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Linguagista

Butelo ou bulho, casulas ou cascas

Em terras de Bragança

 

 

      «As panelas foram postas ao lume há quase três horas. Lá dentro, ferve a água que coze os enchidos, butelo ou bulho, assim se chama o protagonista desta cozinha. [...] O enchido consistente acompanha com outras carnes de porco e umas cascas ou casulas, é como quem diz com vagens de feijão seco» (jornalista Sílvia Brandão, Jornal da Tarde, 23.02.2013). E a Sra. cozinheira Fernanda Reis disse: «É feita uma adoba dos ossinhos e das tenrilhas do porco, digamos, e é inserido na bexiga do porco e é seco, como o resto do fumeiro.»

 

[Texto 2629]

Como se escreve nos jornais

A culpa é mesmo do revisor

 

 

      «“Há demasiados ladrões no poder, já nos roubaram que chegue... Nós já suportámos demasiado”, diz Clemente, que tem um filho nascido na Argentina que é carabiniere em Turino» («“Os italianos querem votar e mudar”, mesmo os que só se decidem nas urnas», Sofia Lorena, Público, 25.02.2013, p. 23).

      Carabiniere será para dar a cor local, imprescindível numa reportagem. «Turino» é para os eventuais leitores italianos perceberem pelo menos uma ínfima parte do artigo.

 

[Texto 2628]

«Resignação», «renúncia»...

O leitor decide

 

 

      «Um cardeal com poder de voto na eleição do novo Papa foi acusado de ter praticado “actos impróprios” com quatro jovens seminaristas há mais de 30 anos. A denúncia contra Keith O’Brien, o cardeal da Escócia, partiu de três padres e um ex-padre, na semana anterior ao anúncio de resignação de Bento XVI. Mas a notícia só agora chegou aos media. [...] A apresentação da queixa parece ter sido planeada para coincidir com a aposentação do cardeal, mas o facto de o Papa ter renunciado levou os queixosos a divulgá-la, pedindo que O’Brien seja impedido de participar no conclave. Se assim não for, sentirão que as suas queixas não foram devidamente atendidas. Querem um conclave “limpo” e virar a página sobre o passado» («Cardeal da Escócia acusado de ter tido “actos impróprios” com seminaristas», Ana Dias Cordeiro, Público, 25.02.2013, p. 24).

      Em que ficamos: Bento XVI resignou ou renunciou? Na declaração oficial de Bento XVI, é «renúncia» que se lê, e não vejo motivos para se dizer de outra forma.

 

[Texto 2627] 

«Líder camarária»!

Raispartam

 

 

      «A população de Haringey, no norte de Londres, rejubilou através da sua líder camarária, Claire Kober: “É um verdadeiro reconhecimento para a comunidade que a sua campanha pareça ter ajudado a impedir a venda desta obra de arte.” [...] “Vamos continuar a explorar todas as possibilidades para trazer o Banksy de volta à comunidade a que pertence”, declarou a líder política do município ao Telegraph» («É legal agarar num Banksy e vendê-lo? As autoridades dizem que sim», Mário Lopes, Público, 25.02.2013, p. 26).

      «Líder camarária», «líder política do município»... Mas, raispartam, Claire Kober não é vereadora? Então para quê usar essa designação alienígena e ambígua de «líder»? Certo é que Mário Lopes está em muito boa companhia. Na edição de hoje deste jornal, pode ler-se: na página 4, «líder da UGT»; na página 12, «líder da direita portuguesa», «líder Jonas Savimbi» e «líder do CCISP»; na página 21, «líderes europeus» (três vezes); na página 22, «líder do centro-esquerda»; na página 23, «líder da direita» e «líderes da Associação dos Trabalhadores Católicos Italianos»; na página 24, «líder máximo da Igreja Católica»; na página 27, «líder dos Beautify Junkyards»; na página 47, «líderes que versam altos problemas de Estado»; na página 48, «líder da Liga».

 

[Texto 2626]

Limitação de mandatos

A culpa é do revisor

 

 

      «O tempo galgou oito anos e a Presidência da República, após rios de suor, a correr em Belém, descobriu que, na limitação dos mandatos autárquicos, a Imprensa Nacional equivocou-se: um revisor que não reviu escreveu: “de” câmara ou junta, ao invés da profundidade da diferença do “da” câmara ou “da” junta» («O “de” e o “da” das autarquias», Alberto Pinto Nogueira, Público, 25.02.2013, p. 47). Estamos de acordo, Sr. procurador-geral adjunto, esta é uma discussão idiota. Mas o seu texto carece de revisão: os revisores não escrevem ­— revêem (ou não revêem). A única excepção conhecida é ficcional: o competentíssimo e humílimo Raimundo Silva.

 

[Texto 2625]