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Linguagista

Porque não «micro-hostal»?

Seria mais coerente

 

 

      «Abriu este fim-de-semana [sic] o primeiro micro-hostel do mundo, no centro de Moscovo, a capital da Rússia» («Rússia inaugura primeiro micro-hostel do mundo», M. A. B., Diário de Notícias, 4.02.2013, p. 33).

      Se escrevem «hostal», como já vimos aqui (vocábulo que, por minha sugestão, passou a fazer parte, juntamente com «hostau», do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora), porque não escrevem «micro-hostal»?

 

[Texto 2564]

Como se escreve nos jornais

Pobre hífen, pobres alunos

 

 

      «De acordo com o porta-voz do estado maior das tropas francesas, o coronel Thierry Burkhard, “importantes ataques aéreos” foram levados a cabo na noite de sábado para domingo na zona de Tessalit, 200 quilómetros a norte de Tidal» («Chefes islamitas do Mali refugiam-se nas montanhas», Diário de Notícias, 4.02.2013, p. 22).

      Então e eu não sei que já escrevi isto?! Os jornalistas do Diário de Notícias deixaram, vá lá saber-se porquê, de usar o hífen em palavras que não mudaram com o acordo. Já vi o mesmo fenómeno em professores de Português. Claro que há erros ainda mais graves. Ontem, mostraram-me um texto de uma professora de Português em que se lia que era docente «à pelo menos metade de uma vida». Não há vidas que cheguem para curar tamanha ignorância.

 

[Texto 2563]

Como se escreve nos jornais

Pelo menos isso

 

 

      «No livro lançado na sexta-feira em Itália, Ali Agca conta como fugiu de uma prisão turca, na qual cumpria pena pelo assassínio de um jornalista e fala da sua estadia em Teerão, onde foi “doutrinado” durante várias semanas, antes de um suposto encontro noturno com o Guia Supremo da Revolução Iraniana, o ayhatollah [sic] Khomeini» («Memórias de Ali Agca em novo livro», Diário de Notícias, 4.02.2013, p. 25).

      E as aspas são para quê, pode saber-se? O homem foi doutrinado ou não foi? E estadia não é o tempo que um navio gasta, no porto, para carga e descarga? Era, dizem-me aqui. «Alguns gramáticos acham que estadia pode ser usada no mesmo sentido de estada.» E ayatollah mal escrito e sem itálico nem aspas a marcá-lo como termo de língua estrangeira. Podem não gostar — e não sei porquê — do aportuguesamento aiatola, mas então escrevam correctamente o termo estrangeiro.

 

[Texto 2562]

 

Léxico: «pesqueira»

Lampreia no Alto Minho

 

 

      «As pesqueiras são estruturas consideradas como prédios rústicos» (jornalista Andrea Neves, Jornal da Tarde, 3.01.2013). O Sr. António Castro, pescador e dono de uma pesqueira, explica mais: «Nós pagamos uma contribuição como seja um prédio rústico, uma casa ou assim. E depois pagamos uma contribuição para poder armar. E há muitas pesqueiras aqui que chamam-lhes eles interditas, que paga-se a contribuição, mas não se pode armar. É o mesmo que uma pessoa tendo a casa não pode habitá-la. A pesqueira é de uma pessoa só, foi quem a fez, os antepassados já. E depois aquilo fica dividido pelos filhos, pelos netos, e tudo mais. Depois cada um tem o seu dia aqui.»

      Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, pesqueira é o «lugar em que há aparelhos de pesca». Quem nunca viu uma pesqueira, como é o meu caso, não vai, pela simples leitura desta definição, poder imaginar sequer do que se trata. Para o Dicionário Houaiss, que não nos leva mais longe, é o «lugar em que se encontram armações de pesca», mais ou menos a definição que já encontramos em dicionários mais antigos. Tendo em conta o que se vê na imagem, a melhor definição é a da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. 21, p. 468): «Construção de madeira ou alvenaria que se instala na margem ou leito do rio, para estabelecimento de aparelhos de pesca.»

      (Quanto à contribuição, Sr. António Castro, não há-de ser elevada, pois o IMI rústico representa menos de 1 % do IMI total no País.)

 

[Texto 2561]