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Linguagista

«O facto de o meu quintal ser»...

Portanto, ele sabia...

 

 

      ... ou parece que sabia. Estará assim no autógrafo da arca? Fernando Pessoa citado na revista Portucale (p. 191) datada de 1950: «O bom regionalismo é amá-lo por ele estar na Europa. Mas quando chego a este regionalismo, sou já português, e já não penso no meu quintal. (O facto de o meu quintal ser inteiramente metafórico não diminui a verdade de tudo isto: Deus, e o próprio universo, são metáforas também.)»

 

[Texto 2213]

Placares e ateliês

Bem podia ser

 

 

      «“As mãos que cosem estas roupas já andaram de armas na mão. Eis o que fazem estas mãos hoje em dia pela Colômbia”, anuncia um placard à porta do seu ateliê, no primeiro andar de um imóvel de tijolo, praticamente anónimo, num bairro popular de Bogotá» («Paz na Colômbia: um novo modelo para o antigo alfaiate das FARC», Diário de Notícias, 15.10.2012, p. 26).

      Estávamos à espera que ambas aparecessem aportuguesadas ­— tanto mais que já o têm feito. Não que eu aprecie a palavra placard, bem pelo contrário. «O edifício ficou assim excluído de uma iniciativa que ontem concedeu a Times Square — a praça onde confluem algumas das maiores avenidas da cidade — uma aura azulada, proveniente das luzes de edifícios e placares» («Católicos celebram os cem anos do nascimento da ‘santa dos pobres’», Catarina Reis da Fonseca, Diário de Notícias, 27.08.2010, p. 29).

 

[Texto 2212]

Léxico: «fundeadouro»

E aqui fica

 

 

      «Contudo, a hipótese só poderá ser confirmada com o avanço de trabalhos de escavação que, consoante os resultados obtidos agora, poderão realizar-se em 2013, já que a zona pode ter servido apenas como fundeadouro, referiu o mesmo investigador» («Arqueólogos procuram sinais de barco romano no Arade», Diário de Notícias, 16.10.2012, p. 30).

      É palavra que pouco se vê, dada a especificidade do seu uso, e por isso merece ser aqui lembrada.

 

[Texto 2211]

«Virgemmente»

Deixa-me ver...

 

 

      Com dois mm? Hum... Comummente, claro. E virgemmente! «Não fui alguém./ Minha alma estava estreita/ Entre tão grandes almas minhas pares,/ Inutilmente eleita,/ virgemmente parada.» Fala o infante D. João pela boca de Fernando Pessoa, na Mensagem. «Virgemmente é uma das muitas palavras arbitràriamente fabricadas por Fernando Pessoa. Virginalmente é que é palavra portuguesa», escreveu, talvez virgineamente purpureado, João Ilharco no Libelo contra a Poesia Modernista (Coimbra, 1955).

 

[Texto 2210]

«Canábis/cannabis»

Ao sabor dos humores e saberes

 

 

      «O ministro da Educação francês, Vincent Peillon, gerou controvérsia ao defender um debate sobre a despenalização do consumo de canábis. Segundo a AFP, o ministro socialista disse, no domingo, durante o programa Tous Politique [sic], que a despenalização do consumo de canábis poderia ser uma forma de lutar contra o tráfico de drogas» («Polémica sobre canábis em França», Diário de Notícias, 16.10.2012, p. 27).

      Muito bem. Canábis e não, como habitualmente escrevem, cannabis. O problema é que hoje escrevem assim e amanhã, para nossa desilusão e desespero, já escreverão cannabis. Não têm ninguém que uniformize e tente estabelecer critérios.

 

[Texto 2209]