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Linguagista

Dr. Hífen, traído

Nasceu um novo topónimo?

 

 

      Todos já ouvimos ou lemos Entre-Douro-e-Minho. Apareceu algo parecido. Foi nesta sinopse, que se pode ler no sítio da Leya, da obra Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de Paulo Feytor Pinto: «Neste livro apresentam-se todas as regras da ortografia em vigor em Portugal segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990. Tal significa que inclui as regras que constituem novidade e que, por isso, estão devidamente assinaladas a vermelho, mas também as regras que se mantêm inalteradas. Além disso, diante da possibilidade de dupla grafia no conjunto dos países de língua oficial portuguesa, apresenta-se aqui a ortografia a utilizar em Portugal, em contextos formais, de acordo com a pronúncia da norma culta do português europeu, baseada no dialeto de entre-Lisboa-e-Coimbra, de acordo com o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.»

 

[Texto 2235]

Esqueceram-se do «pôr»

É inadmissível que se escreva assim

 

 

      «Rosário Rodrigues, desempregada de 44 anos, não tem medo do trabalho duro da agricultura. Instalada desde 2007 na aldeia de Pedra do Altar, no concelho de Proença-a-Nova, há muito que se agarrou à terra para dela tirar muito do que coloca na mesa, onde se senta com a filha» («O mercado onde o campo entra no saco de quem compra», Célia Domingues, Diário de Notícias, 21.10.2012, p. 32).

      «Coloca na mesa»! Como é que um jornalista pode escrever assim? Ouviu alguma vez os pais ou os avós falarem assim? Isto está a merecer uma petição no Facebook (que nunca será subscrita por mim, porque não estou no Facebook).

      «— O que eu disse, basta. E se o senhor entendeu, para que dizer mais? Monsenhor põe na mesa a mão enorme» (O Casamento, Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 175).

 

[Texto 2234]

Plural de «igualzinho»

Até prova em contrário

 

 

      «Por azar, nem o sr. Mendes nem a gente fixe em geral explica o que julgam restar do país depois de lixada a troika. Talvez imaginem uma folia permanente, na qual uma minoria convencida do seu esclarecimento usa o dinheiro da ralé para obter os privilégios que a ralé não alcança e não compreende. Ou seja, o costume. Não admira que a “cultura” à portuguesa viva agarrada ao Estado: no fundo, são igualzinhos» («Gente fixe», Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 21.10.2012, p. 55).

      Aqui, o sociólogo espalhou-se ao comprido. Ali onde está um l devia estar um i: iguaizinhos. Tanto quanto sei, o plural dos diminutivos faz-se juntando os sufixos -zinho ou -zito no plural às formas do plural das respectivas palavras primitivas, depois de suprimido o final. Iguaizinhos, como animaizinhos, como jornaizinhos... Até parece que já estou a ver o comentário da Rainha das Palavras: «Pois, muito bem. E o que fazer quando o VOP, o vocabulário ortográfico oficializado em Portugal, regista “igualzinhos”? E esta, hein?» E não pode pensar pela sua régia cabeça? Compreender o que está bem e o que está mal?

      «Rubião pôs a cabeça de fora, recolheu-a e ficou a ouvir os cavalos das ordenanças, tão iguaizinhos, tão distintos, apesar do estrépito dos outros animais. Era tal a tensão do espírito do nosso amigo, que ainda os ouvia, quando já a distância não permitia audiência. Catrapus... catrapus... catrapus...» (Quincas Borba, Machado de Assis).


[Texto 2233] 

«Estada/estadia»

Agora ainda se lê mais

 

 

      «Estada. — Em vez disto lê-se agora muito estadia: “A estadia do negus na Palestina”. Morais não consigna estadia. Figueiredo apresenta esta palavra como têrmo jurídico: demora forçada de um navio no pôrto» (Glossário de Incertezas, Novidades, Curiosidades da Língua Portuguesa, e também de Atrocidades da Nossa Escrita Actual, Agostinho de Campos. Lisboa: Livraria Bertrand, 1938, p. 122).

 

[Texto 2232]

«Dia a dia», segundo o AOLP90

Era só reler

 

 

      «Carregado de simbolismo, a verdade é que o traje usado pelos padres se torna pouco prático no dia-a-dia. Talvez os 33 botões verticais, em representação da idade de Cristo, ou os cinco em cada punho sejam desencorajadores até dos [sic] mais ligados à iconografia do clero. Para o padre Feytor Pinto, a questão da batina “é completamente secundária”. O seu uso, diz, “justifica-se em algumas situações específicas. No dia a dia não”» («O hábito faz o monge? Padres dizem que não», André Rito, Diário de Notícias, 21.10.2012, p. 15).

      No mesmíssimo parágrafo, ora com hífenes ora sem hífenes. Não há desculpa para semelhante desconformidade.

 

[Texto 2231]