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Linguagista

Deixou de ser «râguebi»

Outro retrocesso

 

 

      Sim, e isso também: então não era «râguebi» que escreviam? Era pois, que eu lembro-me: «Nas modalidades colectivas, Portugal está classificado atrás da Espanha nos rankings europeus e internacionais. O râguebi é a excepção que confirma essa regra e amanhã no Estádio Universitário de Madrid (15.00) a selecção nacional é favorita no encontro com a sua congénere espanhola» («Râguebi é excepção à regra em duelos com Espanha», Madalena Esteves, Diário de Notícias, 11.03.2011, p. 44).

 

[Texto 2117]

Tradução: «slurry tank»

Desconfiar, por princípio

 

 

      «Jogador de rugby de apenas 22 anos, fazia parte dos quadros da equipa do Ulster, uma das quatro formações profissionais da Irlanda do Norte. Nevin morreu juntamente com o irmão e o pai quanto [sic] tentavam salvar um cão de um poço» («Nevin Spence», Diário de Notícias, 19.09.2012, p. 43).

      A imprensa de língua portuguesa ora fala de poço, ora de tanque, ora de tanque de lama. Quis tirar a coisa a limpo. O The Guardian titula: «Ulster rugby star Nevin Spence died in slurry tank trying to save father». É uma versão mais crível, mas não é disso que quero falar. Reparem: tudo aconteceu num slurry tank. Poço? Tanque? Neste regulamento da Comissão Europeia, lê-se «reservatório de chorume»: «Tanque, feito geralmente de material impermeável, utilizado para o armazenamento de chorume.» Na versão inglesa, corresponde a slurry tank: «Tank, usually made of impermeable material, used for the storage of slurry.» Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, chorume (com a variante, hoje em dia já não registada nos dicionários, churume) é a gordura que ressuma da carne; suco e, em sentido figurado, substância, opulência, abundância. Nenhuma que se adeqúe propriamente ao contexto. Mas o Dicionário Houaiss (repetindo o que regista o Aulete) diz que é o «líquido que escorre da estrumeira e que se acrescenta ao estrume seco para enriquecê-lo como adubo».

 

[Texto 2116]

Perifrástica, de novo

Outra vez

 

 

      «Os três foram algemados, pois haveria de confirmar-se que se tratava efetivamente de um refém» («Força especial da Polícia Marítima reforça combate ao crime», Licínio Lima, Diário de Notícias, 19.09.2012, p. 20).

      Ainda na semana passada vimos que a perifrástica, no condicional, se constrói com o auxiliar no pretérito imperfeito do indicativo (havia de) e com o verbo principal no infinitivo (confirmar-se).

 

[Texto 2115]

Nomenclatura científica

Não há transmissão de saber

 

 

      «A Listeria Monocytogenes, bactéria encontrada nos queijos, afeta sobretudo grávidas, bebés ou adultos com o sistema imunitário debilitado» («Queijo fresco com bactéria não está à venda em Portugal», Ana Maia, Diário de Notícias, 19.09.2012, p. 13).

      Dois erros, cara Ana Maia: devia estar em itálico e o segundo nome é, já o vimos muitas vezes, com minúscula inicial.

 

[Texto 2114]

«Autodemissão»

Mais uma para poluir

 

 

      «A autodemissão por carta do diretor da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), Pedro Dias, continua a gerar polémica nas redes sociais devido ao teor muito crítico do que escreveu ao bater a porta» («Carta violenta sem comentário de F. José Viegas», João Céu e Silva, Diário de Notícias, 19.09.2012, p. 9).

      Se demissão — qualquer dicionário, bom ou mau, o diz — é o acto ou efeito de demitir ou de se demitir, é claro que semelhante invencionice é completamente desnecessária e mal-vinda.

 

[Texto 2113]

Homógrafas no AOLP90

Horrível, mas coerente

 

 

      «A namorada de Cristiano Ronaldo não para. Depois da estreia como apresentadora no concurso Russias’s Next Top Model, Irina Shayk volta a dar cartas na moda. A modelo russa foi escolhida pela quarta temporada consecutiva para protagonizar a campanha outono/inverno de uma marca de calçado espanhola» («Namorada de Ronaldo sedutora com sapatos», Diário de Notícias, 18.09.2012, p. 53).

      Assim está bem: se o Acordo Ortográfico de 1990 manda suprimir o acento gráfico nesta e noutras homógrafas, é isso que deve fazer quem adoptou as novas regras ortográficas.

 

[Texto 2112]

Léxico: «defecção»

É pena

 

 

      «O processo do chefe da polícia chinesa Wang Lijun, ex-braço direito [sic] do antigo dirigente Bo Xilai, foi ontem iniciado à porta fechada num tribunal de Chegdu (Leste). “O processo de Wang Lijun começou esta manhã”, declarou Wang Yuncai em nome do seu cliente, que responde às acusações de defeção, abuso de poder e corrupção, no âmbito de um escândalo de grandes dimensões que está a abalar o Partido Comunista Chinês, no poder em Pequim» («Julgado ex-aliado de político Bo Xilai», Diário de Notícias, 18.09.2012, p. 27).

      Boa palavra, pena que lhe tenham tirado o c... O mesmo que deserção, desaparecimento, abandono, desistência, apostasia, rebelião. «Donde resulta que, se os magnates quisessem por acaso fazer defecção, não só os não seguiriam mas deles viriam a afastar-se inteiramente como de violadores da lealdade devida aos reis» (Missão dos Embaixadores Japoneses, tomo I, Duarte de Sande. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010, p. 264).

 

[Texto 2111]

Agora deixou de ser «basebol»

Sempre a mudar — para pior

 

 

      «O ator [sic] faz de Cameron na série Uma Família muito Moderna, [sic] foi escoltado por seguranças para abandonar temporariamente um jogo de baseball, no domingo passado. De acordo com o site TMZ, o incidente ocorreu após trocas verbais entre Eric Stonestreet e um apoiante de outra equipa» («Ator de ‘Modern Family’ em sarilhos», Diário de Notícias, 18.09.2012, p. 53).

    Mas não escreviam «basebol»? Escreviam pois, que eu lembro-me: «A confirmar-se a transferência, Teixeira, actualmente sem equipa, irá ingressar no clube mais famoso do basebol estado-unidense» («Luso milionário no basebol dos EUA», R. M. S., 26.12.2008, p. 17). E até «beisebol»: «Mesmo para passar o tempo há muita gente que joga a bisca dos nove, faz um desenho com nove espaços para o jogo do galo, vai ver os golos que no futebol são marcados sobretudo pelo camisola 9, tenta perceber as manobras dos nove jogadores da equipa que defende no beisebol» («A nossa vida de cada dia costuma abrir às nove», Fernando Madaíl, Diário de Notícias/DN Gente, 3.01.2009, p. 20).

 

[Texto 2110]