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Linguagista

Como se escreve nos jornais

Demasiado explícito

 

 

      «As ilustrações do livro “De onde vens?” (“Wo kommst du her?”) — um manual de educação sexual para crianças que mostra os vários níveis de excitação de um casal — estão a criar polémica na sociedade alemã, conhecida por ter uma atitude liberal perante o sexo. O bestseller, publicado pela primeira vez em 1991 pela editora Loewe Verlag, foi recentemente descontinuado, após várias queixas de pais, criticando-o por ser demasiado explícito» («Manual de educação sexual “demasiado explícito” é descontinuado», i, 27.04.2013, p. 10).

 

[Texto 2789]

«Antistresse»?

O inimigo dentro do jornal

 

 

      L. C. Lavado responde à pergunta sobre o que não lhe falta na mesa de trabalho: «Cubo de rubik [sic], como antistresse. Nunca consegui voltar a alinhar aquelas cores todas. Copo de água. A hidratação é importante em todas as ocasiões. Bloco de notas. Porque lá estão sempre boas ideias» (Vanda Marques, «Liv»/i, 27.04.2013, p. 13).

      De «estresse» é que teríamos «antiestresse»; de «stresse» só podíamos ter «anti-stresse». Curioso é que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora só registe «anti-stress», quando acolhe «stress», «stresse» e «estresse». Enfim, falta uma visão de conjunto.

 

[Texto 2788]

AO na AR

Vamos ver o que respondem

 

 

      «Uma petição com cerca de 4400 assinaturas foi ontem entregue em Assembleia da República (AR) para desvincular Portugal do novo Acordo Ortográfico e exigir “de uma vez por todas”, que os deputados “tomem uma posição perante o eleitorado”. Ivo Barroso, um dos peticionários, defendeu que o governo “não pode, por decreto, mandar a AR aplicar o acordo”» («Depois vais ter pena», Inês Teotónio Pereira, i, 27.04.2013, p. 6).

 

[Texto 2787]

«Despensa/dispensa»

Dispensamos

 

 

      «A advertência sempre me assustou um pouco. Sempre me fez lembrar uma espécie de anúncio de uma catástrofe que se advinha: “Ui, nem sabes o que aí vem... Depois não digas que eu não avisei.” Como se tivéssemos de encher a dispensa de enlatados e preparar-nos para o pior» («Depois vais ter pena», Inês Teotónio Pereira, i, 27.04.2013, p. 12).

      Para Tristão da Cunha Portugal, na sua Orthographia da Lingoa Portugueza, é que «adivinhar» ou «advinhar» era igual. Mas isso foi em 1856. Já quanto à confusão entre «despensa» e «dispensa», nem ao século XIX se pode ir buscar desculpa.

 

[Texto 2786]

Para lembrar

Perguntado pelo Imperador Adriano

 

 

      «Para procedermos nesta matéria com a clareza que desejo, vamos consultar ao Sábio Filósofo Secundo. Este grande homem sendo perguntado pelo Imperador Adriano, que cousa era a mulher, respondeu assim: A mulher é naufrágio do homem, tempestade da casa, cativeiro da vida, leoa abraçando, animal malicioso, e mal necessário» (Frei Amador do Desengano).

 

[Texto 2785]

Como se escreve nos jornais

Falta o resto

 

 

      Acabam de me mandar este título da página 4 da edição de hoje do Público: «Seguro acusa Cavaco de não acreditar na capacidade do povo criar soluções». Toda a sanha contra o Acordo Ortográfico (o acto mais antiliberal destes anos pós-25 de Abril), e depois isto. Qual é o leitor são de espírito que não estabelece nenhuma relação? Trata-se em ambos os casos da língua.

 

[Texto 2784]

«Toque hepático»

É só um toque

 

 

      Na última semana e meia, fui a cinco médicos. Três trataram-me, e respectivas assistentes, por Dr. e dois por Eng. E porquê tanta deferência hipócrita? Ora, porque não era no Sistema Nacional de Saúde, mas em clínica privada. Foram unânimes: tenho um toque hepático. Não explicaram nada, mas gostaram de dizer «toque hepático». Os dicionários — ao contrário do que fazem, mal, com «caução carcerária» — não registam a locução.

 

[Texto 2783]

«Com certeza»

Mais atenção, caramba

 

 

      «“O que acho dramático é que diabolizemos quem tomou decisões sobre matérias que vistas hoje se reconhece que foram erros. À época, quem as tomou concerteza que tinha objetivos em vista. A generalização desse tipo de investimentos, na altura, era comum”, considerou [Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos], em declarações aos JN, à margem de uma cerimónia comemorativa da Revolução de Abril» (Jornal de Notícias, 26.04.2013, p. 32).

      Ando eu aqui há dez anos a ensinar qualquer coisinha, e os jornalistas saem-se com estes disparates de criança de escola primária. É triste. É uma locução adverbial, é com certeza. A juntar ao Acordo Ortográfico, apetece mesmo ler...

 

[Texto 2782] 

«Possuir/ter»

Se fosse só isso

 

 

      Passa pela cabeça de alguém que saiba ler há mais de quatro anos substituir em todos os contextos o verbo ter pelo verbo possuir? Sim, pela cabeça de um jornalista: «Disse à polícia que pertencia à Al-Qaeda, mas certo apenas é possuir problemas psicológicos» («Tiroteio em Marselha faz três mortos e um ferido», Paulo Dentinho, Jornal da Tarde, 26.04.2013).

 

[Texto 2781]