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Linguagista

«Manif»? «Manifs»?

Estava aqui a pensar

 

 

      «A ameaça que alguns elementos radicais têm lançado nas redes sociais de divulgar na Internet fotos com nomes, dados pessoais e moradas dos agentes da investigação criminal da PSP – incentivando à vingança contra aqueles que dizem ser “infiltrados” da polícia nas “manifs” – vai ter uma resposta firme da polícia, garantiu ao DN uma fonte da hierarquia da PSP» («PSP vai processar quem divulgar moradas e nome dos agentes da ‘manif’», Rute Coelho, Diário de Notícias, 18.11.2012, p. 23).

      Aqui, porque aparecem singular e plural, é flagrante: não se pode dizer que, grafada desta maneira, seja palavra afeiçoada ao português. Há muito que propus que esta redução vocabular se escrevesse manife/manifes, tal como profe/profes. Dá-se o infeliz caso de o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora as registar tal como surgem no texto acima. Não chega envolvê-las no cordão sanitário das aspas: é preciso expurgar a escrita destas formas.

 

[Texto 2638]

Léxico: «subtexto»

Deixem-me adivinhar: vem do inglês

 

 

      «MacFarlane, cujo humor politicamente incorrecto gera tantos milhões quanto divide opiniões, foi o anfitrião da cerimónia de domingo, em Los Angeles. Desde o Dolby Theatre viu-se MacFarlane cantar We saw your boobs (“vimos as tuas mamas”) e enumerar actrizes que se despiram no ecrã, assistiu-se à rábula em que confundia Jamie Foxx com Eddie Murphy (subtexto, “os pretos são todos iguais”) ou à confissão de que o actor que melhor entrou na cabeça de Lincoln não foi Daniel Day-Lewis, vencedor do Óscar de Melhor Actor, mas John Wilkies Booth (exactamente, o homem que assassinou aquele Presidente americano)» («Seth MacFarlane: grosseiro ou vítima de quem quer moralidade no humor?», Mário Lopes, Público, 27.02.2013, p. 24).

 

[Texto 2637] 

Léxico: «ex»

Esqueçam as aspas

 

 

      «A loura bonita e “ex” de Brad Pitt está a ser acusada de não socializar com os outros actores durante a rodagem do filme baseado no livro The Switch, do escritor Elmore Leonard. A acusação, neste meio, nunca tem rosto» («Jennifer Aniston: acusam-na de não “socializar”», Público, 27.02.2013, p. 35).

      Para quê as aspas, podemos saber? Por ser coloquial, querem ver? Nem precisava, mas por acaso está dicionarizado.

 

[Texto 2636]

«Mulher/esposa»

Respeitinho

 

 

      «A semelhança entre as teses de mestrado do vereador da Câmara de Viseu e da sua esposa estão a gerar polémica e já há quem defenda a demissão de Guilherme Almeida dos cargos que ocupa. O autarca é líder do PSD local e é apontado como um dos candidatos do PSD à sucessão de Fernando Ruas na câmara» («Vereador de Viseu tem tese parecida com a da mulher», Sandra Rodrigues, Público, 27.02.2013, p. 15).

      Não é muito comum, nos jornais, usar-se o termo «esposa» em vez de «mulher», sobretudo num contexto como este.

 

[Texto 2635]

Léxico: «parola»

Fiquemos à parola

 

 

      Hoje, ouvi na rádio uma parte de uma reportagem em directo da última audiência geral de Bento XVI. A certa altura, alguém usou, o que é natural, pois estava a falar italiano, a palavra «parola». Pois bem, nós também a temos (emprestada pela língua italiana), e ainda não saiu dos dicionários.

      «— Que pretendeis de mim, Gomes Bochardo? Falai prestes, que estou de afogadilho e nada azado para muita parola» (A Última Dona de S. Nicolau, Arnaldo Gama. Porto: Casa Editora de A. Figueirinhas, Lda., 1937, p. 14).

 

[Texto 2634]

«Se não/senão»

Vejamos se ainda se lembram...

 

 

      Será assim? «Acusar-se Carlos Azevedo de assédio homossexual é-me difícil se não impossível de compreender. Essas coisas, recomenda a prudência que se pratiquem às escondidas e na intimidade (embora eventualmente se executem às claras e na praça pública)» («Bispo Carlos Azevedo: um testemunho», Henrique Manuel Pereira (professor na Universidade do Porto), Público, 27.02.2013, p. 43).

      Ou assim? «É extremamente difícil, senão impossível, em muitos casos, distinguir o autor pelo estilo das pequenas composições de redondilha. Por isso, a tendência para as incorporar, salvo apocrifia declarada, é desculpável» (Álvaro J. da Costa Pimpão, na introdução às Rimas de Camões. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1953, p. xxxix).

       Todas as respostas aqui: «Tradução: “Sinon”», o quinto texto mais comentado do blogue.

 

[Texto 2633]

Sobre «benjamim»

Alvíssaras

 

 

        Não, pelo que vejo, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, mas no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado escreveu: «Benjamim, adj. e s.» Será o único dicionário a fazê-lo? Um substantivo adjectivado, isto é, tomado, empregado como adjectivo, não é assim tão raro, mas muito menos, como sabemos, do que a substantivação de um vocábulo pertencente a qualquer das restantes nove classes gramaticais. Montexto já aqui afirmou saber, pela leitura de Jorge Daupiás, que Arnaldo Gama o empregara como adjectivo. Não apenas ele; também Silveira Bueno reparou. Eis o passo: «Camilla, o seu beijinho, a filha benjamim já o pozera nos apuros que sabemos quando elle teve de partir para o Roussillon; e mais tarde, quando a trouxe de Encourados para Areias, também lhe não tirou poucas noutes de somno, por se lhe ter despertado a consciencia de que a filha estava finalmente mulher» (O Sargento-Mór de Villar, 1.º vol., Arnaldo Gama. Porto: Tipografia do Comércio, 1863, p. 14).

 

[Texto 2632]