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Linguagista

«Cognac», «stress»...

Um retrocesso

 

 

      «Chama-se conclave à reunião de cardeais que escolhem os papa porque, num passado remoto, ficavam trancados cum clave (à chave, em latim) numa sala. Ali ficavam, isolados e mal alimentados, o tempo que fosse preciso. O primeiro conclave data de 1241 e elegeu Celestino IV. O mais famoso realizou-se em Viterbo (onde o Papa da época, Clemente VI, tinha morrido). Começou em 1268, mas os cardeais estavam tão divididos que demoraram dois anos e nove meses a eleger Gregório X. Neste período foram impostas as regras da clausura e a do pão seco e água como únicos alimentos. No futuro seriam concedidas algumas comodidades aos sacerdotes em conclave. Em 1878, quando foi eleito Leão XIII, o carmelengo [sic] foi autorizado a comprar uma garrafa de cognac para aliviar o stress dos sacerdotes deprimidos pelo isolamento e parca dieta, apesar de o pão já não ser seco. Se algum quisesse uma garrafa só para si só [sic] com prescrição médica» («A importância do cognac na escolha do papa», Público, 10.03.2013, p. 30).

      O texto veio da Reuters, e por isso cognac ficou... cognac. Mas esta é a grafia francesa, porque aportuguesado é, e há muito tempo, conhaque. E é claro que stress podia traduzir-se por «tensão».

 

[Texto 2662]

«Exibir um moquenco»?

Vá-se lá saber

 

 

      «E o sr. Gaspar começa a exibir um moquenco de penitente que lhe vai muito bem. Mas, no meio disto, ainda ninguém respondeu à pergunta óbvia: onde está o dinheiro para o país continuar com o mínimo de decência e alguma dignidade» («Uma visita da autoridade», Vasco Pulido Valente, Público, 10.03.2013, p. 56).

      Não os do costume, mas todos os dicionários registam que moquenco é aquele que faz caretas ou momices; o que é humilde, envergonhado, indolente, preguiçoso. Em Bluteau, também é sinónimo de invencioneiro. Alguém conhece outra acepção? Não terá o cronista pretendido dizer mocanquice, isto é, trejeito, esgar?

 

[Texto 2661]

«Medo pânico»

Já Camões dizia

 

 

      Júlio Machado Vaz, volta não volta, diz «medo pânico», expressão que detesto. «Pânico. Escreve Roquete: “Terror pânico, sem fundamento. Usado (pânico) como substantivo é galicismo contrário ao uso da nossa língua.” Os Franceses dizem peur panique, isto é, terror pânico, sem motivo, ou sòmente une panique. Em português pânico é adjectivo, como aliás em grego o era. Em Nascentes, acerca de pânico, lemos: “grego panikos scilicet deuma, terror de Pã”. Camões em III, 67, redigiu: “Dum pânico terror todo assombrado,...” Epifânio comenta: “Pânico é adjectivo grego derivado do nome do Deus Pã...” (Cf. a sua edição de Os Lusíadas, pág. 167, I vol.). Por isto se vê que frases como a seguinte, vulgares em jornais, devem proscrever-se: “A população caiu em pânico.” Pânico terror estaria correcto. Camilo no Perfil do Marquês de Pombal, pág. 204: “o pânico terror que o conde exercia sobre os fidalgos”. Cp. Adjectivos (sua omissão).|| Cp. Ridículos. (D. D.)» (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, vol. 2, Vasco Botelho de Amaral, pp. 608-9).

 

[Texto 2660]