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Linguagista

Léxico: «melada»

Não chegam lá

 

 

       «Desde 2008 que o mel de rosmaninho, de urze, de castanheiro e de melada de carvalho, obtido por métodos totalmente biológicos da BioApis tem sido distribuído pelo País como produto gourmet. Ao sucesso da empresa não será alheia a paixão que Jorge Fernandes, engenheiro agrónomo na Universidade de Trás os Montes [sic] e Alto Douro, em Vila Real, coloca no métier» («Abelhas de Trás-os-Montes batem concorrentes orientais», José António Cardoso, Diário de Notícias, 27.10.2012, p. 14).

      Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «melada» é «a produção de mel de uma época». No contexto, não é. Os Afídeos — pulgões e outros insectos —  alimentam-se da seiva das plantas e expelem grandes quantidades de açúcares que se acumulam sobre a folhagem — é a essa substância açucarada que se dá o nome de melada (e honeydew em inglês). É uma excreção, ia escrever, mas o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não deixa, pois afirma que excreção é a «função que tem por fim eliminar de um organismo produtos de desassimilação»...

 

[Texto 2264]

Ortografia: «braço direito»

Não o real, o outro

 

 

      «Já Ana, para além de ser o braço direito da diretora, é uma mulher fatal que sonha ser atriz» («Nova ‘sitcom’ brinca com o jornalismo e a crise», Cynthia Valente, Notícias TV, n.º 250, p. 27).

      Bem diz Montexto: sempre mais compridos e complicados, isto é, o pior do barroco. E, para distinguir o sentido denotativo do conotativo, não se escreve, neste caso, «braço-direito»? Não há tempo para aperfeiçoar...

 

[Texto 2263]

Ortografia: «eldorado»

Mas está nos dicionários

 

 

      «Com o País em crise, houve quem encontrasse na China o seu eldourado. Produtos portugueses como vinho, azeite, charcutaria, mel e até... arroz estão a fazer sucesso do outro lado do mundo. Tanto que nos primeiros oito meses do ano, Portugal exportou bens no valor de 821,5 milhões de euros, de acordo com as estatísticas chinesas citadas pelo embaixador em Pequim, José Tadeu Soares» («Já vendemos arroz e mel para a China», Ana Bela Ferreira, Diário de Notícias, 27.10.2012, p. 14).

      Cara Ana Bela Ferreira, então não é eldorado que se escreve? «El, lo, la são formas arcaicas do artigo definido, usadas no período em que o português se estava formando. El é hoje apenas empregado em el-rei (= o rei) e Eldorado (região fantástica situada entre o rio Amazonas e o rio Orenoco)» (Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Napoleão Mendes de Almeida. São Paulo: Edição Saraiva, 1973, 24.ª ed., p. 115).


[Texto 2262]

«Pôr em marcha»

Saramago foi o último

 


      Pôr é para esquecer. Pelo menos nos próximos anos. «Colocar em marcha o novo mapa judiciário, que reduz para 23 as atuais 231 comarcas, vai custar cerca de 29 milhões de euros. A reforma da organização judiciária em curso, que deverá entrar em vigor ainda durante 2013, implica obras de adaptação em vários edifícios» («Novo mapa judiciário vai custar 29 milhões», Licínio Lima, Diário de Notícias, 29.10.2012, p. 18).

      «Quero-os aqui em três quartos de hora, às dez em ponto, disse, teremos de discutir, aprovar e pôr em marcha os paliativos necessários para minorar as confusões e balbúrdias de toda a espécie que a nova situação inevitavelmente criará nos próximos dias» (As Intermitências da Morte, José Saramago. Lisboa: Bis/Leya, 2011, 4.ª ed., p. 114).

 

[Texto 2261] 

«Influir em»

Ainda se vê

 

 

      «Influir em (e não sôbre). — Não raro sucede que uma forte asneira francesa vem substituir a lógica mais perfeita da nossa língua, e êste é o caso, por exemplo, de influir sôbre. Influir, do latim in-fluere, significa, literal e etimològicamente, fazer fluir ou correr para dentro, como quando se deita qualquer líquido dentro de uma vasilha. Se é para dentro, ¿a que vem o sôbre? Tudo o que influi, influe em, como bem mostra o prefixo latino.

      Portanto; o clima influe na saúde e é visível a influência de Fulano em Beltrano» (Glossário de Incertezas, Novidades,  Curiosidades da Língua Portuguesa, e também de Atrocidades da Nossa Escrita Actual, Agostinho de Campos. Lisboa: Livraria Bertrand, 1938, p. 161).

 

[Texto 2260]