Léxico: «gicleur»
Anglicizado
«“Aos 16 anos, a meias com o meu irmão, comprámos uma motorizada a cair de madura. O meu irmão desistiu logo porque aquilo dava muitas dores de cabeça. Eu andava com um alicate no bolso de trás dos calções porque como havia pouco dinheiro para a gasolina o gigler do carburador passava a vida a entupir. Sacava do alicate[,] desapertava o gigler, chupava, voltava a pôr e siga”, recorda [Pedro Branco]» («“Ainda estou aí para as curvas”», Maria Assunção Oliveira, Jornal Sénior, 9.05.2013, p. 22).
Talvez a jornalista ouça mal, ou então não sabe que há uns livros em que se encontram, por ordem alfabética, palavras de uma língua. Parece, assim deturpado, inglês, mas é francês: gicleur, que é, lê-se no Dicionário Francês-Português da Porto Editora, o «pulverizador do carburador; injector». Se, juntamente com o injector e outras peças, faz parte, pelo que vi, do carburador, não devia usar-se ali a palavra «injector». Os Brasileiros, práticos e com aquela relação leve com a língua, aportuguesaram para «giclê». Cá, só com autorização do papa ou referendo nacional. Talvez doseador, pulverizador ou calibrador fossem formas acertadas de nos referirmos a esta peça.
«Ali, naquela aquática vastidão deserta, sem remos, sem vela, sem probabilidades de auxílio externo, o maquinista desmontou o carburador, soprou no “gicleur” sobre a água do mar (e se ele lhe caía das mãos?) e, tornando a montar as peças, pôs a manivela em movimento» (Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa, António Augusto Mendes Corrêa. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1947, p. 57).
[Texto 2849]