ingleses chamam sanctuaries (no singular sanctuary). A tradução errada do inglês originou o disparate em português.
Esta de chamarem santuários aos lugares de refúgio, aos redutos, nem ao Diabo lembraria!
A palavra inglesa sanctuary é derivada do francês sanctuaire e esta do latim sanctuarium (santuário).
O sentido primitivo de sanctuary é realmente santuário. Mas como tudo neste mundo está em mudança contínua, a palavra inglesa adquiriu com o decorrer do tempo o sentido de refúgio. O caso deu-se assim: antigamente os fugidos à justiça livravam-se da prisão recolhendo-se aos santuários (santuaries). Por isso o inglês sanctuary (santuário) passou a significar também refúgio ou protecção. É lamentável que a tradução das notícias publicadas nos nossos periódicos nem sempre seja confiada a pessoa competente: a quem saiba suficientemente a língua estrangeira e a nossa» («Um anglicismo», in A Bem da Língua Portuguesa, boletim da Sociedade de Língua Portuguesa, 1971, n.º 7, pp. 37-38).
[Texto 1856]