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Linguagista

Os dislates no «Público»

Procurador às Cortes...

 

 

      O texto do provedor do leitor do Público é hoje inteiramente dedicado aos dislates que se vão lendo nas páginas deste jornal de referência (sem aspas...). Deixo o último parágrafo. O texto, que vale a pena ler, está na íntegra aqui.

      «Valerá a pena acres­cen­tar que, tenham ou não ori­gem em cha­ma­das de aten­ção dos lei­to­res, essas cor­rec­ções devem ser sem­pre sina­li­za­das. O lei­tor José Orti­gão Oli­veira assi­na­lou um erro numa notí­cia do pas­sado dia 20 sobre o fale­ci­mento de José Her­mano Saraiva: escrevera-se que o antigo minis­tro da Edu­ca­ção fora “pro­cu­ra­dor às Cor­tes”, quando se pre­ten­de­ria infor­mar que inte­grara a Câmara Cor­po­ra­tiva do Estado Novo. A ano­ma­lia his­tó­rica terá tido ori­gem num des­pa­cho da agên­cia Lusa (foi aliás repro­du­zida em outros órgãos de comu­ni­ca­ção) e foi, no caso do PÚBLICO, rapi­da­mente detec­tada e cor­ri­gida. Porém, tendo o erro estado em linha, a cor­rec­ção deve­ria ter sido assi­na­lada, e não o foi. Quando esse pro­ce­di­mento não é seguido, tornam-se incom­pre­en­sí­veis as men­sa­gens de lei­to­res que per­ma­ne­cem nas cai­xas de comen­tá­rios, aler­tando para o erro no texto original» («Os erros de escrita não são inevitáveis», José Queirós, Público, 29.07.2012, p. 55).

 

  [Texto 1887]

Sobre «surto»

Cuidado com eles

 

 

      «O caso recente de Hugo Sequeira, que continua internado na ala de Psiquiatria do Hospital de Cascais, na sequência da queda de um segundo andar da sua casa na zona da Parede, em Cascais, há uma semana, devido a um alegado surto psicótico, voltou a trazer para a ordem do dia uma questão que tem tido muito destaque nos últimos anos» («Quando eles não aguentam a pressão», Nuno Cardoso, Diário de Notícias, 29.07.2012, p. 47).

      Está correcto: surto psicótico. Mas a primeira acepção que vem à mente da maioria dos falantes é surgimento de vários casos da mesma doença numa região, epidemia. No surto psicótico é outra coisa: é o aumento significativo e rápido de um fenómeno ou de um processo. Vem tudo de trás...

 

  [Texto 1886]

«Ready to rock»

Mais uma lição de amaricano

 

 

      «“Vamos falar nos balneários”, adiantou Lochte após a prova. A sua sétima medalha olímpica – quarta de ouro, uma de prata e duas de bronze – foi a recompensa por “quatro anos de trabalho árduo” e, agora, diz-se pronto para arrasar – ready to rock, foi a expressão que utilizou – em Londres 2012» («Phelps sem pilhas para ‘rock’ de Lochte», Pedro Sequeira, Diário de Notícias, 29.07.2012, p. 27).

      Arrasar — ou algo próximo. To rock é, em sentido figurado, abalar, agitar, fazer tremer. «I’m ready to rock this thing», disse ele. «Go big or go home.»

 

  [Texto 1885] 

Sobre «fileira»

Vai sendo usado

 

 

      «Seja qual for o modelo que o Executivo de Passos Coelho venha a escolher para regular o jogo online, de entre os três apontados pelo relatório da Comissão Interministerial a que o DN teve acesso, uma coisa é certa: a legislação de apostas mútuas hípicas existente é para mudar, passando também a incluir a possibilidade de apostar via Internet e em corridas de cavalos realizadas no estrangeiro. Uma situação que responde a antigas aspirações de todos os parceiros da fileira do cavalo. Tutela da Santa Casa é o único ponto dissonante» («Apostas hípicas são mesmo para avançar sob tutela da Santa Casa», Marina Marques, Diário de Notícias, 29.07.2012, p. 7).

      Os dicionários continuam a ignorar esta acepção do vocábulo «fileira», de que falei no Assim Mesmo há seis anos. Fazem bem ou fazem mal?

 

  [Texto 1884] 

Plural de «puro-sangue»

A doutrina divide-se

 

 

      «Atenta a esta questão, a comissão defende que, numa primeira fase, “a restruturação desta atividade tem de ser suportada financeiramente pelas receitas provenientes das apostas online nas corridas de cavalos, de molde a permitir desenvolver, nomeadamente, a criação de cavalos puro-sangue, a construção de hipódromos e a formação de jóqueis”» («Apostas hípicas são mesmo para avançar sob tutela da Santa Casa», Marina Marques, Diário de Notícias, 29.07.2012, p. 7).

      O Dicionário Houaiss regista, tanto para o adjectivo como para o substantivo, o plural «puros-sangues», e o mesmo faz o Vocabulário Ortográfico Português. Ou, porque se trata de um adjectivo composto por justaposição e o último elemento é um nome, na pluralização permanecem ambos invariáveis? A doutrina, como se costuma dizer em Direito, divide-se, mas já o dissemos muitas vezes: a língua portuguesa tende para a concordância.

 

  [Texto 1883]

É fazer a conta

Ai querem ser minuciosos?

 

 

      «Mas Lupe Ontiveros não correspondia ao estereótipo: era bacharel em Psicologia, pela Universidade do Texas, e chegou a trabalhar como assistente social antes de enveredar pela representação» («A atriz que foi a eterna criada latina mas que era muito mais», Diário de Notícias, 29.07.2012, p. 43).

      Então se vamos descer a esses pormenores, está bem: era bacharel em Psicologia, mas não pela Universidade do Texas. Há muitas universidades no Texas. A actriz Lupe Ontiveros estudou na Texas Woman’s University, em Denton. E, por outro lado, tendo a actriz trabalhado quinze anos como assistente social, eu não teria escrito que «chegou a trabalhar como assistente social». Quinze anos equivale a um terço do tempo que a maioria das pessoas dedica à profissão.

 

  [Texto 1882]

«Horário nobre»

Isso é que é extraordinário

 

 

      «A concorrência entre as novelas da SIC e da TVI em horário nobre nunca esteve tão quente como neste verão. Dancin’ Days tem estado, desde a estreia a 4 de junho, no encalço do enredo da TVI, Louco Amor, assinado por Tozé Martinho. Contudo, há sete dias que a primeira – fruto da coprodução SIC/Globo – vence a segunda, tendo registado, anteontem, uma diferença de quase 150 mil espectadores» («‘Dancin’ Days’ ameaça liderança da TVI nas novelas», Carla Bernardino, Diário de Notícias, 28.07.2012, p. 46).

      O que me parece mesmo extraordinário é que andem a preterir um estrangeirismo tão bem cotado. O esquecimento também tem mérito?

 

  [Texto 1881]

«Relações públicas»

Como calha e se se lembram

 

 

      «No entanto, desta vez não há registos fotográficos da passagem de CR7 pelo Seven, ao contrário do que aconteceu na madrugada de quinta-feira quando, na página oficial do Facebook do espaço, foi divulgada uma foto sua com amigos e com os mentores da discoteca. “Desta vez não há fotografias. O Cristiano Ronaldo esteve tranquilo a divertir-se com o irmão, o primo, o cunhado e amigos”, disse a relações-públicas do Seven, Helga Barroso, ao DN» («Ronaldo indiferente à polémica na discoteca do cunhado», Sara Oliveira, Diário de Notícias, 28.07.2012, p. 47).

      De vez em quando, voltam atrás: então com hífen não era antes de terem adoptado («adotado», dizem eles) o Acordo Ortográfico de 1990? Bem, para mim nunca teve, nem para Rebelo Gonçalves, que no tempo dele não existia a palavra.

 

  [Texto 1880]

Léxico: «bruxa»

Sem vassoura e fora do dicionário

 

 

      «Os viveiros são no meio das rochas e mesmo debaixo da esplanada do restaurante. Aqui há dezenas de lagostas, sapateiras, lavagantes, bruxas à espera da sua hora, como se estivessem no mar. O espaço é oxigenado e monitorizado e a água vem do mar, puxada por uma bomba» («Comer lagosta com vista para o mar», Rita Carvalho, Diário de Notícias, 28.07.2012, p. 49).

      Estas não praticam bruxaria, mas também não são os peixes seláquios que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista.

 

  [Texto 1879]