Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Gentílicos em maiúscula

De vez em quando, lembram-se

 

 

      «Por onde quer que passe, D. Amélia é aclamada, numa demonstração de afecto que não esperava em tal dimensão. As visitas prosseguem mas a cobertura jornalística vai diminuindo, não fossem os Portugueses ficarem [sic] demasiado exaltados com a presença da sua rainha» («A rainha D. Amélia visitou Portugal em 1945 a convite de Salazar», José Alberto Ribeiro, «Q»/Diário de Notícias, 11.05.2013, p. 19).

      Para ser honesto, quem sabe que é assim (os poucos que parece saberem), e por isso escreve ou emenda nesse sentido, tem a oposição, tenaz e ignorante, da maioria.

 

[Texto 2838]

«Pespinete» ou «pespineta»?

Os dicionários não ajudam

 

 

      «Nas provas de admissão para o Conservatório, João Villaret recitou dois vilancetes e um soneto de Camões. “Recitei-os como eu os sentia e, no fim, o mestre, que era professor conceituado da casa, olhou-me com severidade e disse: O menino tem boa voz, mas os versos não se dizem assim, mas como se fossem prosa. E eu, muito pespinete, nervoso e irritado, respondi: Então porque é que são versos? E o mestre: O menino é insolente mas inteligente, está admitido.”» («João Villaret desafiou o modo como se dizia poesia», Maria João Caetano, Diário de Notícias, 10.05.2013, p. 46).

      «Desembarcámos os dois e um pespineta de um turco que não prestava para nada. Moço de câmara. Nós viemos para Belém; mas as coisas em Belém não deram muito acerto. Santarém é melhor» (Herta Teresinha Joan, Agostinho da Silva. Lisboa: Cotovia, 1990, p. 43).

 

[Texto 2837]

«Nada trespassou sobre o motivo»?

Nunca me avistei com ele

 

 

      «Insiste-se para que o escritor [Goce Smilevski] revele a sua opinião sobre o facto de Freud não ter levado as irmãs: “Este enigma nunca será resolvido porque as cartas onde poderá ter dado explicações sobre isso não foram reveladas e continuam guardadas pelos herdeiros do seu legado, que não permitem a sua leitura. Freud teve oportunidade de levar as irmãs consigo, como aconteceu com as outras pessoas de quem se fez acompanhar, mas não o fez. Porquê? Talvez um dia se venha a saber a razão, mas até agora nada trespassou sobre o motivo”» («A confissão da irmã abandonada por Freud», João Céu e Silva, «Q»/Diário de Notícias, 11.05.2013, p. 19).

      «Nada trespassou sobre o motivo»? Em sentido figurado, «trespassar» significa «transgredir». Não me parece que nenhuma das outras acepções se adeqúe ao contexto. Não será antes «transpirar», que, também em sentido figurado, significa «deixar transparecer; manifestar»?

 

[Texto 2836]

Inglês, o novo latim

Por preguiça, não vão querer

 

 

     «O ministro do Orçamento espanhol [Cristóbal Montoro] deseja ver os conteúdos estrangeiros que são transmitidos pela TVE, estação pública de Espanha, com legendas na língua original, no caso, em inglês» («Espanha discute troca de dobragens pelas legendas», Tiago Henriques, Diário de Notícias, 11.05.2013, p. 42).

     No caso? Mas qual caso? Ora, já suspeitávamos que não se aplicava a «conteúdos» em mandarim ou em tagalo. Os Espanhóis têm de aprender inglês, e o Governo acha que esta é a melhor maneira.

 

 

[Texto 2835]

«Chá das cinco»

Lá é às 4 e meia

 

 

      «Príncipe Harry tomou chá das cinco com Michelle Obama» (Diário de Notícias, 11.05.2013, p. 45).

      Investiguei e foi infusão de camomila o que beberam, ou seja, nem sequer um verdadeiro chá, o que não fica bem ao neto em 7.º grau (inventei: façam os leitores as contas) da imperatriz das Índias.

      «Em Portugal fala-se no five o’ clock tea, o chá das cinco. Na Inglaterra o que se diz é afternoon tea, chá da tarde, que o Inglês muito aprecia» (A Língua Inglesa e a Vida em Londres, Vasco Botelho de Amaral. Lisboa: Centro Internacional de Línguas, 1958, p. 192).

 

[Texto 2834]