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Linguagista

Léxico: «vidairada»

Às catadupas

 

 

      Alguém escreveu aqui a medo «vidairada». No meio de todo o preto, a vermelho. Aquilino Ribeiro, contudo, usou-o afoitamente, e muitas vezes. «Semelhante vidairada tivera o inevitável contraste. A esposa, filha de D. Ramiro Enes de Grijó, adiantado-mor de Entre Douro e Minho, pagara-se bem da fragalhotice do marido, introduzindo um amante em casa, sob capuz de veador» (Humildade Gloriosa, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1966, p. 32). A medo, e tudo porque não está nos dicionários modernos. Está, porém, na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Ah, sim «fragalhotice» ou «frangalhotice» também se eclipsaram dos dicionários.

 

[Texto 2612]

Sobre «pato-bravo»

De Tomar, nada mais

 

 

      «Era quase certo que o dito pato-bravo já conseguira todas as aprovações e licenças para o seu negócio torpe, que já dera início à construção de umas monstruosidades — agora a moda consistia na imitação de umas coisas hediondas com muitos andares, a terminarem em ogiva do tipo das naves espaciais —, e era quase certo que já estava a promover a venda por apartamentos, em time-sharing ou noutro sistema qualquer, a uns lorpas de cujo grupo chegavam a fazer parte uns digníssimos sujeitos e respeitáveis esposas» (Partida de Sofonisba às Seis e Doze da Manhã, Vasco Graça Moura. Lisboa: Quetzal, 1993, p. 65).

      Vi muito bem: não está, inacreditavelmente, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Só lá está uma acepção: as simpáticas aves palmípedes. Dir-se-á somente que é o «indivíduo espertalhão ou aldrabão», como regista o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa? E o construtor civil improvisado, onde fica no meio disto?

      Pato-Bravo: «Servente da construção civil que vem de Tomar para Lisboa, onde faz fortuna a pulso – e à custa de edifícios de gosto e qualidade duvidosos. No rio Nabão, que banha Tomar, há muitos patos-bravos» (LX60: A Vida em Lisboa nunca mais Foi a Mesma, Joana Stichini Vilela e Nick Mrozowski. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2012, p. 133).

 

[Texto 2611]

Plural dos apelidos

E quem não manda obedece

 

 

      Este texto é sobre a permanência central e canónica dos mitos gregos na imaginação ocidental. Ná, vou antes falar dos Montéquios e dos Capuletos. Esperem, ainda me ardem os olhos de uma mensagem sobre outra obra, sem Cappelleti nem Montecchi: «Atenção, Helder, deixar apelidos no singular.» Nem toda a persuasão.

 

[Texto 2610]

Plural de «habitat»

Agora que pensamos nisso

 

 

      «Mais uma vez, o sucesso das espécies na tentativa de adaptação a um mundo mais quente não é linear. As alterações profundas nos habitats e a fragmentação dos territórios provocadas pelos seres humanos não ajudam nada» (Portugal a Quente e Frio, Filomena Naves e Teresa Firmino. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2009, p. 166).

      É assim, o plural de habitat escreve-se desta maneira? O Vocabulário Ortográfico Português diz que sim. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não diz nada. Uma coisa é certa: se o grafarmos como termo latino, não lhe podemos adjungir o s sem mais. E agora?


[Texto 2609]